segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O homem poderoso



O homem poderoso

Vivendo neste mundo material, o homem está sempre lutando pela própria sobrevivência, da mesma forma que também estão os animais. Assim como o animal selvagem, o homem também sempre possui algum nível de incerteza sobre o seu dia de amanhã, não podemos ter sempre 100% de certeza sobre se teremos o que comer ou um teto para morar e assim convivemos sempre com uma certa insegurança, alguns de nós mais preocupados e outros menos preocupados com futuro.

Esta insegurança e a natural busca por mais segurança a respeito do nosso futuro faz com que o homem busque automaticamente se tornar mais e mais poderoso. Pela lógica de que quanto maior o poder que possui, maior também a segurança contra quaisquer ameaças, vivemos sempre em busca de mais dinheiro ou mais status ou um melhor cargo numa posição de direção ou então quem sabe se tornar o próprio patrão e ter o poder de comandar as pessoas com quem se trabalha e não estar subordinado a ninguém etc.

Enquanto marcha em sua jornada por mais segurança para a sua vida e se torna mais poderoso, o indivíduo também se torna, mesmo sem perceber, cada vez mais e mais perigoso. Pois o homem poderoso é sempre um homem perigoso e vice-versa. 

Vejamos por exemplo o policial, mesmo sendo um policial honesto, ele desperta naturalmente um certo receio nas pessoas com quem ele lida no dia a dia, não só os bandidos o temem, mas também as pessoas normais ficam um pouco intimidadas com a figura da autoridade policial. Pode ser que nos sentimos intimidados as vezes por um receio de que possamos estar fazendo alguma coisa ilegal mesmo sem saber e temos medo então de sermos repreendidos pelo policial, ou então ao se fazer algum tipo de negócio com o policial podemos ficar com o receio de que caso algo saia errado (como por exemplo, caso ele não fique satisfeito com um produto que vendemos) o policial poderia vir a exigir uma reparação por meio de intimidação e até fazer alguma ameaça ou acusação indevida. É bem comum também que, sabendo deste receio que a maioria das pessoas possuem, alguns policiais gostem de exibir sua identificação ou sua farda mesmo quando tratando de assuntos particulares fora do serviço, é uma maneira de “impor respeito” através de uma intimidação natural que exercem.

O mesmo tipo de intimidação existe também naturalmente quando se lida com figuras como políticos por exemplo, ou pessoas muito ricas e poderosas ou até mesmo certos profissionais como médicos ou advogados famosos. Não é exatamente um receio de que possamos ser punidos por algo de errado que possamos fazer, mas sim um receio de que (caso esta pessoa não seja uma pessoa decente e honesta) ela possa fazer algum tipo de retaliação injusta caso não fique satisfeito com a nossa conduta, pois estas figuras que geralmente possuem poder, dinheiro, influencia, contatos políticos, amizades com autoridades de diversos tipos etc. Por isso é tão comum ainda hoje a famosa “carteirada” quando estes personagens exibem seus documentos de identificação esperando que fiquemos imediatamente intimidados ou então mais explicitamente soltem a frase arrogante: “você sabe com quem está falando?”

Mais óbvia é a relação entre poderoso e perigoso, quando falamos de pessoas ligadas ao crime, como o chefe do tráfico no morro, ou então os poderosos que não respeitam qualquer lei como o ditador impiedoso que comanda um país. Dentro de seus respectivos ramos de atuação, estas figuras estão sempre em busca de mais e mais poder e se tornam cada vez mais e mais perigosos dentro de suas organizações. E isto é uma conduta natural do “bicho homem”, exatamente como os primatas, o homem busca sempre mais segurança através da conquista de mais e mais poder dentro dos grupos de que participa, se tornando mais poderoso e mais perigoso para seus adversários.

Este caminho, que parece natural para a maioria das pessoas, é na verdade o caminho mais arriscado para quem realmente busca segurança e tranquilidade para a sua vida. Na sua jornada para se tornar poderoso/perigoso, tanto o animal social homem quanto o chipanzé conquistam diversos aliados e também diversos inimigos, de forma que a suposta segurança construída a partir de um suposto poder, se assemelha mais a um castelo de cartas, que quanto mais alto e imponente também mais frágil e mais fácil de cair. Como diz o ditado popular “quanto mais alto, maior o tombo”, os adversários naturais do homem poderoso estarão sempre tentando descobrir formas de derrota-lo e mesmo seus aliados são uma ameaça constante, não é à toa que ditadores e chefes de gangues de criminosos são sempre muito paranoicos e constantemente agem com extrema violência contra possíveis traidores. De forma parecida, os políticos (que deveriam estar sempre preocupados com a administração pública) passam quase todo tempo nos bastidores arquitetando alianças e tentando prever possíveis passos de seus adversários com medo constante de serem passados para trás. Até mesmo a autoridade policial que impõe o respeito às pessoas comuns vive em constante estado de alerta contra criminosos assim como também o rico arrogante está sempre preocupado com alguma denúncia ou alguma retaliação que algum desafeto poderia fazer.

A segurança obtida através do poder e da intimidação é sempre uma “faca de dois gumes”, ao se agir com arrogância e intimidar o mais fraco, o homem poderoso está sempre criando inimigos em potencial, ao mesmo tempo, a escalada social para as posições de destaque e poder é sempre um caminho cheio de disputas e traições e o homem poderoso e perigoso está sempre cercado de adversários invejosos e também inimigos declarados e não declarados.

Na contramão do senso comum, está o homem humilde que busca a sua segurança e tranquilidade na simplicidade. Ao contrário da maioria, este homem humilde busca propositalmente ser “o menor e o servo de todos” vejamos: 

Ao invés do cargo de direção, ele busca o cargo mais subalterno, pode até buscar naturalmente um salário melhor, através do estudo e da conquista de novas habilidades, mas procura abrir mão da posição de líder, posição esta disputada pelos seus colegas.

Quando possui posição hierárquica superior, ao invés de exibir sua posição, ele procura esconde-la, não deseja intimidar nem criar constrangimento, nunca esperando qualquer favor ou privilégio não disponível a todos.

Ignora títulos, honras e premiações, recusando qualquer tipo de distinção que possa faze-lo parecer melhor do que as pessoas comuns.

Não aceita promoções e benefícios que incluam a atribuição implícita de fazer vista grossa a qualquer coisa que considere errado, preferindo sempre a consciência tranquila no lugar do comprometimento com aqueles que possuem o poder.

Ironicamente, este homem que age de forma oposta ao senso comum, possui a tranquilidade e segurança que o homem poderoso não têm.

Por não possuir o chamado “rabo preso” este homem pode falar o que pensa procurando sempre a verdade e a justiça e sua voz é difícil de ser ignorada ou desmentida, pois as pessoas com quem ele lida sabem que ele não possui ambições políticas e motivos para mentir e dissimular, por isso fala também sem medo de retaliações de possíveis desafetos, possuindo paz de espírito e a consciência tranquila de que procura fazer sempre o que é certo sem se comprometer. 

Não está preocupado com o seu possível “tombo” porque procurando a humildade ao invés do status ele vive uma vida simples e consome coisas mais simples e não possui um status ou “casca” artificial de boa imagem pública que precise que defendida contra caluniadores.

Por causa do seu jeito simples ele também quase não provoca inveja de outras pessoas, suas roupas não são de grife e os bens que consome são sempre escolhidos pela utilidade ao invés do exibicionismo.

Não possuindo inimigos nem aliados que precisem ser combatidos ou bajulados ele pode, ao contrário do político, se preocupar apenas com o seu trabalho e por isso trabalha mais e melhor, sem gastar seu tempo tramando alianças e evitando traições.

Existem muitos homens assim, quase todos anônimos, mas algumas vezes alguns deles acabam adquirindo, mesmo sem querer, um certo destaque pela suas condutas e opiniões na sua luta constante por mais justiça e, ao mesmo tempo, conquistam também alguns adversários poderosos.

Mesmo nesta posição de destaque e lutando contra inimigos poderosos o homem humilde está mais tranquilo e seguro que o homem poderoso, seus adversários sabem que ele não pode ser subornado, sabem que ele não se venderá por cargos bem remunerados nem por títulos e posições de destaque, sabem que ele não procura a posição de liderança e se alguns o consideram como seu líder isso acontece contra a sua vontade de homem humilde. Resumindo, todas as ferramentas que servem para corromper o homem comum que busca obter segurança através do poder, não servem para comprar ou intimidar o homem humilde. 

Do ponto de vista dos poderosos, este tipo de homem, o homem realmente humilde, é o mais perigoso de todos os homens. As tentavas de difama-lo serão logo descobertas e os criadores das mentiras serão ridicularizados. As ofertas de suborno explicito ou disfarçadas de cargos, títulos, posições etc. serão recusadas imediatamente e aquele que tentar compra-lo será também exposto à reprovação pública. Este tipo de homem não teme nem mesmo a violência física contra si ou sua família, pois da mesma maneira que as calúnias e as tentativas de suborno, o agressor teme ser desmascarado rapidamente, pois uma agressão injusta contra uma pessoa de conduta irrepreensível provoca indignação geral e suspeita imediata sobre seus adversários.

O materialismo faz a maioria dos homens entrarem numa corrida louca em busca de tranquilidade e segurança através da obtenção de mais e mais poder, mas a fé em Deus e o conhecimento das suas leis faz com que o homem espiritualizado corra no sentido contrário. Desta maneira ele obtém maior segurança na sua vida de simplicidade do que a segurança instável do castelo de cartas do homem rico e poderoso. 

Mas a verdadeira segurança e tranquilidade que adquire o homem humilde é a segurança de estar agindo em nome do bem e a tranquilidade da consciência tranquila, e dentro deste estado de espírito de tranquilidade ele não teme nada, nem mesmo uma atitude louca e agressiva de algum adversário, pois como ensinou Jesus: “Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará”
  

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