quarta-feira, 23 de abril de 2014

O estigma de um povo


  O estigma de um povo



Sabemos que a miséria é uma das pragas mais presentes no mundo, principalmente em países da África, da Ásia e da América do Sul. Suas causas são as mais diversas e estão descritas nos anais das ciências sociais e humanas, não nos cabendo aqui apontá-las, mesmo porque nos falecem conhecimentos mais aprofundados sobre esse tema.

 No Brasil, ela está presente, em maior ou menor grau, em todas as regiões.

 Neste artigo nos limitaremos a tratar, mesmo que superficialmente, sobre a miséria vivida pelo povo sertanejo de um dos estados mais pobres da nossa Federação, situado na região semiárida nordestina, o Estado do Ceará, cuja “primeira investida organizada de exploração fez-se em 1603 (1)” por Pero Coelho de Sousa. Sua fundação oficial se deve a Martim Soares Moreno, em data de 20 de janeiro de 1612. Sua origem histórica é abundantemente relatada por dezenas de renomados historiadores, dentre eles Capistrano de Abreu, José de Alencar, Alencar Araripe, Tomás Pompeu de Souza Brasil, Joaquim Catunda, Raimundo Girão e muitos outros. Sua história é riquíssima em acontecimentos de repercussão nacional que influenciaram os destinos da nossa Nação, como a Libertação dos Escravos, por exemplo, para citar apenas este.

 O escritor Euclides da Cunha (1866-1909), em seu majestoso livro “Os Sertões”, qualifica de “retardatários” da civilização os milhares de pobres do campo que se rebelaram, durante um longo período da nossa História, contra a opressão e a injustiça, causando uma sequência de crises de ordem econômica, ideológica e de autoridade em várias partes do interior do Brasil, com maior ênfase na Região Nordeste.

 Foram fases dolorosas que marcaram indelevelmente a vida do sofrido povo nordestino. O mesmo autor de “Os Sertões” diz também que “... o heroísmo tem nos sertões, para todo o sempre perdidas, tragédias espantosas”. De fato, se possível fosse projetarmos como numa tela cinematográfica a pungente saga do sertanejo nordestino, assistiríamos a um desenrolar de inglórios sucessos.

 O seu eterno algoz é a seca, a causa fundamental de todos os seus infortúnios. Sua convivência com essa irregularidade climática remonta a muitos séculos, muito embora a ocorrência de secas no Ceará passe a ser oficialmente registrada somente a partir de 1692. Daquele ano aos tempos atuais, ocorreram cerca de cinquenta delas neste Estado. Suas causas ainda se perdem no “terreno incerto, duvidoso, às vezes fantasioso das hipóteses científicas”. (2) A reboque delas sempre vêm a fome, a miséria e as doenças. Nos anos de 1824/1825, associou-se àquela terrível estiagem, uma das piores de todos os tempos, a fome, a guerra civil e a peste da bexiga, uma espécie de varíola que não tinha cura. Estima-se que naqueles dois anos a população cearense tenha sido reduzida em 1/3, pelos efeitos das mortes pela fome, pela doença, pela guerra, pelos assassínios e ainda pela emigração e pelo recrutamento.

 Fazendas foram abandonadas e os sertões ficaram completamente desertos. Uma das mais prolongadas, que durou quatro anos, ocorreu entre 1790 e 1793. Naqueles anos, foi tão grande a fome que os sertanejos foram obrigados a comer urubus, carcarás, cobras, ratos, couros de bois, xique-xique, mandacarus, mandioca brava etc. Mulheres eram obrigadas a vender a honra para ter o que comer. Houve até mesmo casos de antropofagia, como o de um infeliz irmão que, no Município de Lavras, procurou “vender ou trocar por farinha um resto de carne humana de que se alimentava. Alguns cadáveres foram encontrados que conservavam nos membros semidevorados os sinais de extremo desespero das vítimas da fome”. (3)

 O seu outro verdugo é o monopólio da terra pelos grandes proprietários. Dizia Luiz Carlos Prestes (1898-1990) que “... está no latifúndio, na má distribuição da propriedade territorial, no monopólio da terra, a causa fundamental do atraso, da miséria e da ignorância do nosso povo”.

Estes dois fatores antes citados são as principais causas da fuga do sertanejo nordestino para outras plagas em busca da sobrevivência. Essa fuga, principalmente para os centros urbanos mais desenvolvidos, provoca o inchaço demográfico, agravando ainda mais as mazelas e as misérias de ordem social e econômica do País, desaguando no aviltamento moral do homem, o primeiro passo para a deflagração da violência como assistimos neste momento da nossa História.

 Quedamo-nos sempre a questionar o porquê de determinados povos ou pessoas carregarem em si o estigma do sofrimento ou da violência. Muitos há que chegam a pôr em dúvida a Misericórdia Divina ao permitir – argumentam – que uns vivam indefinidamente na bonança e no gozo das coisas terrenas, enquanto outros, ao contrário, só de amarguras atravessem toda uma existência terrena.

 Por que o sertanejo nordestino, a exemplo de outros povos, como os nossos irmãos africanos, estão fadados a viver, podemos dizer, em luta permanente contra a miséria e a fome? Por culpa e/ou injustiça de Deus? Evidentemente, não, pois Ele é isento de todo e qualquer atributo de natureza inferior, por tratar-se de um Ser eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

 Nenhum de nós que habita este velho Planeta de provas e expiações está isento de culpas. Cada um de nós tem atrás de si um pretérito delituoso pelo qual temos responsabilidade perante Deus. Por havermos recebido Dele a faculdade moral do livre-arbítrio, somos responsáveis diretos pelas nossas dívidas e delas não temos avalistas.

 A Doutrina Espírita tem a chave para a explicação da questão na tese lógica e racional da justiça da reencarnação ou palingenesia. Por meio dela temos a oportunidade de resgatar nossos vultosos débitos, contraídos durante inumeráveis jornadas no corpo carnal, pela violação das leis morais ditadas pelo Criador do Universo.

 Somos regidos tanto pela Lei de Ação e Reação, segundo a qual “a cada um será dado de acordo com as suas obras”, quanto pela Lei da Evolução que nos assegura a certeza do evolver moral que nos conduzirá à perfeição dos Puros Espíritos.


 Bibliografia:

 1. Raimundo Girão em <Evolução Histórica Cearense>


O chamado


O chamado



  Clássica no movimento espírita é a parábola dos trabalhadores da última hora, tratada por Allan Kardec no capítulo XXI de “O evangelho segundo o Espiritismo”, que aborda este pelo viés da missão dos espíritas como trabalhadores da última hora.

 Perdoe o leitor a ousadia deste articulista, mas vamos propor nas breves linhas desse artigo uma outra abordagem da parábola citada, extraindo dela novos conhecimentos, não competindo, mas agregando valor.

 De forma resumida, a parábola apresenta o senhor que sai a cada hora do dia para recrutar trabalhadores para a sua vinha e, no momento da remuneração, recusa a boa matemática das horas trabalhadas e remunera a todos da mesma maneira; o que causa revolta nos trabalhadores das primeiras horas. 

 A parábola ilustra que a remuneração não é o mais importante e que para além do “toma-lá-da-cá”, do salvacionismo individualista, o importante é o trabalho na vinha, onde, ao ouvir o “chamado”, atendendo-o, já recebemos o nosso galardão.             

 E esse chamado, em nossa opinião, se apresenta como o tema central da parábola, mostrando o convite permanente do senhor da vida para o trabalho na vinha. De forma metafórica, cada hora representa uma fase de nossa vida, na qual recebemos chamados ao trabalho, cuja necessidade se faz de forma constante. Na juventude, na infância, na madureza e na melhor idade, recebemos convites do senhor de forma incessante, ainda que nos façamos, por vezes, distraídos.

 Pode-se dizer também que as horas da parábola representam as nossas diversas reencarnações, nas quais em cada uma delas Deus aposta em nós, nos oferecendo mais uma oportunidade de crescimento. A reencarnação é o chamado e precisamos identificar nesta oportunidade a soma de pequenas missões que nos cabem. 

 E a cada dia, recebemos chamados... Acolhemos alguns, recusamos outros, pela preguiça ou pela ignorância, perdendo oportunidades valiosas. Quando atendemos cada chamado, nos incorporamos à vinha, fonte de crescimento que nos remunera, independente da hora em que acudimos ao chamado. 

 Isso significa o fim do mérito? Que basta apenas tomar-se uma decisão? Não; significa que essa decisão é fundamental, mas o que é importante é a vinha! A parábola não se prende àqueles que desperdiçam o chamado e sim àqueles que foram recrutados, indicando o fluxo incessante de trabalho para o qual somos convidados, e que essa é a nossa fonte de evolução.

 Necessitamos ficar atentos aos chamados, em cada hora da vida. A parábola demonstra que a remuneração é a mesma, indicando o valor de todas as oportunidades como ferramentas de evolução. Sempre há esperança, sempre é hora de mudar, agora é a hora. Essa é a mensagem!

 Mais relevante que a última hora é a nossa entrada no trabalho, o nosso alistamento nas fileiras do Cristo, nas múltiplas inflexões, grandes ou pequenas, que experimentamos nas diversas encarnações. A cada subida de degraus, ganhamos nossa recompensa, independentemente se ascendermos antes ou mais tarde, dependendo isso de nossa maturidade espiritual e de nosso empenho.

 Cada um a seu tempo, de acordo com seu esforço, atendendo aos chamados que se apresentam. Ao receber o chamado, é preciso se posicionar, enfrentar a vinha e seus desafios. 

 Outro dia nascerá e o senhor necessitará de mais trabalhadores, a cada hora. A última hora de hoje pode ser a primeira de amanhã. Ser a última hora não é ser a última bolacha do pacote e sim se mostrar disposto à renovação, que necessita de esforços e persistência para se materializar em evolução.

 Tornarmos a nós mesmos trabalhadores da vinha é o fim pretendido, independente da hora em que soar o nosso gongo interior. A parábola fala sobre a justiça de Deus e sobre o sol da evolução que brilha sobre todos. A lei é de amor e justiça, somos filhos de nosso pai e o nosso destino é amar. A vinha nossa de cada dia nos espera e a última hora é agora.


terça-feira, 22 de abril de 2014

Quando suspenderam as materializações


 Quando suspenderam as materializações


Houve uma fase em que os fenômenos de efeitos físicos e de materialização de Espíritos eram comuns, principalmente no século 19, começo e meados do século 20. Nas décadas de 20, 50 e 60, desse último século, tinha um centro espírita em cada esquina para quem quisesse ver se os “mortos voltavam para contar”. 

Médiuns de materialização surgiam em toda a parte, incluindo-se embusteiros e suas fraudes grosseiras, médiuns vaidosos e interesseiros que mistificavam para manter o prestígio. Daí, mais e mais controvérsias, mais oponentes ferrenhos que, até hoje, se aproveitam dessas antigas imposturas para confundir e depreciar o Espiritismo, difamar médiuns comprovadamente autênticos e honrados.1

 Certos adversários dizem que os fenômenos não passam de uma espécie de psicose coletiva produzida pelo “inconsciente”. Sem nos determos em outros conceitos do esdrúxulo vocabulário de alguns “parapsicólogos”, existem diversos modos de ver os fenômenos espirituais. Portanto, por conta da neofobia, da postura cristalizada do establishment científico, da falta de interesse, do exclusivismo milagreiro e dogmático com seus rituais e supostos exorcismos, tem-se menoscabado a realidade espiritual.

 Por falar em médiuns dignos, nos anos 50 do referido último século, ocorreram impressionantes fatos no campo dos efeitos físicos por intermédio de Chico Xavier. Segundo Arnaldo Rocha, que foi casado com Meimei, várias Entidades se materializaram, entre as quais o próprio Guia Espiritual do famoso médium mineiro. O artista plástico Joaquim Alves, o Jô, naquele tempo da Federação Espírita do Estado de São Paulo, participou dessas reuniões e reproduziu as presenças materializadas em lindos desenhos. (Só sinto, ao menos, não terem gravado a voz dos Espíritos como fizeram os ingleses George Woods e Betty Greene.2)

  “Surgiu esplendorosa figura masculina, uma magnífica materialização”, conforme relatou Rocha. Em uma das reuniões da qual participou, a certa altura dos acontecimentos, de súbito, entre sussurros comovidos, saiu alguém da cabine, conta ele, enquanto Chico se mantinha em transe. “Sim, era mesmo Emmanuel, bem diante de todos, cujo porte de atleta, estatura cerca de 1,90 m, irradiava intensa luminosidade”, segundo ele. E exclamando, Rocha disse: “Ali estava o abnegado servidor de Cristo, o ex-senador romano!”. E continuando o comovente relato, descreveu:

 Sua voz clara, forte baritonada, suave, mas enérgica, impressionou-nos muito. Via-se no largo tórax um luzeiro multicolorido e, na mão direita, segurava uma tocha luminosa. Contudo, disse aos presentes: “Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física, todavia, o livro é a chave que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão, a partir deste momento, dessas reuniões.”3

 Materializações nunca mais

“A partir daquela data, Chico, a disciplina em pessoa”, concluiu Rocha, “nunca mais materializou nenhum Espírito”. Naturalmente, para Emmanuel, convinha a Chico o emprego de uma outra sua faculdade, famosa pelas sublimes obras produzidas: a psicografia. Chegara, portanto, o tempo de ele se pôr a serviço daquilo que tanto contribui com a Doutrina Espírita: os livros psicografados  — as belíssimas, instrutivas e consoladoras obras subsequentes.

 Assim, entenderam  suspensão das reuniões de efeitos físicos, o que só dizia respeito a Chico, por  proibição do desenvolvimento de todo médium de efeitos físicos e de possíveis materializações de Espíritos em todos os centros espíritas brasileiros. Consoante maioria dos dirigentes, apenas se deve acolher a teoria filosófica e religiosa da Doutrina, embora o próprio Emmanuel, por intermédio de Chico, tenha dito, anos seguintes, que a materialização é um “tesouro”, “um núcleo respeitável do Espiritismo fenomênico, suscetível de acordar as mais nobres convicções dentro da esfera moral de nossa consoladora Doutrina, atraindo corações para a Verdade e para o Bem, nas legítimas finalidades das nossas tarefas com Jesus”.4

 Creio que as recusas aos efeitos físicos, muito provavelmente se baseiem no que escreveu a respeitável escritora e psicógrafa Yvonne A. Pereira. Ela chegou a escrever, “sob orientação do Espírito Bezerra de Menezes”, que seriam dispensáveis as materializações “quando já estamos bastante preparados para compreender e assimilar a Doutrina Espírita”.5 

 Yvonne Pereira assegurou que o tempo áureo das materializações pertence ao passado e que os grandes Espíritos não se interessam mais por esse gênero de manifestação. Disse ela: “Ficaram entregues a  entidades de ordem medíocre e inferior (grifei), não existindo qualquer respaldo em nenhum dos cinco livros básicos da Doutrina”.

No entanto refutou o escritor e pesquisador espírita Rafael Américo Ranieri, ex-delegado de polícia e ex-secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo:

 ... Kardec não recusou absolutamente as reuniões de efeitos físicos ou de materialização. Tanto que as classificou n’O Livro dos Médiuns como dignas de seus estudos. Não poderia ele, de forma alguma, recusar os fenômenos mais probatórios da existência do mundo espiritual e de Espíritos que vivem numa faixa vibratória diferente da nossa. E não o fez. O que ele nos ensinou é que no “seu tempo” esses trabalhos eram sempre realizados por Espíritos menos esclarecidos. “Menos esclarecidos”, e não atrasados, inferiores, maus, perversos...6




 Notas e referências: 

 1   Em 1964, o Espiritismo sofreu sórdida campanha cometida por cinco famosos repórteres da influente extinta revista O Cruzeiro, os quais, com o apoio de um perito criminal, denegriram a inteireza de 19 médicos que pesquisaram e atestaram a mediunidade de efeitos físicos de Otília Diogo, em Uberaba, MG. Além de caluniarem os médicos e a médium, difamaram até Chico Xavier que tomara parte das materializações como espectador. Até nos dias de hoje, nos tempos da Internet, insistem em covardemente reeditar a vergonhosa infâmia, na vã ilusão de infamar nomes tão idôneos quanto dignos, e ainda respaldados por certos “espíritas” omissos.

 2   NETO, Geraldo Lemos.  Mandato de amor.  4. ed. Belo Horizonte: União Espírita Mineira, 1997. Páginas 76 a 80.

 3   Bem fizeram George Woods e Betty Greene que registraram, em 1945,  uma grande quantidade de vozes em gravador do tipo fita magnética de rolo, tendo em vista a divulgação de mensagens de voz direta de diversos Espíritos, dentre elas as do célebre Mahatma Gandhi, Frédéric Chopin, Bernard Shaw e outros pelo médium inglês físico de voz direta, Leslie Flint (1911/1994).

 4   Mensagem do Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, cedida a Ranieri por Esmeralda Bittencourt em 1.o de janeiro de 1954.

 5   PEREIRA, Yvonne A.  Recordações da mediunidade. 6. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1989. Capítulo 5.o, p. 89.

 6   RANIERI, R. A. Materializações luminosas   —  depoimento de um delegado de polícia. Do 1ọ  ao 5ọ  milheiro. São Paulo, s/d: Federação Espírita do Estado de São Paulo. P. 199.

 7    O Evangelho segundo Lucas, cap. 24, vers. 27, 31, 36 e 37, 44 a 45.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Há fundamento de que a praga de mãe é irreparável?


PERGUNTA: - Há fundamento de que a praga de mãe é irreparável?

RAMATÍS:  A força destruidora da praga ou maldição depende fundamentalmente do grau de sua veemência odiosa e do vínculo fluídico que exista entre a pessoa que amaldiçoa e a que é amaldiçoada. Obviamente, entre mãe e filho existe o mais profundo vínculo psicofísico, pois a mãe gera-lhe o corpo carnal no ventre durante os nove meses tradicionais, e ainda sofre todos os impactos da natureza espiritual boa ou má do descendente, pela fluência ou troca de fluidos mentais e emotivos entre ambos, durante alguns anos e acima dos laços comuns consanguíneos.
Ademais, segundo a Lei do Carma, os pais e filhos tanto podem ser inseparáveis amigos como os piores inimigos enlaçados pelo pretérito. No primeiro caso, eles estarão unidos pelo amor, e, no segundo, imantados pelo ódio! Há filhos cuja conduta mercenária e exploração dos pais, leva-os a cometimentos tão censuráveis, que as pragas maternas encontram um terreno fértil para medrar sem qualquer apelação. As mães não costumam maldizer os filhos amorosos, bons' e laboriosos e os lembram em suas preces e rogativas a Deus. E aquelas que, por qualquer contrariedade filial, rogam pragas num desabafo ou desespero sobre os filhos gerados para a sua própria redenção espiritual pregressa, são como as crianças imprudentes, que lançam a esmo o brinquedo chamado bumerangue, e depois são atingidas no retorno, com redobrada violência.
Alhures já comentamos que a ira, a cólera, o despotismo e o ódio produzem fluidos tão tóxicos na vestimenta espiritual do homem, que ao verterem para o "mata-borrão" vivo do corpo físico produzem moléstias incuráveis e as aflições mais indesejáveis. As explosões mentais ou verbais contra o próximo, convertendo-se na carga tóxica gerada pela mente sob o combustível do ódio, raiva ou vingança, após atingir o objetivo colimado, encorpam-se com os fluidos mórbidos da vítima e retomam centuplicadas em sua natureza agressiva contra o próprio autor!
A maldição de mãe é a mais funesta de todas as maldições, porque além de produzir o fluido virulento, próprio da criatura encolerizada, age com extrema rapidez através dos laços íntimos forjados na própria gestação materna. Os fluidos destrutivos, mobilizados pela praga de mãe, causam inevitável desgraça porque ferem o próprio vaso carnal a que ela deu vida.

PERGUNTA: - Obviamente, a praga de mãe é realmente irreparável?

RAMATÍS: - Isso depende da intensidade da força do ódio da mãe que maldiz, como também do grau de culpa do filho!

PERGUNTA:  Há fundamento de que a praga de madrinha também é difícil de se conjurar?

RAMATÍS:  Conforme a tradição católica consagrada pela cerimônia do batismo, a madrinha é a substituta da própria mãe. O ritual do batismo é uma cerimônia respeitosa, que confirma severa obrigação espiritual dos padrinhos junto à pia batismal, comprometidos de protegerem o afilhado na ausência dos pais ou em circunstâncias infelizes. Ninguém é obrigado a batizar qualquer criança, mas, depois de fazê-lo, seja sob a égide católica, protestante, espírita ou umbandista, terá de cumpri-lo, sob pena de sofrer imensas desventuras no mundo espiritual! Embora saibamos que as cerimônias religiosas do mundo, derivadas de dogmas e "tabus" do passado, jamais poderão modificar a essência íntima do espírito, elas podem despertar forças ocultas e ajustar os pensamentos sob o mesmo tema espiritual. Durante o batismo processam-se fenômenos de "imantação" pela convergência de fluidos que são mobilizados pelos pais, padrinhos e pelo próprio afilhado, compondo-se um amálgama ou vínculo de grave compromisso espiritual entre os presentes até o fim da existência carnal. A madrinha e o padrinho assumem espontaneamente, em espírito, a obrigação de cuidar do filho virtual e adotivo, que lhes é oferecido através da cerimônia do batismo. O ritual apenas consagra no mundo profano aquilo que já foi deliberado no mundo espiritual! 3
 


3 - Nota de Ramatís: - Despreocupa-nos cuidar se as crianças devem ou não devem ser batizadas, pois, segundo a doutrina espírita, todas já nascem sob o batismo amoroso de Deus. Em verdade, o homem salva-se pelas suas obras, e não por suas crenças. Mas a cerimônia ainda é um hábito que se justifica pelos acontecimentos mais importantes na vida humana. Há cerimônias na esfera científica, durante a consagração de um sábio ou evento incomum; na esfera política, marcando o triunfo eleitoral ou a vitória diplomática. Na colação de grau de doutorandos, há discursos, juramentos, flores, becas, trajes novos, ritual de entrega de diplomas, evocações saudosistas dos falecidos ou homenagem aos veteranos. A cerimônia, portanto, é uma "confirmação" ou "memorização", no mundo de formas, até que o homem possa manifestar-se na sua autenticidade espiritual.

Evidentemente, se a madrinha assume perante a Divindade o compromisso espiritual de substituir a mãe do ente que aceita por afilhado, ela também fica vinculada a ele por laços ocultos avivados durante o batismo. Dali por diante, tanto a sua bênção como a maldição transmitem-se rapidamente sobre o afilhado ou "filho adotivo", sob a mesma vinculação de mãe e filho! Daí a veracidade do senso popular, quando diz que "praga de madrinha" é tão forte como a "praga de mãe"!


Do Livro: “Magia De Redenção” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

sábado, 19 de abril de 2014

Traumas afetivos







Traumas afetivos






A mídia costuma divulgar as grandes tragédias coletivas, como enchentes e guerras.

Ela também trata com frequência de eventos ruidosos, a exemplo de assassinatos, assaltos e outros crimes violentos.

Entretanto, há um gênero de conduta discreta e bastante comum, que causa enorme número de vítimas.

Trata-se das lesões afetivas.

As relações humanas nem sempre se estabelecem com o critério desejável.

Movidas por carências ou mesmo por leviandade, as criaturas estabelecem vínculos sem grandes reflexões.

Elas se conhecem em variados ambientes, como no trabalho, em clubes, em bares ou mesmo pela internet.

Sem indagar da existência de real afinidade, permitem-se importantes intimidades.

O conhecimento da essência de alguém demanda tempo e convivência.

Ninguém se mostra como é em rápidos e reduzidos contatos.

Por conta da afoiteza em estabelecer vínculos, é comum o desespero em extingui-los.







Nesse jogo de conhecer, provar e descartar, as pessoas são tratadas como objetos.

Contudo, o ser humano sempre é merecedor de respeito.

Por mais que se apresente frágil e lamentável, em seus hábitos, trata-se de uma criatura de Deus.

A ninguém é lícito iludir o semelhante.

Por vezes, a criatura a quem se experimenta, no jogo dos sentidos, possui graves problemas íntimos.

Como enferma emocional, deveria ser alvo dos maiores cuidados.

Quem a despreza assume grave responsabilidade em face da vida.

As angústias que a vítima vivenciar, os atos que vier a praticar a partir dos maus tratos recebidos, serão debitados a quem lhes deu causa.

É muito importante refletir a respeito das expectativas que se suscita no semelhante.

Pouco importa que os costumes sociais sejam corrompidos e que condutas levianas pareçam comuns.

Cada um responde pelo que faz.

Quem lesiona afetivamente o semelhante vincula-se a ele.







Na conformidade da ordem cósmica, a consideração e a fraternidade devem reger o relacionamento humano.

Aquele que se afasta desses critérios candidata-se a importantes padecimentos.

Trata-se da vida a ministrar os ensinamentos necessários para a educação de cada Espírito.

Assim, ninguém lesa o semelhante sem se lesar também.

Quem provoca sentimentos de inferioridade e rejeição desenvolve complexos semelhantes.

Até que repare o mal que causou, não terá paz e nem plenitude.

Se forem muitas as lesões afetivas perpetradas, imenso será o esforço necessário para cicatrizá-las.

Convém refletir sobre isso, antes de iniciar e terminar relações, sem maiores critérios.

Afinal, será preciso reparar com esforço todo o prejuízo causado com leviandade.







Nada acontece por acaso


Nada acontece por acaso


  
Toda vez que se registra algo inusitado, imprevisível, inesperado, costumamos atribuí-lo ao chamado acaso, um tema que já foi analisado nesta revista em diversas oportunidades.(1)   

 Fizeram a Emmanuel a seguinte pergunta: – O “acaso” deve entrar nas cogitações da vida de um espiritista cristão?

 Emmanuel respondeu: “O acaso, propriamente considerado, não pode entrar nas cogitações do sincero discípulo da verdade evangélica. No capítulo do trabalho e do sofrimento, a sua alma esclarecida conhece a necessidade da própria redenção, com vistas ao passado delituoso e, no que se refere aos desvios e erros do presente, melhor que ninguém, a sua consciência deve saber da intervenção indébita levada a efeito sobre a lei de amor, estabelecida por Deus, cumprindo-lhe aguardar, conscientemente, sem qualquer noção de acaso, os resgates e reparações dolorosas do futuro”.   (O Consolador, obra psicografada pelo médium Chico Xavier, pergunta 186.)

 Lemos no livro  Conduta Espírita, de André Luiz, estas duas recomendações:

“Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam  sorte, acaso,  sobrenatural,  milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.”  (Conduta Espírita, obra psicografada pelo médium Waldo Vieira, capítulo 13.)

“Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis. O espírita está informado de que o acaso não existe.”  (Obra citada, cap. 18.)

 O escritor J. Herculano Pires, na obra Na Era do Espírito, escrita em parceria com Chico Xavier e Espíritos diversos, anotou:

“Os familiares desagradáveis são hoje o que deles fizemos ontem. Nada acontece por acaso, sem razão, em nossas vidas.”  (Na Era do Espírito, cap. 2.) 

“Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos Espíritos faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o progresso.”  (Obra citada, cap. 3.)

 Os fatos que nos cercam, as provações que nos acometem, os sucessos e os insucessos da vida, nada disso deve ser atribuído ao acaso, à sorte ou ao azar, porque tais coisas são fruto da chamada lei de causa e efeito, que é retratada no caso Letil, narrado por Kardec no cap. VIII da 2ª Parte do livro Céu e Inferno, que adiante resumimos:

 Letil foi um industrial que residia nos arredores de Paris e teve, em abril de 1864, uma morte horrível: incendiou-se uma caldeira de verniz fervente e ele, num piscar de olhos, foi atingido pela matéria candente. Letil, embora vendo que estava perdido, ainda teve ânimo de caminhar até o seu domicílio, à distância de mais de 300 metros. Quando lhe prestaram os primeiros socorros, suas carnes dilaceradas caíam aos pedaços, desnudando os ossos de uma parte do corpo e da face. Ainda assim, sobreviveu por doze horas, em meio a cruciantes sofrimentos, conservando, porém, até o fim perfeita lucidez. 

 Devidamente assistido no mundo espiritual, Letil narrou na Sociedade Espírita de Paris como ocorreu a sua desencarnação e a causa de sua expiação. “Vai para dois séculos – disse ele – mandei queimar uma rapariga, inocente como se pode ser na sua idade – 12 a 14 anos. Qual a acusação que lhe pesava? A cumplicidade em uma conspiração contra a política clerical. Eu era então italiano e juiz inquisidor; como os algozes não ousassem tocar o corpo da pobre criança, fui eu mesmo o juiz e o carrasco.” 

Dirigindo-se a todos os que deploram o esquecimento das vidas passadas, Letil exclamou: “Oh! vós, adeptos da nova doutrina, que frequentemente dizeis não poder evitar os males pela insciência do passado! Oh! irmãos meus! bendizei antes o Pai, porque, se essa lembrança vos acompanhasse à Terra, não mais haveria aí repouso em vossos corações”. “Como poderíeis vós, constantemente assediados pela vergonha, pelo remorso, fruir um só momento de paz? O esquecimento aí é um benefício, porque a lembrança aqui é uma tortura.”  (Céu e Inferno, 2ª Parte, cap. VIII, Letil.)


CONVERSÃO

CONVERSÃO 

       “E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.” — Jesus. (LUCAS, capítulo 22, versículo 32.)

Não é tão fácil a conversão do homem, quanto afirmam os portadores de convicções apressadas. Muitos dizem “eu creio”, mas poucos podem declarar “estou transformado”. As palavras do Mestre a Simão Pedro são muito simbólicas. Jesus proferiu- as, na véspera do Calvário, na hora grave da última reunião com os discípulos. Recomendava ao pescador de Cafarnaum confirmasse os irmãos na fé, quando se convertesse. Acresce notar que Pedro sempre foi o seu mais ativo companheiro de apostolado. O Mestre preferia sempre a sua casa singela para exercer o divino ministério do amor. Durante três anos sucessivos, Simão presenciou acontecimentos assombrosos. Viu leprosos limpos, cegos que voltavam a ver, loucos que recuperavam a razão; deslumbrara-se com a visão do Messias transfigurado no labor, assistira à saída de Lázaro da escuridão do sepulcro, e, no entanto, ainda não estava convertido. Seriam necessários os trabalhos imensos de Jerusalém, os sacrifícios pessoais, as lutas enormes consigo mesmo, para que pudesse converter-se ao Evangelho e dar testemunho do Cristo aos seus irmãos. Não será por se maravilhar tua alma, ante as revelações espirituais, que estarás convertido e transformado para Jesus. Simão Pedro presenciou essas revelações com o próprio Messias e custou muito a obter esses títulos. Trabalhemos, portanto, por nos convertermos. Somente nessas condições, estaremos habilitados para o testemunho.

Obra: Caminho, Verdade e Vida
Emmanuel / Francisco Cândido Xavier

Elucidações de Ramatís sobre a significação da cerimônia do "lava-pés" - Semana Santa.




PERGUNTAE que nos dizeis quanto à significação da cerimônia do "lava-pés", tradicionalmente consagrada pela Igreja Católica Romana na Semana Santa. Há algum fundamento em tal consagração?

RAMATÍS:  João Batista, o profeta solitário, havia instituído algumas cerimônias com a finalidade de incentivar certas forças psíquicas nos seus adeptos através da concentração ou reflexão espiritual. Isso impressionava os neófitos e servia para a confirmação da própria responsabilidade aos valores espirituais. Em sua época os símbolos, ritos, talismãs e as cerimônias ainda produziam louváveis dinamizações das forças do espírito ou impunham respeito e temor religioso. Eram recursos que serviam como "detonadores" das forças psíquicas, produzindo profunda influência esotérica nos seus cultores, assim como ainda hoje fazem os sacerdotes para o incentivo da fé e do respeito dos fiéis, como são os cânticos, perfumes, a música e o luxo nas igrejas. Por isso, João Batista instituiu a cerimônia do batismo para os heófitos, cuja imersão nas águas dos rios e dos lagos funcionava como um catalizador das energias espirituais, deixando a convicção íntima e benfeitora da "lavagem dos pecados" e conseqüente renovação do espírito para, o futuro. Aquele que se julga realmente purificado de seus pecados, depois vive de modo a não se manchar tão facilmente. Mais tarde, João Batista também organizou a cerimônia do "lavapés", que simbolizava um evento fraterno e humilde, como um sentido de igualdade ou denominador comum entre todos os discípulos e o próprio Mestre. O "lava-pés" era a cerimônia que eliminava a condição social, o poder político, a superioridade intelectual ou a diferença entre

(5) um: — Cremos que parte do pensamento da Nota de Jesus nesse breve discurso aos seus apóstolos, na hora da última ceia, encontra-se referido mais aproximadamente em Lucas, XX — 14, 15, 16 e 18. Neste último versículo, o termo é "não tornarei a beber do fruto da vida", que é a uva, enquanto Ramatís diz que Jesus se referiu ao vinho. (6) João, XIII, vs. 4 e 5.
os adeptos e o Mestre atuantes sob a mesma bandeira espiritual. No momento simbólico do "lavapés" o senhor seria o irmão do servo e também o serviria, porque ambos seram herdeiros dos mesmos bens do mundo.

Jesus, humilde e tolerante, aceitou ambas as cerimônias com todo o enlevo de sua alma e deixou-se batizar pelo Batista, no rio Jordão. Mais tarde, e já no limiar da grande ceia, ele também deu forma à cerimônia tradicional do "lava-pés" entre os seus próprios discípulos, como um ensejo simbólico que deveria evocar os elos de amizade já existentes entre todos. Mas os seus fiéis amigos ficaram bastante preocupados com o fato de Jesus antecipar a cerimônia tradicional do "lava-pés" para a quarta-feira, a qual deveria ser feita comumente na sexta-feira da semana da Páscoa. Mas a verdade é que o Mestre Jesus não guardava dúvidas quanto à sua situação cada vez mais desfavorável perante o Sinédrio e às autoridades romanas, pois algo lhe dizia que seria sacrificado antes do domingo de Páscoa. Deste modo, ele decidiu-se a proceder a cerimônia do "lava-pés" na quarta-feira, após a grande ceia, em vez de esperar a sexta-feira tradicional, pois seria a sua última demonstração de confiança no Pai. Depois de ter enxugado os pés dos seus discípulos, auxiliado por Tiago, Jesus ergueu-se e alçou a voz, exortando-os para que prosseguissem corajosamente na divulgação da "Boa Nova" e do "Reino de Deus", e jamais se conturbassem mesmo diante da morte. Relembrou-lhes os. motivos fundamentais de sua amizade e união espiritual, revivendo os ensinamentos de libertação do Evangelho, enquanto recomendava o amor incondicional, o auxílio à pobreza, o perdão aos algozes, o afeto aos delinquentes e a compreensão fraterna às mulheres infelizes. Salientou a força do espírito eterno sobre a carne perecível; exortou para que os seus fiéis amigos jamais tisnassem a beleza do Cristianismo fazendo conluios com os poderes organizados do mundo de César. A mensagem cristã deveria ser divulgada tão pura quanto os lírios dos vales; pois de nada valiam as honras do mundo material ante a vida imortal. Encheu-os de esperanças novas pela breve chegada do "Reino de Deus" e incentivou os para uma vida heróica em sintonia com os princípios mais elevados da redenção e libertação da humanidade!
Ante a dor, o espanto e a consternação de seus discípulos, que lhe bebiam as palavras repassadas de melancolia e pesar, Jesus voltou-se para Pedro, cujas faces estavam marcadas de profunda angústia e disse-lhe, de modo eloqüente e profético: "Pedro, doravante tu serás um pescador de homens, e não de peixes! Sobre tua fé e sinceridade eu fundamento a minha Igreja!
Seja-te o dom do bom falar, do bom ouvir e do bom agir para o serviço do Senhor!"
Pedro caiu de joelhos, os olhos marejados de lágrimas perante o Mestre Amado, enquanto os demais apóstolos mal podiam esconder sua comoção. Judas, no entanto, estava cabisbaixo e roído de ciúmes, incapaz de esmagar o orgulho e o amor próprio feridos ante qualquer distinção ou preferência no colégio apostólico.
Jesus encerrou a cerimônia tocante do "lava-pés", e achegando-se a João, enternecido, fez-lhe amena rogativa:
— João! Minha mãe é tua mãe, porque somos irmãos perante o Senhor! Na minha falta, sê tu o seu filho! Em seguida, fez menção de sair, enquanto Pedro e João apressaram-se a acompanhá-lo; da porta, voltou-se, dizendo a bodos ainda sob profunda emoção espiritual:
— Vós sois meus apóstolos; pregai a palavra do Senhor e anunciai a Boa Nova do Reino dos Céus sobre a Terra. A vontade do Pai se manifesta em mim e devo cumpri-la, porque, a hora do meu testemunho é chegada!
Ante a emoção dolorosa que anuviou o coração de todos os discípulos, pela primeira vez denominados os seus "apóstolos", Jesus afastou a cortina e o seu vulto majestoso desapareceu nas sombras da noite estrelada, envolto pela brisa perfumada do jardim de Gethesamani.

Do livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes

terça-feira, 15 de abril de 2014

Capítulo 2 Unidade cósmica

Capítulo 2
Unidade cósmica
PERGUNTA: - Sendo de senso comum esse "novo" entendimento da Unidade
cósmica, desse Todo que está em nós, o que se dará com as religiões e os sentimentos de
religiosidade?
RAMATÍS: - Deixareis de buscar Deus nas coisas exteriores e encontrareis a
Divindade no templo interior que está em vós. A crença na existência de forças sobrenaturais,
seja qual for o nome com que as diversas instituições religiosas as denominam, tendo em
comum serem criadoras do Universo e da vida manifestada em vossa dimensão, deixarão de ser
impostas por tal ou qual religião, essa ou aquela doutrina, pois a prerrogativa de adoração será
individual, de cada cidadão, e não haverá "posse" das verdades ocultas em nome das
instituições terrenas. A "obrigatoriedade" de reverência às coisas sagradas, de fé fervorosa, de
devoção a um culto ou ritual, serão premissas de menor significação enquanto vinculadas aos
templos, igrejas, sinagogas, centros, lojas, terreiros, enfim, às associações ou organizações
religiosas dos homens, já que será um estado de consciência coletiva de que sois participes da
Unidade cósmica e divina que é Deus, estando em vós exclusivamente essas potencialidades
sublimes e de despertamento crístico.
A fraternidade será a liga que sustentará a tolerância diante das diferenças religiosas, e
o amor cimentará a religiosidade dos homens acima das religiões.
PERGUNTA: - Mas, e as instituições terrenas que abrigam as crenças
individuais numa saudável convivência, deixarão de existir?
RAMATÍS: - Não. Serão antes de tudo locais de encontros fraternos em que se
participarão ideais ligados à religiosidade. Com a comprovação pela ciência da existência das
dimensões paralelas e de mundos habitados por consciências em outras formas de energia e
matéria, como tendes em vossa dimensão, e da preexistência do espírito e das leis cármicas e
reencarnacionistas, as diferenças separativistas das diversas religiões cairão por água quais
frágeis castelos de areia levados pelas ondas do mar. Os pontos em comum serão maiores que
as diversidades doutrinárias, o que fará diminuir sensivelmente os sectarismos e imposições
dogmáticas, ficando claro a todos que no Cosmo não prepondera uma religião ou doutrina, mas
sim o amor que a todos acolhe como o bom pastor com as ovelhas desgarradas.
PERGUNTA: - Por outro aspecto, por que as religiões da atualidade, em
especial as do Ocidente, se mostram "frágeis" diante dos questionamentos e necessidades
espirituais da humanidade?
RAMATÍS: - Criou-se uma situação anacrônica que está deixando as religiões sem
respostas aos amplos questionamentos dos homens hodiernos. Diante do enorme manancial de
informações que jorram de todos os meios, do avanço tecnológico aos novos exames de DNA
de vossa ciência, as criaturas se encontram em meio a um tufão de dados, em que a liberdade
de expressão em todos os campos faz estabelecer excessiva ansiedade, quando não, quadros
depressivos, ambos agravados por um anacronismo, à inexistência de respostas satisfatórias
pelas religiões instituídas aos anseios espirituais dos cidadãos terrícolas.
Poderíamos alcançar-vos muitas respostas. Talvez a mais importante seja que as
verdades divinas, tais como as apresentadas pelas religiões no Ocidente, e de certa maneira
também pelos instrutores do Oriente, haja vista as constantes guerras por diferenças de
religiosidade entre eles, não estão se mantendo à altura do desenvolvimento intelectual da
humanidade, do espírito humano.
PERGUNTA: - Quais os motivos que fazem surgir tantos novos cultos, aliado ao
interesse cada vez maior pela astrologia, numerologia, cabala, rituais xamânicos, magia,
entre demais vertentes de conhecimento esotérico e ocultista, que estão "desviando" as
pessoas das religiões mais ortodoxas?
RAMATÍS: - Os que buscam realizar os seus anseios espirituais encontram nas
religiões instituídas há alguns séculos as mesmas respostas, palavras e idéias, que não mais os
satisfazem nas suas necessidades de entendimento racional das coisas do Além, do divino,
místicas. Situação que num mundo dinâmico e, repleto de "novas" informações, faz com que
vos sintais qual criança ouvindo história da vovó para bem dormir sem medo do bicho-papão.
Aliado ao fato de que vos pedem que creiais sem dúvidas, porém sem levar-vos a um estado de
compreensão que faça despertar a fé com a razão, que alicerça a busca do divino em bases de
serenidade e paz individuais.
Malgrado o maior conhecimento espiritualista, da imortalidade do espírito, da
anterioridade da vida e do ciclo reencarnacionista "aliviarem" muitas de vossas perquirições, as
consciências que estão se formando neste início do Novo Milênio são mais "arejadas", como se
fossem pássaros que guardam seus ninhos em uma árvore da floresta, mas que têm de voar
sobre todas para entenderem a geografia da mata que os abriga. Podeis inferir que as situações
dogmáticas que não estão apropriadas para a mentalidade da Nova Era vos incentivam a
procurar e a conhecer as outras árvores que oxigenam as verdades divinas.
Ademais, questionai-vos se o Cristo-Jesus estivesse encarnado entre vós, na atualidade,
se Ele sentir-se-ia à vontade em uma única religião ou doutrina, em igrejas, templos, lojas ou
centros, no meio dos cerimoniais, pompas, distinções hierárquicas, ou diante dos tribunos
espiritualistas de enorme cabedal de conhecimentos, mas que diante da primeira oposição
doutrinária se mostram impacientes, intolerantes com as diferenças, e "proprietários" da
verdade.
As respostas religiosas apresentadas aos homens ao longo dos tempos têm impedido o
seu crescimento espiritual. Os pensamentos e interpretações humanas até os dias hodiernos
turvam a chama crística interna em toda a sua potencialidade iluminativa. Os atavismos e as
fanáticas ilusões humanas ainda obscurecem o viver crístico, que não requer poderosos e
mandatários externos para o despertamento amoroso, que é prerrogativa individual, sendo os
"novos" cultos e vertentes milenares de conhecimentos, esotéricos e ocultistas, somente árvores
de uma mesma floresta que é toda amor e compreensão.
Afirmamos que, no mais das vezes, o "desvio" de rumo das religiões e doutrinas
excessivamente ortodoxas é necessário para que encontreis as estradas que vos satisfaçam no
rumo dos anseios espirituais. O fato de se "praticar" uma religião, doutrina ou filosofia não
deve obstar o que o Cristo-Jesus admitia e sustentava quando afirmava: "Também tenho
ovelhas que não são deste redil."
PERGUNTA: - É cada vez maior no Ocidente o interesse para com as teologias e
filosofias orientais. Podeis falar-nos algo a respeito?
RAMATÍS: - Esse maior interesse é uma conseqüência natural da vossa busca
pela espiritualidade; o que no Oriente é de muitos milênios, para vós são somente alguns
séculos. Os orientais sempre têm colocado Deus como Imanente, existente no mais fundo de
cada ser humano, levando-vos a compreender que sois partícula desse Todo. Os ocidentais têm
mostrado um Deus Transcendente, fora do seu universo pessoal, como mero observador.
Esse "mergulhar" nas filosofias orientalistas dá ênfase a um Deus em todas as coisas e
seres, e em toda a forma criada no mundo manifestado, pois a imanência a tudo envolve,
embora Deus em si seja Imanifesto, fato que ainda não compreendeis plenamente. Deus tudo
interpenetra, sendo que toda a vida no Cosmo, em suas mais variadas manifestações, Dele
provêm, como se fossem fragmentos. A relação de cada criatura com Deus lhe é inerente. Os
hindus cantam: "Ele está mais próximo que o alento, mais próximo que as mãos e pés."
Essa situação também se prende ao fato de que muitos espíritos de formação oriental
estão encarnados no Ocidente, e os do Ocidente encarnados no Oriente. O racionalismo
pragmático do ocidental aprende a ser místico e contemplativo com as coisas divinas. A
acomodação do oriental, algo demasiado asceta, menosprezando os embates da vida e seus
processos, fundamentadas na crença de que as oportunidades de evolução são infinitas, que se
perpetuam pelo evo dos tempos, por isso há de se negar a matéria, se vê "sacudida" pela cultura
ocidental. Todos evoluem diante da sabedoria das leis cósmicas.
PERGUNTA: - Não são excessivamente complexos, para o homem simples e
comum; os conceitos de planos dimensionais, universos paralelos, corpos sutis, orixás,
Umbanda, Apometria, entre outros, que tendes trazido neste início de Terceiro Milênio?
RAMATÍS: - Há uma gradação no acesso aos conhecimentos ocultos e
metafísicos. Ocorre que tendes de andar de mãos dadas com a ciência, que neste milênio
"imporá" aos homens muitas verdades negadas pelos espiritualistas mais "conservadores" ao
longo dos tempos. Novos prismas do saber vos chegam, em especial os relacionados com as
funções e finalidades de algumas áreas cerebrais, quais a inteligência, a memória e os
sentimentos, em que se confirma que essas "faculdades" não se encontram restritas a um local
específico da massa cerebral, mas estão distribuídas por todo o órgão, cada parte possuindo o
conjunto que pode expressar, sendo espécie de holograma mental, logo não físico. A ciência
mostra que não existe uma contrapartida no órgão cerebral para a inteligência, a memória e os
sentimentos, levando-vos a concluir por algo extrafísico. E, assim, inexoravelmente, ocorrerá
com as dimensões paralelas, as ondas de freqüências superpostas, os planos dimensionais em
diferenças de densidade e outras formas de energias "imateriais", entre vários exemplos atuais.
Deveis estar sintonizados com a realidade que vos cerca. O "excessivamente complexo"
não deve inibir os homens simples e comuns, na maioria amorosos, mas incentivá-los a buscar
o entendimento das questões espirituais. Certo está que não há nenhum constrangimento no
acesso a esses "novos" conhecimentos. Deveis realizar vossos anseios de conformidade com a
capacidade de compreensão inerente às conquistas da individualidade imortal que ressoa em
vós, do inconsciente para o consciente, em forma de disposições, impulsos e talentos naturais,
não contrariando vosso modo de ser. A liberdade nos dias hodiernos libera os homens comuns
e simples das imposições dos avantajados em conhecimento, que por si não significa sabedoria.
PERGUNTA: - As "doutrinas" que pregam experiências espirituais com
beberagem de ervas são um meio válido de adquirir novas experiências e conhecimentos?
RAMATÍS: - Há de se distinguir os rituais religiosos realizados com veneração e
respeito para com as coisas do Além-túmulo e do Plano Astral, em que acatais com deferência
respeitosa as" doutrinas" de todas as tribos e procedências culturais que já estiveram e estão
estabelecidas na Terra, de alguns homens que se arvoram em procurar as respostas às suas
curiosidades espirituais, fugazes e imediatas, destituídas de quaisquer reverências respeitosas,
imbuídos que estão de ideais egoísticos. Nesse sentido, as substâncias do herbanário xamânico
e indígena das várias localidades planetárias, originalmente utilizadas em rituais tribais, estão
algo distorcidas pela ansiedade dos homens hodiernos na busca do sensório nas lides
espirituais. Por si sós, nas dosagens manipuladas pelos xamãs e pajés de todas as épocas, são
inofensivas e instrumentos válidos no contexto espiritual que as utiliza para fins
exclusivamente curativos, restritas aos "sacerdotes" desses rituais, que têm as atribuições
mediúnicas de se comunicarem com as diversas potências vibratórias do Cosmo, inclusive
espíritos de animais. O restante da coletividade tribal era assistida por esses médiuns,
preparados por anos e anos pelos caciques curandeiros, e sem participarem diretamente da
beberagem ritualística das ervas.
PERGUNTA: - Em alguns cultos, que propositadamente aos leigos são ditos de
Umbanda, passa-se a noção de que os orixás são senhores do nosso destino, mas em outras
linhas de pensamento espiritualista aprendemos que, pouco a pouco, devemos nos tornar
senhores de nós mesmos, no sentido de termos mais responsabilidade com nossos
pensamentos e ações. Isso é correto?
RAMATÍS: - Não deveis classificar como correto ou incorreto. Quando assim
procedeis, tendeis a considerar vossa doutrina, crença ou religião, melhor, superior ou mais
verdadeira que as demais. Considerai que as interpretações divinas estão de acordo com os
grupos conscienciais que se aglutinam em volta de uma determinada crença ou conjunto
doutrinário, e que os anseios espirituais dos prosélitos são realizados de acordo com a sua
capacidade de entendimento, que, por sua vez, determina o tipo de linguagem utilizada na
comunicação. Quantos de vós sois conduzidos em vossos destinos sem o saberdes? As normas
da empresa que vos remunera, a legislação de trânsito, os códigos penal, civil e comercial, a
massiva e intensa mídia televisiva que vos robotiza, citando alguns exemplos diários de vossa
vida que não podeis escolher, ao contrário da vossa fé.
Na atualidade, os homens vão aonde encontram o melhor adubo para as suas almas, e os
arames farpados dos senhores da verdade não cerceiam mais o ir e vir na busca da divindade,
anulados que se encontram pela liberdade de expressão de cada cidadão. Por outro lado, os
campos verdejantes são vastos, e nem todos estão preparados, pela grande diversidade
evolutiva dos terrícolas, para terem a responsabilidade por seus destinos em si mesmos, de
responderem pelos seus atos e ações para a ascese espiritual.
Requerem, como crianças repetentes que estão sendo mais uma vez alfabetizadas, que a
professora os pegue pela mão e os ensine nos primeiros traçados das letras, sob ameaça de
severos deveres de casa para apresentarem no dia seguinte, se assim não permitirem.
PERGUNTA: - Como podem alardear aos leigos, em nome de uma crença,
entidades espirituais que se afirmam senhores dos homens? Além do que, muitas vezes
apresentam demonstrações de emoções primitivas, materiais, como a vingança, as ameaças,
a imposição do medo. Essa classe de espíritos poderia ser senhora das nossas vidas, se eles
próprios demonstram ter emoções bem humanas?
RAMATÍS: - Deixemos claro que os orixás não são espíritos, não encarnam e não
têm os sentimentos e as emoções dos homens. Para os homens comuns entenderem essas
vibrações cósmicas, associaram-nos a conjuntos arquetipais humanos, facilitando a vossa
compreensão do que sejam, já que o tema é bastante abstrato. Essas interpretações
originalmente fizeram parte do panteão africanista, eminentemente oral na transmissão dos
conhecimentos, o que esteve de acordo com as consciências em vários momentos de vossa
história. Infelizmente, ainda hoje se fazem entender os orixás dessa forma humanizada, mais
em aspectos negativos, para causar devoção, medo e assim obterem respeito. Se isso ainda
ocorre em vários locais terrenos, é porque os encarnados precisam dessa "leitura"
antropomorfa, que, nesse caso, mostra-se incompleta, pois semelhante aos homens somente em
seus defeitos, e nada em suas qualidades divinas, também existentes em todos vós. Aguardai o
tempo, fiel e incansável professor das almas no educandário cósmico dos seres em ascensão
eterna. A Perfeição Absoluta é única, Deus, por isso sempre haverá muitos degraus à frente da
caminhada de qualquer um. Sendo assim, estendamos as mãos no amor para com todos os
irmãos de jornada.
PERGUNTA: - Vemos muitas pessoas "incomodadas", buscando respostas para
as suas perguntas em varias doutrinas, cultos, seitas, religiões e filosofias. Para alguns, isso
é contraditório. O que poderia dizer aos companheiros que têm esse tipo de curiosidade
espiritual?
RAMATÍS: - Continuai buscando realizar os anseios que vos "incomodam". Quem
pergunta tem sede de saber, e o ato de buscar essa saciedade em mais de uma vertente
demonstra a infinita sabedoria divina que não colocou todas as respostas numa única doutrina,
culto, seita, religião ou filosofia da Terra, situação que ainda fomenta as diferenças
separatistas, necessárias ao aprendizado da tolerância e fraternidade, mas que tendem a
desaparecer no futuro de igualdades que unificam no sentimento amoroso.
A água que saciará espiritualmente a sede dos homens, seres integrais no Cosmo, verte
de diversas fontes, e há um movimento de convergência na coletividade planetária entre
ciência, religião e filosofia, irreversível nesta Era de Aquário.
PERGUNTA: - Esses "novos" conhecimentos são necessários para a
compreensão de que somos seres multidimensionais ou só servem para fortalecer o intelecto
de alguns nas lides espiritualistas?
RAMATÍS: - O intelecto avantajado, quando estais encarnados, é uma conquista
do espírito na sua caminhada existencial e demonstra "dilatação" mental. Nas situações em que
tendes de lidar com as questões metafísicas facilitar-vos-á o entendimento. Se entendeis o
fortalecimento intelectual pela aquisição de "novos" conhecimentos como manifestação
vaidosa, das intermináveis e áridas elucubrações que no fundo são para demonstrar quem mais
sabe, turvando os sentimentos amorosos, simples em essência, tomai precaução; tal
interpretação denota equívoco, pois o envaidecimento não se sujeita ao saber, embora possa
dele auferir bruxuleios incentivadores. O conhecimento é um dos alicerces evolutivos que fará
reluzir qual pepita de ouro o discernimento, mas associado ao amor, como se fosse perfeito
amálgama que constitui a verdadeira sabedoria espiritual.
PERGUNTA: - Por que a Apometria? Muitos a consideram uma técnica
complicada, difícil, servindo para alimentar a vaidade daqueles que têm instrução vasta e
variada das coisas da ciência e do espírito. O que tendes a dizer?
RAMATÍS: - Assim como o conhecimento pode ser ferramenta da vaidade para
alguns, um impulso psicológico que flui dos espíritos presos ao ego inferior, também o é a
repulsa de muitos diante do "novo", pelo receio desmesurado de se verem sem a "posse" do
conhecimento atual, como se fosse raro cristal guardado a chave em armário intocável para a
maioria.
O livre-pensador do Terceiro Milênio "tudo" vê, questiona, estuda e submete ao crivo
da razão, sem receios e sem sectarismos. Os espiritualistas em geral deverão dar um passo
adiante nos estudos dos postulados básicos das doutrinas que professam. Não bastam somente
congressos, seminários, simpósios e palestras que retumbam num mesmo diapasão, em que
qualquer nota musical diferente ao ouvido, acostumado a uma mesma melodia, é rechaçada
prontamente. A sinfonia cósmica é feita de todos os acordes em harmonia.
Há de se rever as atividades separatistas para que se estabeleçam esforços, a fim de
desenvolver o ponto central do ofício espiritual, que são as ações redentoras das almas em
nome do amor que unifica a todos, que não tem procedência nas religiões ou doutrinas dos
homens, pois provém do inesgotável manancial cósmico, crístico, ficando as diferenças
doutrinárias em segundo plano.
Repetindo-nos: os homens não poderão negar suas potencialidades psíquicas, recursos
válidos para socorrer, curar e liberar as consciências do aguilhão da dor e do sofrimento,
mantendo indefinidamente os espíritos desencarnados como mentores que "tudo" fazem e
resolvem, numa atitude de passividade temerosa com as coisas do Além. Essa dependência
exagerada é um condicionamento milenar das religiões punitivas de outrora que ainda
repercutem no psiquismo das atuais personalidades encarnadas.
As incompreensões quanto à Apometria são frutos mais dos homens "fundamentalistas"
e "ortodoxos" do que da sua "complexidade". Ademais, a progressividade que requerem os
trabalhos com o Além está de acordo com vosso atual estado consciencial, e o "novo" é
descartado muito mais pelas idiossincrasias, pelos personalismos de certos dirigentes, que
alegam "regulamentos" doutrinários, que esse ou aquele mentor desautoriza, quais crianças
diante da primeira professora, do que pela Espiritualidade Superior e seus precursores
iluminados ao longo da história dos homens, como o foram Allan Kardec, Buda, Krishna,
Jesus...
PERGUNTA: - Ficamos confusos. Poderíeis nos dar maiores detalhes diante de
vossa afirmativa: "Apometria é um conhecimento milenar e mais antigo que o homem na
Terra"?
RAMATÍS: - Essas técnicas magnéticas separatórias dos corpos mediadores e de
criação de campos de forças, hodiernamente classificadas como anímico-mediúnicas, sempre
foram utilizadas pela Espiritualidade, em toda a história da humanidade terrena. Desde
Atlântida e do antigo Egito já eram do conhecimento dos iniciados, magos brancos, no interior
dos templos. Os sacerdotes, em rituais próprios, executavam operações magnéticas de extrema
delicadeza, despolarizando as cargas positivas e negativas que mantinham a união dos corpos
mediadores, e com cantos e mantras, estalar de dedos ou suave bater de palmas, induziam os
discípulos aos transes mediúnicos, desprendendo-os em corpo astral ou mental, excursionando
ao mundo extrafísico que palpitava em volta, em relatos verídicos clarividentes. Os guias
espirituais desencarnados acompanhavam os discípulos nas viagens às regiões adredemente
escolhidas, auxiliando na cura dos enfermos e complementando a educação e os conhecimentos
em outra dimensão espaço-temporal.
A magia que fundamenta e ampara as leis apométricas foi e é a mesma de todas as
épocas, pois o infinito manancial cósmico de energia, causa primária de toda a harmonia do
Universo, é imutável. O acesso amplo a esses conhecimentos é que obedece a uma gradação
prevista pelo Alto, coerente com vossas consciências. Uma das bases principais da Apometria é
a Física. Ora, a "sua" equação matemática que mensura a matéria e suas variáveis para
determinação do que sejam a massa de elétron, a Constante Universal de Planck, a freqüência
do raio gama e a velocidade da luz sempre existiram, bem como a infinita energia que "ocupa"
o espaço em sua imensidão de faixas vibratórias e se encontra disponível à mente educada e de
conformidade com seu degrau evolutivo, pois não podeis entender e movimentar aquilo que
ainda não está em vós. Nesse raciocínio, afirmamos que era a comunidade terrícola que ainda
não tinha conquistado o direito a esses conhecimentos, até o século vinte, assim como ocorreu
com a lei gravitacional, a codificação do genoma humano, os processos organogenéticos e de
embriogênese, entre tantos outros exemplos que reforçam essa realidade, que é só uma faceta
do grande depósito de conhecimentos que estão aos poucos vos chegando e sendo
"decodificados".
PERGUNTA: - Afinal, o que é Apometria aos vossos "olhos"?
RAMATÍS: - A Apometria é uma técnica que permite com razoável facilidade a
um grupo de médiuns treinados a indução para estados de desdobramento dos corpos
mediadores; em especial o etérico, o astral e o mental. É também importante ferramenta de
criação de campos de força. Não basta somente o conhecimento da técnica em si, mas é
fundamental a egrégora (1) que se forma durante os trabalhos, pois é proveniente de cada elo
da corrente a sustentação mental para que o "lado de cá" possa agir em padrões vibracionais
que normalmente exigiriam grande dispêndio de energia e esforço das falanges socorristas que
dão apoio a esses trabalhos de cura desobsessivos.
1 - Egrégora - São aglomerados de moléculas do Plano Astral, que tomam forma quando são
criadas pelo pensamento nítido e constante de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, e passam a
'viver' magnetizadas por essas mentes. Tais criações podem apresentar vários tipos: 'anjos de guarda' ou
'protetores', quando fortemente mentalizados pelas mães para a custódia de seus filhos, e sua ação será
benéfica; podem servir de perseguidores, obsessores, atormentadores, quando criados por mentes
doentias; podem ser formas que se agregam à própria criatura que as cria mentalmente e as alimenta
magneticamente.
Têm capacidade de resistir, para não se deixar destruir pelo pensamento contrário. São comuns
esses agregados ao redor das criaturas, obra puramente do poder mental sobre o astral. Assim, são vistas
formas mentais de ambições de ouro, de desregramento sexual, de gula, de inveja, de secura por bebidas
alcoólicas ele.
Essas aglomerações, quando criadas e mantidas por magnetização forte e prolongada de
numerosas pessoas (por vezes, durante séculos e milênios), assumem também proporções gigantescas,
com poder atuante quase irresistível. Denomina-se, então, um egrégoro. E quase todos os grupos
religiosos o possuem; alguns pequenos, outros maiores, e às vezes tão vasto que, como no caso da
Igreja Católica de Roma, estende sua atuação em redor de quase todo o planeta, sendo visto como uma
extensa nuvem multicor, pois apresenta regiões em lindíssimo dourado brilhante, outras em prateado,
embora em certos pontos haja sombreado escuro, de tonalidade marrom-terrosa e cinzenta. Isso
depende dos grupos que se elevam misticamente e com sinceridade, e de outros que interferem, com
pensamento de baixo teor (inveja, ódio de outras denominações religiosas, ambições desmedidas de
lucro etc). Há também as egrégoras de grupamentos outros, como de raça, de pátria etc. Funcionam
quase como uma 'bateria de acumuladores que são alimentados pelas mentes que os cria', como
escreveu Leadbeater ('Plano Astral', pg.118).
Logicamente, quanto mais forte a criação e a alimentação, mais poderoso e atuante se torna esse
ser "artificial", muitas vezes cruel com seu próprio criador, pois não possui discernimento do bem ou do
mal e age automaticamente com a finalidade para que existe. - Carlos Torres Pastorino, Técnica da
Mediunidade, páginas 182/83 - 2" edição, 1973.
PERGUNTA: - Quais seriam as principais utilidades da Apometria para os
benfeitores espirituais?
RAMATÍS: - Os médiuns, estando desdobrados e participando conscientemente
dos trabalhos de cura, tornam-se valiosos instrumentos para o "lado de cá". O ato volitivo do
medianeiro, quando dissociado em seus corpos, como se afrouxássemos o magnetismo que
mantém os vossos corpos astrais acoplados ao complexo físico e etérico, faz desse ato que
dispara os pensamentos um gerador ativado que fornece abundante energia animal,
fundamental quando utilizada em prol da assistência de desencarnados e encarnados
enfermiços, permitindo-nos atuar com mais desenvoltura em freqüências vibratórias mais afins
com vossos fluidos e vibrações, o que se coaduna com o estado geral dos assistidos nesses
trabalhos, espíritos densificados na matéria e perturbados, com transtornos dos mais variados
sintomas.
Ademais, os médiuns videntes desdobrados, que assistem o atendimento ao paciente,
também desprendido, todos no Plano Astral, relatam o que está ocorrendo aos demais
medianeiros, criando egrégora mental coletiva muito importante para as canalizações das
energias manipuladas, havendo maior eficácia nessas manipulações e que repercutirão
positivamente no corpo somático dos atendidos pela força centrípeta do corpo astral, advindo
desse fato os precisos diagnósticos, cirurgias e curas nos grupos apométricos.
PERGUNTA: - Existem "vantagens" da técnica apométrica se comparada a
outras atividades espiritualistas de cura e desobsessão?
RAMATÍS: - Não se trata de mais vantagens. Onde há o amor e a caridade
desinteressada, a assistência benfeitora sempre se faz presente. Embora a dinâmica da
Apometria seja abençoado bálsamo que alenta os sofredores das mais diversas procedências,
não deveis vos sentir superiores nas vossas lides com o Além. A dilatada abrangência da
técnica apométrica e as precisas diagnoses espirituais realizadas nos mais complexos casos,
não dispensam, para a obtenção da cura espiritual, o merecimento individual daqueles que
procuram seus serviços de caridade. Nada mais do que injunção das leis de harmonia que
regem o Cosmo; do contrário, cairíeis na azáfama dos milagreiros, que a tudo resolvem e
fazem, quais pregadores em praças públicas.
Por outro lado, o visível aos vossos olhos e a vossa participação mais ativa nas lides
com o Além não vos colocam em situação mais vantajosa diante de outras atividades
espiritualistas de cura e desobsessão, pois, quando o merecimento da cura se impõe, é comum
buscarmos os medianeiros no sono físico e atuarmos em grupo de desencarnados e encarnados
desdobrados nos hospitais do Astral, ocorrências que são rotineiras e não se prendem às
doutrinas e crenças terrenas, de tal feita que se todos os médiuns solicitados tivessem
rememoração posterior desses trabalhos, ficaríeis estarrecidos com a regularidade e o
universalismo com que eles acontecem. Imbuídos dos ideais de amor e caridade, que não têm
religião e não se limitam a vossa acanhada compreensão do sentimento crístico que prepondera
no Cosmo, juntamos nessas viagens astrais médiuns xamãs, projeciologistas, iogues,
umbandistas, esotéricos, católicos, espíritas, entre outras denominações, em grupos afins para o
amparo e as curas.