domingo, 31 de agosto de 2014

Momento Espírita: APRENDENDO A DESPRENDER-SE



Bonnie foi internada duas semanas antes do Natal, para uma cirurgia e estava muito preocupada. Além dos quatro filhos para cuidar, ela pensava nas compras, presentes e enfeites a providenciar.

Quando abriu os olhos, após a cirurgia, olhou ao redor e viu algo semelhante a uma floricultura.

Buquês de flores se enfileiravam sobre o parapeito da janela. Cartões se empilhavam sobre a mesinha de cabeceira.

O marido lhe disse que os amigos haviam preparado refeições para a família e se ofereceram para cuidar das quatro crianças.

Mais flores, disse a enfermeira, entrando no quarto e interrompendo os pensamentos da convalescente.

Acho que vamos ter de mandar a senhora para casa, disse sorridente. Não temos mais espaço aqui.

Enquanto Bonnie lia os cartões, ouviu alguém dizer:

Gostei das flores.

Era a companheira de quarto. Uma mulher de mais ou menos quarenta anos, portadora de Síndrome de Down.

Ginger gostava de falar e não se cansava de dizer que estava ali para que o doutor desse um jeito no seu pé. Contou que morava em companhia de outras pessoas e desejava voltar a tempo para poder participar da festa de Natal.

Enquanto Ginger foi para a cirurgia, Bonnie ficou olhando o quarto. O seu lado estava florido. O outro lado, nada. Nenhum cartão, nenhuma flor.

Vou oferecer a ela algumas de minhas flores, pensou.

Foi até a janela e escolheu um arranjo de flores vermelhas. Mas, recordou que o arranjo ficaria muito bonito em sua mesa de Natal.

E continuou encontrando desculpas: as flores estão começando a murchar... A amiga que ofereceu ficaria ofendida... Poderia enfeitar a casa com aquele arranjo...

Resultado: ela não conseguiu se desfazer de nenhuma. Voltou para a cama e pensou que, no dia seguinte, quando a loja abrisse, iria pedir para que entregassem algumas flores à companheira.

Ginger voltou da cirurgia e uma funcionária do hospital lhe trouxe uma guirlanda verde de Natal, com um enfeite vermelho, colocando-a pendurada acima da sua cama.

No dia seguinte, a enfermeira retornou para dizer a Ginger que ela iria para casa.

Ela ficou feliz. Arrumou os seus pertences enquanto Bonnie se entristeceu. A floricultura do hospital só iria abrir dali a duas horas.

Será que ela deveria oferecer uma das suas flores?

Ginger se sentou na cadeira de rodas para ser conduzida pela enfermeira. Mas, apanhou a guirlanda verde, aproximou-se de Bonnie e, levantando-se com certa dificuldade, a abraçou, deixando o enfeite em seu colo.

Bonnie não conseguiu dizer nada. Segurou a pequena guirlanda nas mãos, com os olhos úmidos. O único presente de Ginger e ela o tinha oferecido.

Então ela entendeu que Ginger possuía muito mais coisas do que ela mesma.

*   *   *

Há muita gente escravizada ao que não tem e muita alma livre do que possui.

Verifique onde você se enquadra e busque se transformar em anjo da ação bem dirigida, convertendo o que lhe chegue às mãos em bênçãos e alegrias mantenedoras da vida.


 com base no cap. Tudo é
meu, de Bonnie Shepherd, do livro Histórias para o coração
da mulher, de Alice Gray, ed. United Press e pensamento
final do cap. 25, do livro 
Legado Kardequiano, pelo
Espírito Marco Prisco, psicografia de Divaldo Pereira
Franco

Bezerra de Menezes: ERA NOVA DE UNIFICAÇÃO E DECISÃO


Bezerra de Menezes

Meus filhos, que o Senhor nos abençoe!

Eia, avante!

São as palavras que vêm repercutindo através dos séculos num convite vigoroso ao prosseguimento da luta redentora.

Estes são dias semelhantes àqueles quando o Divino Pastor veio reunir as ovelhas tresmalhadas de Israel com os gentios, proclamando o momento de unificação de raças e de etnias, de crenças e de religiões, de situações socioeconômicas diferentes sob o seu sublime cajado.

Também hoje, guardadas as proporções que nos identificam em relação às conquistas da Sociologia, da Ciência, no aspecto da investigação, da Tecnologia, das doutrinas psicológicas, é necessário que permaneçamos fiéis ao convite do Mestre, sem estacionar ou jamais retroceder.

Momento pelo qual vínhamos esperando, agora surge como sol abençoado na noite para aquecer os corações enregelados no materialismo e conduzir os Espíritos combalidos na luta de alta significação e de graves perigos para a divulgação da Doutrina.

Por isso, impõe-se-nos a todos a fidelidade aos postulados que constituem o edifício da Doutrina Espírita, fora dos quais poderemos ter uma bela filosofia de comportamento, uma ética-moral saudável e um campo experimental precioso, mas sem a presença de Jesus, que é o amor, que é a caridade e que é a esperança de libertação de todos nós.

Porfiai na defesa dos nossos direitos de semeação do Evangelho, conforme a revelação dos imortais.

Trabalhai ao lado dos gestores terrestres, contribuindo para o seu discernimento das verdades transcendentais, sem o medo da presunção que assalta alguns e do poder temerário de que se investem outros de natureza fanática na sua crença religiosa, negando às demais o mesmo direito de cidadania...

No mundo de convulsões da hodiernidade não há lugar para a timidez, para o temor, para a ausência de decisões.

Todo espaço que os bons espíritas deixarem vago será preenchido pelos atrevidos que tomam a espada da luta para denegrir, para ceifar vidas e ideais.

É necessário, portanto, que a cruz do sacrifício substitua a espada devastadora, e que, imortalizando-nos nas traves da dedicação, possamos deixar abertas as clareiras para as gerações novas que instalarão na Terra o Reino de Deus.

Acompanhamos, meus filhos, os estudos e debates destes dias e congratulamo-nos convosco por bem apreenderdes o significado da Unificação como um feixe de varas, cuja força é a união e cuja grandeza é a abnegação.

Prossegui, portanto, vigilantes, prudentes sim, generosos também, mas, sobretudo, valorosos, na preservação da Mensagem que herdastes do ínclito Codificador Allan Kardec e dos missionários que o assessoraram e prosseguem desdobrando-lhe os conteúdos procedentes dos céus.

É hora de combate, do bom combate da luz clareando a treva, do amor diluindo as animosidades, do perdão pondo-se acima das injunções perturbadoras do ressentimento e do desejo de desforço...

Mantende-vos fiéis a Jesus, e Ele, como sempre, providenciará o apoio que nos não nega nunca e a companhia de que tanto necessitamos para mantermos o espírito de fidelidade.

Estai atentos ao escalracho moral dos dissídios, da maledicência, da injúria, que são assacados contra a vossa conduta.

Não vos permitais o desânimo!

Quando, na busca e propaganda de um ideal, se apela para o ultraje, a ofensa, significa essa conduta que a falta de nobreza idealística foi substituída pelo egoísmo devastador e pela presunção dominadora.

Sede simples, mas não ingênuos, a ponto de vos deixardes dominar, sucumbindo sob a astúcia dos maus.

Jesus confia no vosso, no esforço de todos nós, conjugados os dois planos da vida, cantando hosanas à Imortalidade!

Voltai aos vossos lares ricos de luz e deixai que a claridade luminífera do Evangelho, exteriorizando-se dos vossos sentimentos, domine as casas que dirigis, tornando-as estrelas na grande noite do mundo em transformação.

A Eurásia, cansada de guerras e de poder, estertora...

As profecias tornam-se realidade, convidando-nos a aprender com a história da Humanidade a não repetir os erros em que caímos no passado...

Era Nova esta, meus filhos!

Exultai e amai!

Cantai o Evangelho de Jesus aos ouvidos, moucos que sejam, mas que se impregnarão da sinfonia inolvidável das bem-aventuranças, desde os que transitam nas classes mais sofridas, que são considerados os excluídos da sociedade, até aqueles que administram os destinos dos povos...

Em um só abraço – como fez Jesus, que recebeu a equivocada de Magdala e o Príncipe do Sinédrio, concedendo a ambos a mesma oportunidade –, fazei que todos os segmentos sociais recebam dos vossos sentimentos enobrecidos o mesmo carinho, sem distinção de poder ou de miséria, porque o amor deve ser o mesmo para todos que têm sede de paz e fome de justiça.

Recordemos Jesus: Eis que vos mando como ovelhas mansas ao meio de lobos rapaces... [Mateus,10:16]. Não para que sejamos devorados, mas para que, à semelhança do Santo de Assis, dulcifiquemos os lobos e que, no córrego do Evangelho sublime, ovelhas e lobos bebam da mesma linfa de paz...

Que o Senhor de bênçãos nos abençoe e os Espíritos-espíritas que aqui estão conosco, pedindo-nos para que traduzamos as suas emoções, nos acompanhem sempre e sempre no rumo da Imortalidade.

Muita paz, meus filhos, são os votos do companheiro paternal de sempre.

Bezerra
Psicofonia de Divaldo Pereira Franco

O amor segundo a carta de Paulo aos Coríntios

O amor segundo a carta de Paulo aos CoríntiosPDFImprimirE-mail
Séries Especiais Crônicas do Irmão Savas
Que a paz de Jesus esteja em teu coração para que recebas minhas palavras amparadas na Carta que Paulo escreveu aos coríntios. Essa carta, famosa no mundo inteiro fala de esperança, de fé e de amor. 
Ela é baseada no Evangelho de Jesus que tanto ensinou sobre o amor verdadeiro. Paulo na famosa Epístola assim qualificou o amor: 
“o amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconveniente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Abra, pois, meu irmão, a epístola de Paulo diante de teus olhos e transmite mais uma vez aos teus irmãos a importância de saber amar. Mais uma vez e ainda outra vez, eis que amar é muito diferente daquilo que se pratica no mundo.
Amar segundo os preceitos de Paulo é despir-se totalmente do egoísmo. Assim acontece com os bons pais em relação aos filhos e com esses em relação àqueles. Amar o próximo, na mesma forma, o doar-se sob o comando do amor.
No que tange aos casais é na constância do casamento ou mesmo de um relacionamento que floresce o verdadeiro amor e que faz fenecer o sentimento erroneamente assim intitulado. Amar, segundo Paulo é não ter exigências e sim parceria. Num relacionamento equivocado com o passar do tempo, aquilo que deveria ser chamado de parceria transforma-se em desamor, em rejeição inconsciente que transforma o sentimento em irritação fazendo as pessoas perderem seu magnetismo e se transformarem num instrumento de ataque ou mesmo de isolamento. 
Por isso, meu Irmão, leve a palavra de Paulo e espalhe-a por onde passares. Ensine as pessoas a amarem mais e melhor. Fale da ternura da mulher que deve estar presente em todos os atos de sua vida, pois, esse ingrediente Deus implantou em sua fórmula quando a criou. Fale dos braços do homem que foram feitos para abraçarem com força e vigor quando ela estiver mais frágil do que o costume. Ensine que a ternura à dois é produto do amor legítimo que impede a competição e estimula a parceria.
E quanto à caridade que é uma das manifestações do amor, ela é um dos muitos  caminhos que este usa  para unir o homem ao irmão necessitado. Há aqueles que desconhecem o que seja amar e exercem a falsa caridade para ostentar bondade perante o mundo tornando-se devedores do amor. O pão dormido doado no lugar da comida quentinha que está sobre o fogão torna o necessitado credor do falso caridoso. 
Mais uma vez, meu Irmão, convide aqueles com quem convives, a ler, a estudar profundamente a Epístola de Paulo para aprender verdadeiramente a amar. Tenha a fé da qual nos fala Paulo e continue tua batalha.
Com amor,
Irmão Savas
(Mentor do Núcleo Espírita Nosso Lar)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Companhias espirituais


Companhias espirituais



“Cada mente é um verdadeiro mundo de emissão e recepção e cada qual          atrai os que se lhe assemelham.” - André Luiz (Missionários da Luz, p. 57).


Companhias espirituais – e os amigos – são escolhas nossas. Afinidades nos aproximam.

Temos um corpo espiritual (Kardec o chamou perispírito), semelhante ao corpo de carne. É com ele que nos movimentamos nos sonhos e quando desencarnamos. Daí, muitos Espíritos nem sabem que seus corpos já morreram, porque se veem tais quais eram.

Sentir os Espíritos é próprio de qualquer pessoa. A mediunidade é da condição humana; independe da fé que professamos; e nos faculta essa percepção, que se dá de formas variadas. Uns veem-nos, outros os ouvem ou sentem suas presenças. Essas sensações são agradáveis, ou não, segundo a natureza do Espírito que se apresenta. Onde formos nós os sentiremos, velada ou ostensivamente, conforme nossa mediunidade.

Há médiuns pelos quais os Espíritos se expressam oralmente (psicofonia), como se usassem um telefone. Outros recebem mensagens escritas (psicografia).

Eles não ditam palavras. Emitem pensamentos. Os médiuns vestem esses pensamentos com as palavras que conhecem, desta e de outras encarnações.

Há Espíritos em diversos graus evolutivos: ignorantes e sábios; bons e maus. Daí Jesus recomendar cautela no trato com eles:

"Meus bem-amados, não creiais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus (...)” - I Jo, 4:1.

Ligam-se a lugares ou a pessoas, por várias razões: simpatia, afinidade, antipatia, amor ou ódio; vícios e virtudes. Os materialistas não se afastam de ‘suas posses’; os enfermos queixam-se de suas dores etc.

Há obsessão quando vingam males recebidos nesta ou em outras encarnações.

Allan Kardec indaga – O Livro dos Espíritos, q. 459 – Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”

469. Por que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?

“Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, (...).”

Parceiros invisíveis nos acompanham e inspiram, no lar, no lazer; na rua, ou na profissão, para o bem e para o mal.

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; (...)” – Mt, 26:41.

Ideia expressa pelo Apóstolo Paulo (Hb, 12:1):

“(...) temos a rodear-nos grande nuvem de testemunhas (...)”.

A sós ou na multidão, elegemos companhias espirituais, com nossos objetivos, pensamentos e conduta; de forma inconsciente, involuntária, ou não, pela lei de afinidade.

Podemos mudá-las, se más, com a conduta reta no pensar, no agir e ao educar as emoções, sintonizando com Espíritos bons, esclarecidos.

Há campo vibratório à nossa volta, a formar nossa aura, e que os atraem ou repelem, segundo a natureza de nossos pensamentos, ações e sentimentos.

Origens das vibrações más: ambição desmedida, ansiedade, egoísmo, maledicência, brigas, agressões verbais ou mentais, palavrões e xingamentos; hipocrisia, medo, ódio, vingança, mágoas, cólera, desvarios do sexo e viciações de toda ordem. São portas abertas ao mal. Afetam nossa vida íntima. Mente enferma, corpo doente.

Boas vibrações nos harmonizam com as leis de Deus e nos embelezam a aura. Suas origens: prática da caridade por todos os meios; generosidade; desprendimento; sinceridade; perdão pleno; asseio verbal; higiene mental:

“O homem que pratica (...) o bem vive no seio de vibrações construtivas e santificantes da gratidão, da felicidade, da alegria”. André Luiz (Missionários da Luz, p. 24).


Pugnas, inúteis pugnas!...


Pugnas, inúteis pugnas!...


 
A intolerância limita o direito de pensar e agir

“Só a tolerância lobriga ensinar com eficiência e conduzir com sabedoria.” M. Ribeiro[1]

Humberto de Campos[2] conta-nos a história de um livre-pensador chamado Raimundo da Anunciação, que não se furtava ao vício das discussões sem proveito definido.  Polemista contumaz transformou-se em um espinheiro vivo, atormentando a vida de todos à sua volta, mais parecendo uma pilha humana em permanente irritação contra tudo o que não se enquadrasse em sua “cartilha” pessoal.

Provocador e intolerante, não perdia oportunidade para “açoitar” as pessoas com palavras contundentes e ferinas; enxergava o mundo com a lente desfocada pela incompreensão matizada por inflamada ira.

Por mais que algum companheiro sensato lhe chamasse a atenção, não conseguia demovê-lo do ponto de vista onde se acastelara e, enquistado numa superlativa rebeldia, não se oferecia nunca o esforço de maiores exames... Nem mesmo sua mãezinha, já às portas da morte, logrou modificar o caráter ríspido do filho. Baldados foram todos os conselhos...

Finalmente, guindado pela morte, Raimundo aporta no Mundo Maior.  O Mentor Espiritual, encarregado de recebê-lo, após exame minucioso das cópias das anotações de seu “dossiê”, meneou a cabeça e comunicou-lhe que das 464.000 horas que viveu na Terra, sobraram apenas 200.000 horas que ele empregou em discussões improdutivas, porque as demais foram gastas em sono, trabalho profissional, passeios, repouso e distrações...

Nosso amigo ainda tentou argumentar uma réplica com o Benfeitor, mas, frente aos fatos apresentados, não teve alternativa senão render-se à triste evidência: perdera a oportunidade de progresso naquela reencarnação recém-finda, empregando em arengas inúteis o tempo destinado à elevação espiritual.  Por dez anos consecutivos entrou em vastas meditações da verdade e da vida, sempre auxiliado pelos bondosos Benfeitores Espirituais, findos os quais, suplicou nova experiência física na Terra. E para não falhar tão desastrosamente como antes, solicitou o seguinte dos Amigos Espirituais: “desejo ser mudo entre os meus adversários de outros tempos”.

“Muito bem – exclamou o Mentor -, é a tarefa compatível com as suas necessidades atuais. Você nascerá mudo e com ótimos ouvidos, porque, segundo sua ficha de tempo, não lhe será possível entregar-se a qualquer realização mais elevada, enquanto não permanecer em silêncio por 200.000 horas, escutando para aprender e impossibilitado de falar coisa alguma.”

Fica fácil, agora, uma dedução lógica: pelo enorme contingente de criaturas belicosas, despóticas e discutidoras que existe atualmente, pode-se, sem margem a equívocos, fazer uma previsão de uma larga safra de mudos no futuro. Mas, para evitar-se tal hecatombe eminente, Marcelo Ribeiro1, dá-nos um alerta, em uma belíssima página intitulada:

Combate intransferível

“O despotismo que cerceia a liberdade faz-se algoz de si mesmo. Em consequência, o dominador arbitrário torna-se dominado pelas paixões e circunstâncias que o envolvem... Somente a fraternidade que flui do amor bem compreendido consegue doar liberdade, ensejando um clima de respeito e compreensão que promove o progresso entre os homens.

A intolerância que impõe códigos de comportamento e limita o direito de pensar e agir comete desmandos e exageros, sendo vencida por força equivalente na justa das ambições desmedidas.

Apenas a solidariedade, mediante o auxílio mútuo, constrói valores de excelente qualidade, que fomentam o enriquecimento moral e social, propiciando paz.

O Sol brilha para todos. Tudo e todos têm direito à vida.

O que pode ser muito bom para uns, quiçá não seja o melhor para outros.

É de muito bom alvitre fazer uma aferição de valores, entre o que se sabe e os outros sabem, o que se conhece e é pelos demais conhecido, o que lhe é útil e para muitos desnecessário, a fim de se ter uma ideia realista das opiniões e conceitos, coisas e pessoas.

Os homens estagiam, pelo próprio processo de evolução pessoal, em degraus e escalas específicos, sendo necessário compreendê-los onde se encontram e conforme são.

Aqueles que possuímos uma mensagem de renovação e esperança para dar, devemos, melhor do que outros, compreender que o nosso labor se baseia no perfeito equilíbrio em prol de uma divulgação lavrada na simpatia e na gentileza.

Não nos propomos combater as demais pessoas, ou as suas ideias, ou a sua forma de ser.  Antes nos candidatamos a expor os nossos temas, aqueles que nos felicitam, interessando os que nos ouvem e veem a examinar as nossas informações, optando pelo que lhes pareça melhor.

Pugnadores da verdade, sabemos que ela não se contém totalmente no nosso enfoque de como considerar a vida, reconhecendo que, talvez, a nossa, seja uma visão melhor e mais clara, de modo a resolver inúmeros problemas que aturdem a humanidade. Exercitando a verdade ampliamos a capacidade de entendê-la.

Assim considerando, recordemos que numa discussão sempre se podem encontrar três faces sobre a verdade: a de um como de outro litigante, que são sempre pessoais, e aquela que paira acima dos indivíduos: a legítima e transcendental, que examina fatores ignorados, causas desconhecidas motivadoras da ocorrência em pauta.

É urgente que estejamos conscientes da obra a realizar em nós mesmos, primeiro, como combate intransferível e imediato, a fim de irmos adiante.

O próprio Jesus, que conhecia a verdade, jamais a impôs, nunca entrou em lutas verbalistas injustificáveis, não se deteve a combater contra.

O Seu, foi o combate a favor do bem, pelo bem de todos, com amor, sem despotismo, nem intolerância, ou exigência, ensinando o amor e amando com esperança no êxito final”.

Talvez prevendo que os arraiais espiritistas não estariam livres dessas ocorrências, Allan Kardec inseriu em “O Evangelho segundo o Espiritismo” uma página de um Espírito que se deu a conhecer simplesmente por Luís[3]: “desconfiai dos que pretendem ter o monopólio da verdade!... Não, não, o Cristo não está entre esses, porquanto os que Ele envia para propagar a Sua santa Doutrina e regenerar o Seu povo serão, acima de tudo, seguindo-Lhe o exemplo, brandos e humildes de coração; os que hajam, com os conselhos e exemplos que prodigalizem, de salvar a humanidade, que corre para a perdição, serão essencialmente modestos e humildes.

Ide, portanto, meus filhos bem-amados, caminhai sem tergiversações, sem pensamentos ocultos, na rota bendita que tomastes. 

Vós que haveis bem desempenhado a tarefa que o Criador confia às suas criaturas, nada mais tendes de temer da Sua justiça”.

Conduzamos, pois, com sabedoria, ensinando com eficiência nas águas mansas da tolerância incondicional.

                                                                                                               

[1] - FRANCO, Divaldo. Terapêutica de emergência. 5. ed. Salvador: LEAL, 2002, cap. 43.

[2] - XAVIER, Francisco Cândido. Reportagens de Além-Túmulo. 5. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974, cap. 8.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XXI, item 8, § 3º e seguintes.


Retomando o caminho de casa

Retomando o caminho de casa




Uma coisa maravilhosa que acontece nessa vida é que sempre que caímos ou nos desviamos da Luz, o Universo se movimenta para nos mostrar a direção certa que deveríamos tomar. Pode ser que tenhamos nos envolvido com sentimentos de baixa vibração e deixado de lado o caminho do coração. Talvez tenhamos nos embrenhado em caminhos tortuosos cultivando sentimentos de raiva, inveja ou até mesmo de baixa autoestima. Caminhos que com certeza nos levaram à dor e ao sofrimento...

Bem, em qualquer um desses casos, o Plano Divino sempre irá cuidar de nos mostrar o caminho de volta para casa, pois o seu Amor Infinito está sempre pronto a nos dar novas oportunidades de entendimento. O Universo reage ao desequilíbrio gerado por nós através da lei do karma, dando-nos a chance de viver as consequências geradas pelas más escolhas que fizemos, que certamente foram baseadas na ilusão da separatividade, no nosso egoísmo.

Assim, o Plano Divino nos mandará recados que podem se manifestar de diversas formas, como advertências ou impulsos... portas que se fecham, outras que se abrem, pessoas que se vão, outras que chegam... doenças, convites, acidentes, perdas etc..

Apesar da linguagem espiritual às vezes ser um pouco metafórica, todos nós temos a capacidade de perceber os sinais que o Universo nos envia, e geralmente logo após nos recuperarmos de uma queda ou de um desvio tendemos a seguir os conselhos do nosso coração, a caixa de ressonância entre nós e o Todo; o problema é que, lá adiante, podemos ser enganados novamente pelo nosso ego e ter novas recaídas.

Então, é importante perceber o recado, compreender com profundidade as lições que o Universo preparou para nós e retomar o caminho de volta com a determinação de não cair novamente. Precisamos estar atentos e não nos deixarmos levar novamente pelo nosso ego. Algumas chaves para isso são: em primeiro lugar a humildade, a aceitação de nós mesmos, o desapego em relação à nossa personalidade, depois precisamos aprender a ouvir o outro, a aceitá-lo como ele é, aprendendo assim a somar as diferenças. Outros pontos importantes são: pensar e expressar apenas coisas positivas, dar mais de si mesmo sem esperar nada em troca, fazer as coisas por amor não ambicionando reconhecimento ou agradecimentos... tentar ver a vida sempre como uma dádiva, uma grande oportunidade de nos lembramos de quem somos realmente como seres espirituais.

Se seguirmos esses exercícios ficaremos mais fortalecidos e com a mente limpa... tornando-nos mais capazes para seguir adiante corajosamente pelos altos e baixos da vida...

Quando realmente aprendemos com os tropeços e desvios, retomamos o caminho com mais alegria, paz, equilíbrio e a nossa volta pra casa se torna leve e clara. Tomamos a simplicidade como uma forma de viver mais significativa e gratificante. Aos poucos, vamos perdendo a necessidade de buscar fora, compreendendo que tudo o que nos acontece tem o mesmo objetivo: elevar-nos. Isso significa que podemos perceber a espiritualidade em tudo o que existe, desde o momento em que nascemos até o momento do nosso último expirar.

E outra coisa que nos causa imensa paz é que podemos sentir que somos amparados e acompanhados pelo Amor Divino desde sempre em toda a nossa trajetória eterna de volta pra casa... em direção à Harmonia Universal...


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

pedi é obtereis


Capítulo XXVII - Pedi e obtereis

• Qualidades da prece
• Eficácia da prece
• Ação da prece. Transmissão do pensamento
• Preces inteligíveis
• Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

• Maneira de orar
• Felicidade que a prece proporciona



QUALIDADES DA PRECE

1. Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que, afetadamente, oram de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. – Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. – Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa.

Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que se rão atendidos. Não vós torneis semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais. (S. MATEUS , 6:5 a 8.)

2. Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. – Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos ceús, também não vos perdoará os pecados. (S. MARCOS , 11:25 e 26.)

3. Também disse esta parábola a alguns que punham a sua confiança em si mesmos, como sendo justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu, publicano o outro. – O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: Meu Deus, rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo de tudo o que possuo.

O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava, sequer, erguer os olhos ao céu; mas, batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador. Declaro-vos que este voltou para a sua casa, justificado, e o outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (S. LUCAS , 18:9 a 14.)

4. Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (Cap. X, n os 7 e 8.)


EFICÁCIA DA PRECE

5. Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que pedirdes. (S. MARCOS , 11:24.)

6. Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, inútil se torna expor-lhas. E acrescentam os que assim pensam que, achando-se tudo no Universo encadeado por leis eternas, não podem as nossas súplicas mudar os decretos de Deus.

Sem dúvida alguma há leis naturais e imutáveis que não podem ser ab-rogadas ao capricho de cada um; mas, daí a crer-se que todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, vai grande distância. Se assim fosse, nada mais seria o homem do que instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a cabeça ao jugo dos acontecimentos, sem cogitar de evitá-los; não devera ter procurado desviar o raio.

Deus não lhe outorgou a razão e a inteligência, para que ele as deixasse sem serventia; a vontade, para não querer; a atividade, para ficar inativo. Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe acarretam, e aos demais, conseqüências subordinadas ao que ele faz ou não.

Há, pois, devidos à sua iniciativa, sucessos que forçosamente escapam à fatalidade e que não quebram a harmonia das leis universais, do mesmo modo que o avanço ou o atraso do ponteiro de um relógio não anula a lei do movimento sobre a qual se funda o mecanismo. Possível é, portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa anuência à sua vontade.

7. Desta máxima: “Concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece”, fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem. É como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses. Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura

O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço. (Cap. XXV, n os 1 e seguintes.)

8. Tomemos um exemplo. Um homem se acha perdido no deserto. A sede o martiriza horrivelmente. Desfalecido, cai por terra. Pede a Deus que o assista, e espera. Nenhum anjo lhe virá dar de beber. Contudo, um bom Espírito lhe sugere a idéia de levantar-se e tomar um dos caminhos que tem diante de si. Por um movimento maquinal, reunindo todas as forças que lhe restam, ele se ergue, caminha e descobre ao longe um regato. Ao divisá-lo, ganha coragem.

Se tem fé, exclamará: “Obrigado, meu Deus, pela idéia que me inspiraste e pela força que me deste.” Se lhe falta a fé, exclamará: “Que boa idéia tive! Que sorte a minha de tomar o caminho da direita, em vez do da esquerda; o acaso, às vezes, nos serve admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me ter deixado abater!”

Mas, dirão, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Segue este caminho, que encontrarás o de que necessitas”? Por que não se lhe mostrou para o guiar e sustentar no seu desfalecimento? Dessa maneira tê-lo-ia convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que cada um deve ajudar-se a si mesmo e fazer uso das suas forças. Depois, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança que nele deposita a criatura e a submissão desta à sua vontade. Aquele homem estava na situação de uma criança que cai e que, dando com alguém, se põe a gritar e fica à espera de que a venham levantar; se não vê pessoa alguma, faz esforços e se ergue sozinha.

Se o anjo que acompanhou a Tobias lhe houvera dito: “Sou enviado por Deus para te guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo”, nenhum mérito teria tido Tobias. Fiando-se no seu companheiro, nem sequer de pensar teria precisado. Essa a razão por que o anjo só se deu a conhecer ao regressarem.


AÇÃO DA PRECE . TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO

9. A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus.

10. O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.

A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.

Essa explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.

11. Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe idéias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou. Por esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê arruinada a sua saúde, em conseqüência de excessos a que se entregou, e arrasta, até o termo de seus dias, uma vida de sofrimento: terá ele o direito de queixar-se, se não obtiver a cura que deseja? Não, pois que houvera podido encontrar na prece a força de resistir às tentações.

12. Se em duas partes se dividirem os males da vida, uma constituída dos que o homem não pode evitar e a outra das tribulações de que ele se constituiu a causa primária, pela sua incúria ou por seus excessos (cap. V, nº 4), ver-se-á que a segunda, em quantidade, excede de muito à primeira. Faz-se, portanto, evidente que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, às quais se pouparia, se sempre obrasse com sabedoria e prudência.

Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não ultrapassássemos o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc.

Admitamos que o homem nada possa com relação aos outros males; que toda prece lhe seja inútil para livrar-se deles; já não seria muito o ter a possibilidade de ficar isento de todos os que decorrem da sua maneira de proceder? Ora, aqui, facilmente se concebe a ação da prece, visto ter por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos, cuja realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio. Agem, contudo, à nossa revelia, de maneira imperceptível, para nos não subjugar a vontade. O homem se acha então na posição de um que solicita bons conselhos e os põe em prática, mas conservando a liberdade de segui-los, ou não. Quer Deus que seja assim, para que aquele tenha a responsabilidade dos seus atos e o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com fervor, sendo, pois, a isso que se podem, sobretudo aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.

Mesmo com sua eficácia reduzida a essas proporções, já não traria a prece resultados imensos? Ao Espiritismo fora reservado provar-nos a sua ação, com o nos revelar as relações existentes entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Os efeitos da prece, porém, não se limitam aos que vimos de apontar.

Recomendam-na todos os Espíritos. Renunciar alguém à prece é negar a bondade de Deus; é recusar, para si, a sua assistência e, para com os outros, abrir mão do bem que lhes pode fazer.

13. Acedendo ao pedido que se lhe faz, Deus muitas vezes objetiva recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Daí decorre que a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus e sempre mais eficácia, porquanto o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que somente nascem do sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, do daquele que apenas de lábios ora, unicamente saem palavras, nunca os ímpetos de caridade que dão à prece todo o seu poder. Tão claramente isso se compreende que, por um movimento instintivo, quem se quer recomendar às preces de outrem fá-lo de preferência às daqueles cujo proceder, sente-se, há de ser mais agradável a Deus, pois que são mais prontamente ouvidos.

14. Por exercer a prece uma como ação magnética, poderse-ia supor que o seu efeito depende da força fluídica. Assim, entretanto, não é. Exercendo sobre os homens essa ação, os Espíritos, em sendo preciso, suprem a insuficiência daquele que ora, ou agindo diretamente em seu nome, ou dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, quando o julgam digno dessa graça, ou que ela lhe pode ser proveitosa.

O homem que não se considere suficientemente bom para exercer salutar influência, não deve por isso abster-se de orar a bem de outrem, com a idéia de que não é digno de ser escutado. A consciência da sua inferioridade constitui uma prova de humildade, grata sempre a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua confiança são um primeiro passo para a sua conversão ao bem, conversão que os Espíritos bons se sentem ditosos em incentivar. Repelida só o é a prece do orgulhoso que deposita fé no seu poder e nos seus merecimentos e acredita ser-lhe possível sobrepor-se à vontade do Eterno.

15. Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande o número de pessoas reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria?! Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras. (Cap. XXVIII n os 4 e 5.)


PRECES INTELIGÍVEIS

16. Se eu não entender o que significam as palavras, serei um bárbaro para aquele a quem falo e aquele que me fala será para mim um bárbaro. – Se oro numa língua que não entendo, meu coração ora, mas a minha inteligência não colhe fruto. – Se louvais a Deus apenas de coração, como é que um homem do número daqueles que só entendem a sua própria língua responderá amém no fim da vossa ação de graças, uma vez que ele não entende o que dizeis? – Não é que a vossa ação não seja boa, mas os outros não se edificam com ela. (S. PAULO , 1ª aos Coríntios, 14:11, 14, 16 e 17.)

17. A prece só tem valor pelo pensamento que lhe está conjugado. Ora, é impossível conjugar um pensamento qualquer ao que se não compreende, porquanto o que não se compreende não pode tocar o coração. Para a imensa maioria das criaturas, as preces feitas numa língua que elas não entendem não passam de amálgamas de palavras que nada dizem ao espírito. Para que a prece toque, preciso se torna que cada palavra desperte uma idéia e, desde que não seja entendida, nenhuma idéia poderá despertar. Será dita como simples fórmula, cuja virtude dependerá do maior ou menor número de vezes que a repitam. Muitos oram por dever; alguns, mesmos, por obediência aos usos, pelo que se julgam quites, desde que tenham dito uma oração determinado número de vezes e em tal ou tal ordem. Deus vê o que se passa no fundo dos corações; lê o pensamento e percebe a sinceridade. Julgá-lo, pois, mais sensível à forma do que ao fundo é rebaixá-lo. (Cap. XXVIII, nº 2.)


DA PRECE PELOS MORTOS E PELOS ESPÍRITOS SOFREDORES

18. Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes. Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. É nesse sentido que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos. (Veja-se: O Céu e o Inferno, 2ª Parte – “Exemplos”.)

19. Pessoas há que não admitem a prece pelos mortos, porque, segundo acreditam, a alma só tem duas alternativas: ser salva ou ser condenada às penas eternas, resultando, pois, em ambos os casos, inútil a prece. Sem discutir o valor dessa crença, admitamos, por instantes, a realidade das penas eternas e irremissíveis e que as nossas preces sejam impotentes para lhes pôr termo. Perguntamos se, nessa hipótese, será lógico, será caridoso, será cristão recusar a prece pelos réprobos? Tais preces, por mais impotentes que fossem para os liberar, não lhes seriam uma demonstração de piedade capaz de abrandar-lhes os sofrimentos? Na Terra, quando um homem é condenado a galés perpétuas, quando mesmo não haja a mínima esperança de obter-se para ele perdão, será defeso a uma pessoa caridosa ir carregar-lhe os grilhões, para aliviá-lo do peso destes? Em sendo alguém atacado de mal incurável, dever-se-á, por não haver para o doente esperança nenhuma de cura, abandoná-lo, sem lhe proporcionar qualquer alívio?

Lembrai-vos de que, entre os réprobos, pode achar-se uma pessoa que vos foi cara, um amigo, talvez um pai, uma mãe, ou um filho, e dizei se, não havendo, segundo credes, possibilidade de ser perdoado esse ente, lhe recusaríeis um copo d’água para mitigar-lhe a sede? um bálsamo que lhe seque as chagas? Não faríeis por ele o que faríeis por um galé? Não lhe daríeis uma prova de amor, uma consolação?

Não, isso cristão não seria. Uma crença que petrifica o coração é incompatível com a crença em um Deus que põe na primeira categoria dos deveres o amor ao próximo. A não eternidade das penas não implica a negação de uma penalidade temporária, dado não ser possível que Deus, em sua justiça, confunda o bem e o mal. Ora, negar, neste caso, a eficácia da prece, fora negar a eficácia da consolação, dos encorajamentos, dos bons conselhos; fora negar a força que haurimos da assistência moral dos que nos querem bem.

20. Outros se fundam numa razão mais especiosa: a imutabilidade dos decretos divinos. Deus, dizem esses, não pode mudar as suas decisões a pedido das criaturas; a não ser assim, careceria de estabilidade o mundo. O homem, pois, nada tem de pedir a Deus, só lhe cabendo submeter-se e adorá-lo.

Há, nesse modo de raciocinar, uma aplicação falsa do princípio da imutabilidade da lei divina, ou melhor, ignorância da lei, no que concerne à penalidade futura. Essa lei revelam-na hoje os Espíritos do Senhor, quando o homem se tornou suficientemente maduro para compreender o que, na fé, é conforme ou contrário aos atributos divinos.

Segundo o dogma da eternidade absoluta das penas, não se levam em conta ao culpado os remorsos, nem o arrependimento. É-lhe inútil todo desejo de melhorar-se: está condenado a conservar-se perpetuamente no mal. Se a sua condenação foi por determinado tempo, a pena cessará, uma vez expirado esse tempo. Mas, quem poderá afirmar que ele então possua melhores sentimentos? Quem poderá dizer que, a exemplo de muitos condenados da Terra, ao sair da prisão, ele não seja tão mau quanto antes? No primeiro caso, seria manter na dor do castigo um homem que volveu ao bem; no segundo, seria agraciar a um que continua culpado. A lei de Deus é mais previdente. Sempre justa, eqüitativa e misericordiosa, não estabelece para a pena, qualquer que esta seja, duração alguma. Ela se resume assim:

21. “O homem sofre sempre a conseqüência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que fique sem a correspondente punição. “A severidade do castigo é proporcionada à gravidade da falta.

“Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno à senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento.

“Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito.

“O homem é, assim, constantemente, o árbitro de sua própria sorte; pertence-lhe abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem.” Tal a lei, lei imutável e em conformidade com a bondade e a justiça de Deus.

Assim, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo: a lei de Deus estabelece a condição em que se lhe torna possível fazê-lo. O que as mais das vezes lhe falta é a vontade, a força, a coragem. Se, por nossas preces, lhe inspiramos essa vontade, se o amparamos e animamos; se, pelos nossos conselhos, lhe damos as luzes de que carece, em lugar de pedirmos a Deus que derrogue a sua lei, tornamo-nos instrumentos da execução de outra lei, também sua, a de amor e de caridade, execução em que, desse modo, ele nos permite participar, dando nós mesmos, com isso, uma prova de caridade. (Veja-se O Céu e o Inferno, 1ª Parte, caps. IV, VII, VIII.)


INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
MANEIRA DE ORAR

22. O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever?

A prece do cristão, do espírita, seja qual for o seu culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da Majestade Divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contacto com eles, mais força e perseverança. Deve ela subir humilde aos pés do Senhor, para lhe recomendar a vossa fraqueza, para lhe suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Deve ser profunda, porquanto é a vossa alma que tem de elevar-se para o Criador, de transfigurar-se, como Jesus no Tabor, a fim de lá chegar nívea e radiosa de esperança e de amor.

A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: “Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende.” Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com freqüência exclamado: “Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças.” Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós. (Cap. V, nº 4.)

Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles. Não é ato de amor a Deus assistirdes os vossos irmãos numa necessidade, moral ou física? Não é ato de reconhecimento o elevardes a ele o vosso pensamento, quando uma felicidade vos advém, quando evitais um acidente, quando mesmo uma simples contrariedade apenas vos roça a alma, desde que vos não esqueçais de exclamar: Sede bendito, meu Pai?! Não é ato de contrição o vos humilhardes diante do supremo Juiz, quando sentis que falistes, ainda que somente por um pensamento fugaz, para lhe dizerdes: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei (por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta?!

Isso independe das preces regulares da manhã e da noite e dos dias consagrados. Como o vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos. Dita assim, ela, ao contrário, os santifica. Tende como certo que um só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo vosso Pai celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa determinante e às quais apenas maquinalmente vos chama a hora convencional. – V. Monod. (Bordéus, 1862.)


FELICIDADE QUE A PRECE PROPORCIONA

23. Vinde, vós que desejais crer. Os Espíritos celestes acorrem a vos anunciar grandes coisas. Deus, meus filhos, abre os seus tesouros, para vos outorgar todos os benefícios.

Homens incrédulos! Se soubésseis quão grande bem faz a fé ao coração e como induz a alma ao arrependimento e à prece! A prece! ah! como são tocantes as palavras que saem da boca daquele que ora! A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões. Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que conduz a Deus. No recolhimento e na solidão, estais com Deus. Para vós, já não há mistérios; eles se vos desvendam. Apóstolos do pensamento, é para vós a vida. Vossa alma se desprende da matéria e rola por esses mundos infinitos e etéreos, que os pobres humanos desconhecem.

Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos. Que harmonia! Já não são o ruído confuso e os sons estrídulos da Terra; são as liras dos arcanjos; são as vozes brandas e suaves dos serafins, mais delicadas do que as brisas matinais, quando brincam na folhagem dos vossos bosques. Por entre que delícias não caminhareis! A vossa linguagem não poderá exprimir essa ventura, tão rápida entra ela por todos os vossos poros, tão vivo e refrigerante é o manancial em que, orando, se bebe. Dulçurosas vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança a essas esferas desconhecidas e habitadas pela prece! Sem mescla de desejos carnais, são divinas todas as aspirações. Também vós, orai como o Cristo, levando a sua cruz ao Gólgota, ao Calvário. Carregai a vossa cruz e sentireis as doces emoções que lhe perpassavam n’alma, se bem que vergado ao peso de um madeiro infamante. Ele ia morrer, mas para viver a vida celestial na morada de seu Pai. – Santo Agostinho. (Paris, 1861.)

fora da caridade não à salvação

2 de 173 trechos lidos
Texto presente no: Capítulo XV - Fora da caridade não há salvação

FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO .
FORA DA VERDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

8. Enquanto a máxima – Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade, o dogma – Fora da Igreja não há salvação – se estriba, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, porém numa fé especial, em dogmas particulares; é exclusivo e absoluto. Longe de unir os filhos de Deus, separa-os; em vez de incitá-los ao amor de seus irmãos, alimenta e sanciona a irritação entre sectários dos diferentes cultos que reciprocamente se consideram malditos na eternidade, embora sejam parentes e amigos esses sectários.

Desprezando a grande lei de igualdade perante o túmulo, ele os afasta uns dos outros, até no campo do repouso. A máxima – Fora da caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma – Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e se perseguem reciprocamente, vivem como inimigos; o pai não pede pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que mutuamente se consideram condenados sem remissão. É, pois, um dogma essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.

9. Fora da verdade não há salvação equivaleria ao Fora da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias? A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu adiantamento. Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.
Texto presente no: Capítulo XV - Fora da caridade não há salvação

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

ORAÇÃO E PROVAÇÃO

ORAÇÃO  E  PROVAÇÃO

       A oração não suprime, de imediato, os quadros da provação, mas renova-nos o espírito, a fim de que venhamos a sublimá-los ou removê-los.
       Repara o caminho que a névoa amortalha, quando a noite escura te distancia do Sol.
       Em cima, nuvens extensas furtam-te aos olhos o painel das estrelas e, em baixo, espinheiros e precipícios ameaçam-te os pés.
       Debalde, consultarás a bússola que a treva densa embacia.
       Se avanças, é possível te arrojes na lama de covas escancaradas; se paras, é provável padeças o assalto de traiçoeiros animais...
       Faze, porém, pequenina luz, e tudo se modifica.
       O charco não perde a feição de pântano e a pedra mantém-se por desafio que te adverte na estrada; entretanto, podendo ver, surgirás, transformado e seguro, para seguir à frente, vencendo as armadilhas da sombra e as aperturas da marcha.
       Assim, também, é a oração nos trilhos da experiência.
       Quando a dor te entenebrece os horizontes da alma, subtraindo-te a serenidade e a alegria, tudo parece escuridão envolvente e derrota irremediável, induzindo-te ao desânimo e insuflando-te o desespero; todavia, se acendes no coração leve flama da prece, fios imponderáveis de confiança ligam-te o ser à Providência Divina.
       Exteriormente, em torno, o sofrimento não se desfaz da catadura sombria; a morte, ainda e sempre, é o véu de dolorosa separação; a prova é o mesmo teste inquietante e o golpe da expiação continua sendo a luta difícil e inevitável, mas estarás, em ti próprio, plenamente refeito, no imo das próprias forças, com a visão espiritual iluminada por dentro, a fim de que compreendas, acima das tuas dores, o plano sábio da vida, que te ergue dos labirintos do mundo à bênção do amor de Deus.

De “Religião dos Espíritos”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel