domingo, 26 de outubro de 2014

Compensação proporcionada pela Justiça Divina.


Pergunta: Qual é a compensação proporcionada pela Justiça Divina aos prejudicados, quando certo casal terreno deixa de cumprir na vida física o seu compromisso conjugal assumido no Espaço?
Ramatís: Sob o conceito cármico e evangélico enunciado pelo Cristo Jesus, de "Quem com ferro fere, com ferro será ferido", jamais haverá prejuízos entre os comparsas do mesmo programa sideral em função na Terra, Assim, os espíritos prejudicados com a fuga do compromisso, assumido pelos culpados de sua frustração, hão de indenizar-se, alhures, e devidamente compensados, dos prejuízos recebidos. Ademais, na escolha dos pais físicos, também se candidatam espíritos da mesma índole e afinidade espiritual. Espíritos cuja vivência pregressa tem sido da mais louvada correção e fidelidade de programa merecem nascer de progenitores sob a mesma graduação espiritual. No entanto, os faltosos pregressos, que frustraram compromissos causando prejuízos alheios, são encaminhados para o nascimento através do recurso físico oferecido por espíritos ainda propensos à defecção espiritual. "Não cai um fio da cabeça do homem sem que Deus não saiba", diz o velho adágio e o traduzimos por "Não há um ceitil de injustiça ao homem ante a Justiça e Sabedoria de Deus"! As entidades que se encarnam dependendo o seu sucesso físico da união conjugal de outros espíritos volúveis e irresponsáveis, que podem frustrar-lhes a encarnação, também cometeram delito semelhante no passado e causaram os mesmos prejuízos a outrem. Os espíritos volúveis são atraídos pelos espíritos volúveis, e os espíritos sensatos pelos espíritos sensatos.
Na trama cármica das encarnações físicas, os espíritos interligam-se porafinidade espiritual ou através dos vínculos culposos de vidas anteriores. Assim, a vivência humana agradável, ou desagradável, frustrada ou acertada, é uma consequência da natureza boa ou má do espírito encarnado! Os espíritos só se reencarnam sob um esquema traçado pelos instrutores e técnicos competentes, no Além, onde intercambiam emoções, sentimentos afinsou ostensivos, e ajustam os seus propósitos aos interesses do conjunto! Espíritos nobres ou sórdidos, sábios ou ignorantes, bondosos ou malignos, santos ou delinqüentes, ligam-se natrama da existência física e se agrupam sob diversos motivos de interesses recíprocos movimentados no passado e trazendo resíduos corretivos. Em conseqüência, há espíritos bondosos e de boa estirpe espiritual, que ainda se imantam a entidades inferiores porque as exploraram em seu exclusivo bem e interesse pessoal. Embora tenham galgado mais alguns degraus na escadaria espiritual, terão de liquidar quaisquer saldos de contas devedoras do pretérito, ajudando os próprios comparsas à mais breve ascese para a freqüência superior.
Mas, como no Espaço também não há regras sem exceção, existem almas missionárias e benfeitoras, que não hesitam em abandonar o seu mundo de venturas e encarnarem-se para socorrer e auxiliar espíritos primários e até vingativos, junto aos quais comprovam a sua piedade e amor sob a égide do Cristo!
Ramatís – “A Vida Humana e o Espírito Imortal”

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O que é Evangelização Espírita?


O que é Evangelização Espírita?




"Para coisas novas são necessárias palavras novas"
Allan Kardec, LE:I

Allan Kardec no item I da Introdução de O Livro dos Espíritos tem o cuidado de definir o que é Espiritismo. Conforme reproduzimos na epígrafe, o Codificador afirma que para coisas novas são necessárias palavras novas. Guiado por esse pensamento, cria a expressão Doutrina Espírita ou Espiritismo para definir a doutrina que tem por objeto as relações do mundo material com os Espíritos, ou seres mundo invisível, apresentada de forma inaugural nessa obra.

Essa atitude de Kardec é, do ponto de vista pedagógico, extremamente recomendável, pois equivale ao estabelecimento e um marco para que novas bases sejam assentadas. Isto ocorre sempre, nos mais diversos campos do saber. Cada vez que um novo conceito, objeto ou instrumento é criado ou algum novo procedimento é descoberto e/ou inventado trata-se logo de nomeá-lo a fim de distingui-lo dos congêneres e estabelecer os seus limites. Aplicando o pensamento do Codificador à tarefa da qual nos ocupamos, convém, antes de qualquer coisa, defini-la e conceituá-la.

Evangelização é, na verdade, um termo genérico que indica a ação que se faz em torno da difusão do evangelho. É, portanto, uma ação inerente a quem quer que tome os quatro principais livros de o Novo Testamento como preceitos de orientação. Entretanto, o que singulariza essa ação é o corpo doutrinário que a ela subjaz. Assim, evangelizar à luz da Doutrina Espírita significa, no sentido estrito do termo, tomar os ensinos de Jesus, apresentados nesses mesmos livros e interpretá-los segundo a codificação espírita.

Desse modo, a expressão "evangelização espírita" encerra a relação entre a Doutrina Espírita e o Evangelho, já esclarecida pelo Codificador na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, conforme se lê a seguir: "O ensino moral do Cristo nos evangelhos é o terreno onde todos os cultos podem reunir-se... Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral são ininteligíveis, parecendo alguns até disparatados, por falta da chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo, como já puderam reconhecer os que o têm estudado seriamente... O essencial é por o evangelho ao alcance de todos, mediante a explicação das passagens obscuras e o desdobramento de todas as conseqüências, tendo em vista a aplicação em todas as condições de vida."

Como exemplo dessa chave interpretativa, podemos apontar a assertiva de Jesus sobre a necessidade de nascer de novo da água e do espírito (Jo. 3: 1 - 12), cuja coerência só é restabelecida quando lida à luz da idéia reencarnacionista. Outro exemplo, tido como contraditório, é o fato de, em determinada circunstância, Jesus (Mat. 12: 46 - 50) ter sido advertido de que a sua mãe e seus irmãos o aguardavam, ao que o Mestre respondeu que a sua mãe e os seus irmãos eram aqueles que faziam a vontade do Pai. Longe de significar uma negação aos laços de família, constitui-se, à luz da Doutrina, uma ampliação desses laços, a adoção da família universal como referência afetiva. Apenas para finalizar esses exemplos, vale destacar a frase de Jesus (Jo: 10 - 30) na qual se auto define, afirmando: "eu e o pai somos um". Lida por outras doutrinas cristãs, essa passagem dá margem a muitas interpretações dúbias sobre a personalidade e a origem de Jesus. A esse respeito, esclarece-nos o Espiritismo sobre a profunda compreensão que o Mestre tem de Deus, a ponto de identificar-se plenamente com as Suas Leis.

Postos estes exemplos, não significa dizer que a evangelização espírita tem como objeto apenas tópicos sobre a vida de Jesus. Esses são parte do conteúdo. A evangelização trata dos princípios da Doutrina, da conduta espírita, do movimento espírita e também do Cristianismo, mas à luz do paradigma Espírita.

Para que se realize com eficácia, a evangelização se desdobra e toma as feições do grupo a que se destina. Quando voltada para a criança e o jovem, por exemplo, há uma necessária adequação dos meios e da linguagem. É isso o que ocorre no trabalho que hoje se desenvolve em todo o Brasil, com o título de "evangelização infanto-juvenil" - simplesmente conhecido como evangelização. O fio condutor dessa tarefa é a formação do homem de bem, através do conteúdo espírita sobre a imortalidade da alma, das suas relações com o mundo corpóreo, da sua volta à vida na terra, das leis físicas e morais que regulam a sua estada aqui e no mundo espiritual.

Assim, a "evangelização na casa espírita" deve ser um trabalho organizado em aulas sistemáticas, pedagogicamente direcionadas, para que esse público tenha desde cedo contato com os ensinamentos doutrinários, repassados através de recursos compatíveis com o seu desenvolvimento intelectual, estimuladores do seu progresso espiritual e consentâneos com o seu perfil sócio-psicológico.

Como atividade vitalizadora do processo pessoal de melhoramento progressivo, a evangelização se apresenta como excelente recurso à disposição dos pais para lhes auxiliar na tarefa de educar aqueles que, atualmente, estão sob a sua tutela na feição de filhos. Por isso, não suporta a descontinuidade uma vez que passa a não despertar na criança e principalmente no jovem o interesse pela seqüência das aulas.

Daí advém a importância de os pais estimularem os filhos a participarem sempre das aulas, evitando a ausência por motivos, às vezes, absolutamente insignificantes. Nesse mesmo sentido, há que se destacar a importância de os evangelizadores se esforçarem para elaborar aulas cada vez mais motivadoras a fim de prender a atenção dos evangelizandos, despertando-lhes a curiosidade pela seqüência e continuidade do assunto. Assim sendo, o improviso é o recurso do qual não se deve lançar mão.

Quando freqüentada assiduamente, a evangelização demonstra a pujança do ensino moral do Cristo bem como dos ensinamentos espíritas e é, em sentido lato, um curso de Espiritismo. Logo, requer a dedicação dos companheiros que lhe reconhecem a importância - pais e evangelizadores -, que devem tomar para si a mesma fraternal advertência que os Espíritos fizeram a Kardec nos prolegômenos de O Livro os Espíritos:

"Com perseverança é que chegarás a colher os frutos de teus trabalhos.
O prazer que experimentarás, vendo a doutrina propagar-se e
bem compreendida, será uma recompensa, cujo valor integral
conhecerás, talvez mais no futuro do que no presente".

Por tudo isto, a evangelização é tarefa de longo curso que se revela de primordial importância na educação da criança e do jovem, tanto no lar como na casa Espírita.


Capítulo V - Bem-aventurados os aflitos


Capítulo V - Bem-aventurados os aflitos

• Justiça das aflições
• Causas atuais das aflições
• Causas anteriores das aflições
• Esquecimento do passado
• Motivos de resignação
• O suicídio e a loucura
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
• Bem e mal sofrer
• O mal e o remédio
• A felicidade não é deste mundo
• Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras
• Se fosse um homem de bem, teria morrido
• Os tormentos voluntários
• A desgraça real
• A melancolia
• Provas voluntárias. O verdadeiro cilício
• Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?
• Será lícito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?
• Sacrifício da própria vida
• Proveito dos sofrimentos para outrem
1. Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. – Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. – Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus. (S. MATEUS , 5:4, 6 e 10.)

2. Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. – Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. – Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis. (S. LUCAS , 6:20 e 21.)

Mas, ai de vós, ricos! que tendes no mundo a vossa consolação. – Ai de vós que estais saciados, porque tereis fome. – Ai de vós que agora rides, porque sereis constrangidos a gemer e a chorar. (S. LUCAS , 6:24 e 25.)



JUSTIÇA DAS AFLIÇÕES

3. Somente na vida futura podem efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra. Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um contra-senso; mais ainda: seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, dificilmente se compreende a conveniência de sofrer para ser feliz. É, dizem, para se ter maior mérito. Mas, então, pergunta-se: por que sofrem uns mais do que outros? Por que nascem uns na miséria e outros na opulência, sem coisa alguma haverem feito que justifique essas posições? Por que uns nada conseguem, ao passo que a outros tudo parece sorrir? Todavia, o que ainda menos se compreende é que os bens e os males sejam tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; e que os homens virtuosos sofram, ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar e infundir paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus. Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa. Isso o de que cada um deve bem compenetrar-se. Por meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na direção dessa causa, e hoje, julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la, lhes revela completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo, isto é, pela palavra dos Espíritos.


CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES

4. De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.

Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam. Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!

Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma!

Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!

Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os gérmens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.

Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.

A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.

Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.

5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a conseqüência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem. Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, conseqüentemente, a sua felicidade futura.

Entretanto, a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi desperdiçada e turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal. Põe-se então o homem a dizer: “Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje, quantos passos em falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia de outra maneira. No entanto, já não há mais tempo!” Como o obreiro preguiçoso, que diz: “Perdi o meu dia”, também ele diz: “Perdi a minha vida”. Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.


CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES

6. Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc.

Os que nascem nessas condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois, seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos de todos os modos?

Que dizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra idade e da vida só conheceram sofrimentos? Problemas são esses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anomalias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, se se verificasse a hipótese de ser criada a alma ao mesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevogavelmente determinada após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas, que acabam de sair das mãos do Criador, para se verem, neste mundo, a braços com tantas misérias e para merecerem no futuro uma recompensa ou uma punição qualquer, visto que não hão podido praticar nem o bem, nem o mal?

Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus. O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei.”

7. Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.

Assim se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência, porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente. Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.

Jamais deve o homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este, trabalhando por se melhorar.

8. As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente.

Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho. As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta.

9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso.

Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus.

Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.

10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura. Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.


ESQUECIMENTO DO PASSADO

11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.

Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.

Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.

Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações.

Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida corpórea. Volvendo à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do passado; nada mais há, portanto, do que uma interrupção temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não obsta a que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias precedentes.

E não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da vida exterior, da vida de relação. Mas, na falta de uma recordação exata, que lhe poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças novas haure ele nesses instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar.


MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO

12. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.

Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.

O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela.” Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não lhe ficará agradecido?

Tal o sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação.

Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. É por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo.

Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa.”

13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência.


O SUICÍDIO E A LOUCURA

14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.

15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.

16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.

A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade.

Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.

17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.


BEM E MAL SOFRER

18. Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos.

O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações.

O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte.”

Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. – Lacordaire. (Havre, 1863.)


O MAL E O REMÉDIO

19. Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou ele que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei do Senhor por ter querido experimentar-vos... Ó homens! dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor, senão quando ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossos dias? Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha adornado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a Deus: “Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar o vosso servo!” Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira, que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé, amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-vos os afortunados da Terra.

Como desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos bastante fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que pedistes a riqueza e a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que qua


Senhor, o anjo, à vossa cão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.

O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.

Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças. – Santo Agostinho. (Paris, 1863.)


A FELICIDADE NÃO É DESTE MUNDO

20. Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.

Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações.

Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.

Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.

O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.

Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos.

Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram. Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade. – François- -Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)


PERDA DE PESSOAS AMADAS. MORTES PREMATURAS

21. Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria.

Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano.

Crede-me, a morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes do tempo embranqueçam os cabelos dos pais. Freqüentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo na Terra.

É uma horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar, abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se acima da matéria. Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras? Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados?

Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus.

Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. – Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.)


SE FOSSE UM HOMEM DE BEM , TERIA MORRIDO

22. Falando de um homem mau, que escapa de um perigo, costumais dizer: “Se fosse um homem bom, teria morrido.” Pois bem, assim falando, dizeis uma verdade, pois, com efeito, muito amiúde sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a umbom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação. Por conseguinte, quando vos utilizais daquele axioma, não suspeitais de que proferis uma blasfêmia.

Se morre um homem de bem, cujo vizinho é mau homem, logo observais: “Antes fosse este.” Enunciais uma enormidade, porquanto aquele que parte concluiu a sua tarefa e o que fica talvez não haja principiado a sua. Por que, então, haveríeis de querer que ao mau faltasse tempo para terminá-la e que o outro permanecesse preso à gleba terrestre? Que diríeis se um prisioneiro, que cumpriu a sentença contra ele pronunciada, fosse conservado no cárcere, ao mesmo tempo que restituíssem à liberdade um que a esta não tivesse direito? Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro.

Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. –Fénelon. (Sens, 1861.)


OS TORMENTOS VOLUNTÁRIOS

23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar.

Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas.

Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e não para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida? – Fénelon. (Lião, 1860.)


A DESGRAÇA REAL

24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.

Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura.

Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.

Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.

Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? – Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)


A MELANCOLIA

25. Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.

Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra. – François de Genève.(Bordéus.)


PROVAS VOLUNTÁRIAS . O VERDADEIRO CILÍCIO

26. Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão equivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se? Àquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa negligência, que seria mais preguiça do que virtude.

Essa questão dá lugar naturalmente a outra. Pois, se Jesus disse: “Bem-aventurados os aflitos”, haverá mérito em procurar, alguém, aflições que lhe agravem as provas, por meio de sofrimentos voluntários? A isso responderei muito positivamente: sim, há grande mérito quando os sofrimentos e as privações objetivam o bem do próximo, porquanto é a caridade pelo sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente objetivam o bem daquele que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.

Grande distinção cumpre aqui se faça: pelo que vos respeita pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos manda e não lhes aumenteis o volume, já de si por vezes tão pesado; aceitá-las sem queixumes e com fé, eis tudo o que de vós exige ele. Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, pois que necessitais de todas as vossas forças para cumprirdes a vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar e martirizar voluntariamente o vosso corpo é contravir a lei de Deus, que vos dá meios de o sustentar e fortalecer. Enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis, tal a lei. O abuso das melhores coisas tem a sua punição nas inevitáveis conseqüências que acarreta.

Muito diverso é o que ocorre, quando o homem impõe a si próprio sofrimentos para o alívio do seu próximo. Se suportardes o frio e a fome para aquecer e alimentar alguém que precise ser aquecido e alimentado e se o vosso corpo disso se ressente, fazeis um sacrifício que Deus abençoa. Vós que deixais os vossos aposentos perfumados para irdes à mansarda infecta levar a consolação; vós que sujais as mãos delicadas pensando chagas; vós que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus; vós, enfim, que despendeis a vossa saúde na prática das boas obras, tendes em tudo isso o vosso cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que os gozos do mundo não vos secaram o coração, que não adormecestes no seio das volúpias enervantes da riqueza, antes vos constituístes anjos consoladores dos pobres deserdados. Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. – Um anjo guardião. (Paris, 1863.)


DEVER-SE-Á PÔR TERMO ÀS PROVAS DO PRÓXIMO ?

27. Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?

Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é conseqüência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar.

Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.”

Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente.

Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. – Bernardino, Espírito prote- tor. (Bordéus, 1863.)


SERÁ LÍCITO ABREVIAR A VIDA DE UM DOENTE QUE SOFRA SEM ESPERANÇA DE CURA ?

28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?

Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?

Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.

O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. – S. Luís. (Paris,1860.)


SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA

29. Aquele que se acha desgostoso da vida, mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?

Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. É ilusória a idéia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de nada mais lhe serviria. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário. Mas, buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação. – S. Luís. (Paris, 1860.)

30. Se um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio?

Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas, devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrerá. Mas, quem pode ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um inesperado meio de salvação para o momento mais crítico? Não poderia ela salvar mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão?

Pode muitas vezes dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso, uma circunstância inopinada desvia o golpe fatal. – S. Luís. (Paris, 1860.)


PROVEITO DOS SOFRIMENTOS PARA OUTREM

31. Os que aceitam resignados os sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e tendo em vista a felicidade futura, não trabalham somente em seu próprio benefício? Poderão tornar seus sofrimentos proveitosos a outrem?

Podem esses sofrimentos ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente se, pelo trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se imponham, contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente, pelo exemplo que elas oferecem de sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode induzir os desgraçados à resignação e salvá-los do desespero e de suas conseqüências funestas para o futuro. – S. Luís. (Paris, 1860.)

A L E G R I A


A L E G R I A

José de Castro

Não olvides que o mundo é um palácio de alegria onde a Bondade do Senhor se expressa jubilosa.
O sol desce sobre o pântano em sublime exaltação de luz.
A flor endereça ao firmamento permanente mensagem de perfume.
O vento que toca a essência das árvores é um cântico de  ninar ...
A fonte corre sobre a areia e desliza sobre o pedregulho com a serenidade de que exerce um  divino mandato; a semente vence a sombra da cova fria, convertendo-se em lavoura de esperança; e a espiga madura sofre o processo de trituração com a digna humildade de quem se vê feliz no enriquecimento da mesa ...
Não te esqueças, assim, de que a alegria é o nosso dever primordial, no desempenho de todos os deveres que a vida nos assinala.
Se trabalhas, sê contente na obrigação que te engrandece e renova, para que o estímulo reine em torno de teus passos; se repousas, que o teu pensamento vibre a felicidade da alma fiel ao bem, para que a tua atmosfera mental seja ninho de bênçãos.
Se sofres, sê otimista com a esperança; se lutas, não percas a lâmpada milagrosa da fé viva  que te clareia a senda para a vanguarda da luz! Se falham teus sonhos de estabilidade na Terra, usa a paciência construtiva que te reserva bênçãos maiores do amanhã que desconheces; se tudo é desequilíbrio e flagelação ao teu lado, sê feliz com a tua esperança a irradiar-se em orações silenciosas de compreensão e de amor.
Deus legou-nos a alegria por divina herança no mundo.
Trabalha, procurando-a e, hoje mesmo, o nevoeiro da amargura dissipar-se-á em teu caminho, porque pela graça do serviço de nossos semelhantes, a alegria nascerá dentro de nós mesmos, transformando-se em estrela divina a fulgurar imorredoura em nosso próprio coração.

(Da obra "Relicário de Luz", pelo Espírito José de Castro, Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Magia do Magnetismo Curador

Magia do Magnetismo Curador




 (Texto retirado do livro: Chama Crística)



"Logo depois de surgirem as primeiras manifestações do pensamento, durante o processo evolutivo do homem primitivo, ele viu-se igual aos semelhantes que o cercavam, mas sentiu-se único e diferente. Em certo estágio, passou a comunicar se por sons articulados, por palavras inteligíveis, adquirindo condições de transmitir aos seus descendentes imediatos os conhecimentos conquistados. Com o passar dos milênios, dominando as técnicas de obtenção dos alimentos e proteção da prole, supriu as suas necessidades básicas, conquistou abrigo e começou a se reproduzir. Conscientizou-se do fenômeno da morte e passou a questionar o porquê das coisas que o rodeavam.
Os mais evidentes questionamentos foram a luz e as trevas, o sentido da vida e do calor, o enigma da abóbada celeste e a supremacia do Sol. Por trás do fogo, primordial à vida de então, inconscientemente pressentiu algo imaterial, uma luz inteligente que lhe propiciava segurança; pálida lembrança da Suprema Divindade que o criou. Contemplando o espetáculo do firmamento estrelado, despertou-se-lhe a curiosidade. Quando via as folhas das árvores balançando ao vento, imaginava um ser oculto. Diante de um temporal com raios e trovões; concebia um Deus poderoso e irado. Com uma compulsividade nata de atribuir Divindade aos fenômenos que não compreendia, demonstrava ser a semente cósmica do Criador, destinada a germinar. Possuindo uma noção exata de algo superior, transcendendo ao seu entendimento, ansiava atingir o inatingível, possuir o poder
da magia. Contemplando o astro rei, o Sol, sentia-se seguro, em quase êxtase sublimado, engrandecido. Essas primeiras reflexões abstratas faziam parte daquele ser que deixava para trás a consciência mais primitiva e tomava-se autoconsciente, que era único, fazendo parte de um Todo incompreensível.
Estavam instaladas no orbe terrícola as condições básicas da .evolução para a influência favorável dos Maiorais siderais e das instâncias de grau mais elevado no planejamento cósmico, encarregados da evolução da vida nos incontáveis planetas do Universo; para a vinda, de outras constelações, de espíritos mais evoluídos, que trariam conhecimentos e acompanhariam outros emigrados exilados, que não tinham condições morais de permanecer naquelas instâncias mais evoluídas, sendo-lhes imposta a 'continuidade evolutiva em orbes mais atrasados. Chega, então, enorme agrupamento de espíritos emigrados, que se estabelecem e formam colônia no Astral da antiga Lemúria e da Atlântida. Os sacerdotes iniciados, líderes daquelas colônias astralinas, trazem consigo o conhecimento esotérico Aumbandhã, significando a própria "Lei Maior Divina". Eram de grande mentalismo; dominavam, com desenvoltura rotineira, o que se designa em vosso vocabulário atual como transmutação alquímica, fluidologia e ectoplasmia curativa, materialização e desmaterialização, magnetismo e cromoterapia, desdobramentos dos corpos mediadores físico, etérico, astral e mental; controlavam, perfeitamente, os elementais nas suas sete gradações ou sete planos vibracionais de manifestação do espírito. Esses elementais, formas energéticas neutras - não são positivos nem negativos, nem bons nem maus -, eram utilizados pelos sacerdotes, magos brancos atlantes, que assim arregimentavam as forças ocultas necessárias à magia, à construção e à evolução das criaturas. Os lemurianos e os atlantes de pele vermelha não foram procedentes do satélite de Capela, da constelação do Cocheiro (1); vieram de um outro orbe, do sistema estelar de Sírius, ou Estrela Cão, em que o Sol é uma estrela de intenso amarelo-ouro, inigualável em sua beleza, num mesmo movimento espiritual de transmigração que trouxe os capelinos. Adoradores do Sol, irrepreensíveis magos e alquimistas, transmutavam os metais grosseiros em ouro.
(1) Vide"Os Exilados da Capela", de Edgar Armond (Editora LAKE), e"A Caminho da Luz", de
Emmanuel (Editora FEB), sobre o exílio compulsório dos capelinos para a Terra.
Os capelinos, de cútis branca, tinham uma estrela distante, de minguados raios solares, como leve claridade das manhãs invernais, a iluminá-los. Não por acaso, semelhantes em evolução e em conhecimentos iniciáticos aos de pele vermelha. Esses migrados, impostos à força coercitiva
animal de corpos rudes e primitivos, em diferente composição anatomofisiológica dos corpos originais do astro-mãe, dos quais eram procedentes, teriam que adaptar-se à vida selvagem, de condições climáticas inóspitas e perigosas da Terra de então.
Latentes em suas memórias astrais, todos os conhecimentos e realizações adquiridos anteriormente, contribuiriam para a evolução dos espíritos irmãos do vosso orbe, originalmente hominais terrícolas. Por intercessão de espíritos superiores e amorosos, que os acompanharam nessa migração, e por deliberação dos engenheiros siderais, geneticistas cósmicos encarregados da criação dos corpos e dos grupos biológicos e das raças dos diversos mundos, e que deveriam ser, no futuro, homogêneos, permitiu-se a formação dessa raça vermelha em vosso orbe.
Da amálgama dessas duas raças provenientes de outras paragens no Cosmo, enxotadas do Éden remoto, após os cataclismos que afundaram as civilizações lemuriana e atlante, obrigando-as à migração, constituiu-se em solo brasileiro o tronco indígena Tupi, mais avermelhado, e do outro lado do oceano, o tronco dos Árias, um misto dessas duas raças-mãe, cujos descendentes foram os celtas, os latinos e os gregos. Conforme dissertado alhures, esse movimento migratório espalhou-se aos quatro cantos do orbe terrícola, ato sidéreo que contribuiu para a busca da homogeneidade étnica e cultural ao longo de toda a História da humanidade e que deverá desaguar no Terceiro Milênio, quando chegar a hora da depuração espiritual da Terra, da separação do joio do trigo e da transmigração, agora, dos exilados terrícolas, enviados a outras constelações planetárias, num processo análogo ao ocorrido na época da antiga Lemúria e Atlântida.
A sua pele avermelhada, que originalmente fazia parte da configuração perispiritual dos emigrados, se fez presente quando da reencarnação daqueles exilados, num processo marcante de interferência das mentes poderosas e criadoras responsáveis por esta programação, repercutindo vibratoriamente na formação do novo equipo físico e, sobremaneira, na cor da epiderme.
Desventuradamente, deixaram-se levar pela ambição desmesurada e pela magia negra, quando utilizaram todos os conhecimentos iniciáticos milenares, gananciosamente, em proveito próprio e para o mal.
Os lemurianos e os atlantes eram exímios curadores. Hodiernamente, cessado o período de maior convencimento dos incrédulos materialistas, com o término das materializações fenomenológicas e das curas com incisão e cortes chocantes, sensacionais aos olhos do leigo e muito trabalhosas para a Espiritualidade, chega o momento do despontar da mediunidade de cura. Muitos espíritos daqueles antigos lemurianos e atlantes da raça vermelha, hoje encarnados,
que em vidas passadas foram alquimistas a serviço das organizações trevosas e dos seus maquiavélicos magos negros, e que muito manipularam os elementais da natureza, forças neutras e puras das sete faixas vibratórias do Cosmo, despolarizando as correspondências vibracionais daqueles que queriam atingir, em proveito próprio, estão reencarnados e comprometidos com o desiderato curativo dos semelhantes dos dois lados da vida. Tiveram seus corpos perispiríticos sensibilizados antes de reencarnar, com maior afastamento do duplo etérico, propositalmente distanciado do corpo físico, quando do acoplamento do espírito reencarnante, miniaturizado no momento conceptivo da união dos dois gametas.
Decorrência natural da influência desse magnetismo modelador, imantado desde a concepção e durante a formação do novo corpo físico, por toda a vida até o desencarne, se forma verdadeira "abertura" por onde o corpo etérico, hipersensibilizado, exsuda abundante ectoplasma. O metabolismo corpóreo é a ininterrupta água corrente do rio que enche a represa, como se fosse uma grande turbina geradora de energia numa hidrelétrica, que nunca pára de trabalhar.
Esse médium é uma antena viva do mundo astral, pois o duplo etérico mais afastado do corpo físico toma-o mais sensível às impressões transmitidas pelo corpo astral ou perispírito, provenientes dele próprio ou de agentes espirituais externos. Facilita-se a rememoração do que ocorre, quando em desdobramento provocado, nas incursões de socorro ou cura, no baixo Umbral, nos subterrâneos trevosos do orbe, nas cavernas úmidas e fétidas, nos locais lamacentos, inimagináveis para vós. Nessas ocasiões, o cérebro físico guarda impressões, condicionado que está aos estímulos constantes, oriundos da janela vibratória que potencializa o duplo etérico e do cabo de ligação que é o cordão de prata, retendo mais facilmente as impressões do cérebro perispiritual. Em muitos casos, não permitimos ao médium a vista ampla desse cenário dantesco, pois ele pode se desequilibrar diante do que chamais de "inferno". Essas incursões, em desdobramento provocado, fazem parte do resgate daqueles irmãos mais sofridos e deformados pela deterioração ocasionada por terem ficado longo tempo sem reencarnar. Alguns irmãos socorridos encontram-se tão desvitalizados, com sérias deformações perispirituais, que ternos dificuldade de expressar os seus formatos em palavras inteligíveis para vós. O magnetismo do orbe vai deteriorando seus perispíritos gradativamente.
Há irmãos com tais deformações, que mostram-se como seres teratológicos, escatológicos, abomináveis à primeira impressão, mas dignos de todo o nosso amor. Outros socorridos encontram-se tão desvitalizados e enrijecidos, que são como rochas humanas, pessoas calcificadas, tristes estátuas a ornar um vale petrificado..
Em mensagens anteriores, abordamos as repercussões vibratórias do acoplamento áurico e a função do perispírito do médium como novo modelo organizador do perispírito deformado do socorrido. Além do magnetismo normal do perispírito do médium, o ectoplasma abundante exalado pelo duplo etérico contribui para a revitalização e o retomo à forma perispiritual original do atendido.
Como semelhante cura semelhante, e como nós, em espíritos, não possuímos ectoplasma, que é o fluido animalizado produzido no duplo etérico e decorrente do metabolismo biológico do equipo físico, não podemos interceder nesses níveis mais densos e pesados, sendo, portanto, necessário um médium de cura desdobrado nessas cidades degradantes, abaixo da crosta terrestre.
Como explanamos alhures, não há nada de excepcional no fato de utilizarmos os fluidos dos encarnados para tais intentos. Precisamos de algo tão ou mais denso que os fluidos existentes nessas regiões, e somente os fluidos animalizados do metabolismo físico lhes são semelhante ou os superam em densidade.
Há uma certa complexidade nessas movimentações. Primeiramente, ternos que preservar a segurança da instrumentação mediúnica, pois trata-se de um trabalho assistido de caridade, eminentemente de interesse altruístico. Segundo, ternos, em alguns casos mais difíceis, de desdobrar somente o duplo etérico do medianeiro em decorrência da volumosa quantidade de fluidos animalizados utilizada. Nessas ocasiões, os cuidados são redobrados. É extremamente desenvolvida a sensibilidade desse corpo intermediador e os assédios das organizações trevosas
são contumazes. Elas tentam atacar o corpo físico inerte ou abalar a estrutura do cordão de prata, órgão elástico e hipersensível a qualquer estímulo brusco, que, rompendo-se, desliga o corpo astral dos corpos etérico e físico, havendo o desencarne abrupto, como ocorre em vossos acidentes automobilísticos.
O duplo etérico desdobrado, por Lei de Afinidade, só se desloca para locais, no Astral, de grande densidade, em comunidades que encontram-se mais abaixo da crosta planetária. Não entraremos em maiores detalhamentos quanto a essas paisagens, pois não são a finalidade desta singela exposição (2). O medianeiro fica em desdobramento provocado pelos jatos magnéticos que lançamos, contrários ao campo vibracional que imanta o positivo com o negativo na vida densa. É um transe cataléptico letárgico, baixando-lhe a temperatura e o metabolismo do corpo, à noite, durante o sono físico. Isso ocorre porque ele fica sem o corpo etérico que o liga ao corpo astral, tornando-se um amontoado de carne sem comando, pois o verdadeiro propulsor de tudo é a mente, que encontra-se desligada do órgão físico, que é o cérebro.
(2) Para descrição dessas paragens e comunidades trevosas, vide a obra "A Vida Além da
Sepultura", de Ramatis e Atanagildo (Editora do Conhecimento), bem como "O Abismo", de R. A. Ranieri
(Editora Eco).
Trabalhamos em grupo para segurança dos intentos incursionistas de socorro. Há vários técnicos, cada um dentro de sua especialidade. Os nossos amigos índios peles-vermelhas oferecem apoio e retaguarda nessas verdadeiras batalhas astrais do bem contra o mal. São eles oriundos da colônia espiritual de Juremá, espíritos de grande evolução e que, por amor aos terrícolas, adotam as configurações perispirituais em que foram muitos felizes há milênios atrás. Já estando libertos do cárcere da carne, laboram incessantemente na caridade, dando-nos grande apoio, seja na manipulação de outros fluidos curativos, que são agregados ao fluido animal do médium, seja na movimentação de verdadeiras falanges que vão à frente "abrindo os caminhos": um neologismo da Umbanda, definindo bem esta movimentação estremada. Estabiliza-se uma gigantesca manta magnética, uma bolha contornando o corpo etérico do instrumento mediúnico, à similitude de um cisco que escorre através de uma gota de água na vidraça. Os caciques chegam a mobilizar até 5 mil índios, armados com lanças e dardos magnéticos, pois as entidades malévolas que se fazem presentes nesses locais trevosos somente respeitam a força e a atitude coercitiva.
Na maioria das vezes, quando coordenamos esses trabalhos, elas não podem nos ver. Utilizamos o corpo astral, mas não é possível condensá-lo totalmente, pelo fato de, há muito, termos nos desvencilhado do grilhão da carne e do ego aprisionador. Os pretos-velhos também se fazem integrantes, pois são exímios nos desmanches de bases de feitiçaria e magia dos magos negros.
Nos trabalhos direcionados ao desmanche e varredura energética das bases dos magos negros, que, muitas vezes, utilizam-se de aparatos tecnológicos ainda desconhecidos das mesas mediúnicas e escravizam os irmãos deformados (3), potencializa-se a substância ectoplásmica,
deslocando-a aos lugares onde está a origem dos instrumentos' de magia negra, objetos vibratoriamente magnetizados e que captam a freqüência vibratória do alvo visado – geralmente irmãos encarnados - como se desse a leitura das coordenadas para a realização do feitiço correspondente (4). Com este recurso, desmagnetiza-se, neutraliza-se e desmancha-se essas aparelhagens, em verdadeiras tempestades astrais, que vão varrendo e higienizando esses laboratórios do mal, antros da anarquia.
(3) Nota de Ramatis: Os nossos irmãos com deformações nos corpos astrais, quer seja pela força mental de indução dos magos negros, quer seja por estarem por longa data fugindo do magnetismo reencarnatório do orbe, são classificados por alguns escritores e ativistas da mediunidade, espíritas e espiritualistas, inadvertidamente, como EXUS, palavra que, em sânscrito (EXUD), é tão antiga quanto a civilização terrícola, sendo originária da Atlântida. Historicamente, desviou-se de sua denominação original, quando passaram-se a designar como EXUS os sacerdotes banidos das fraternidades brancas, que  utilizavam-se dos elementais da natureza para o mal, para a magia negra. Como esses elementais, agentes e  veículos da magia, originariamente formas energéticas neutras, são acinzentados, quando vistos pelos clarividentes, criou-se essa interpretação errônea.
Essas formas energéticas existem nas sete faixas vibratórias do Cosmo, e são agentes da magia universal, receptivos ao pensamento, tanto para o bem como para o mal. Indevidamente, associaram-nas ao mal, à feitiçaria e à magia negra. Não adentraremos em maiores pormenores quanto à utilização desses elementais, pois fugiríamos do escopo da presente abordagem.
A Umbanda atual, praticada no Brasil, pela caridade que realiza, é importante para a Espiritualidade, sendo um dos instrumentos de união das religiões no Terceiro Milênio, a Nova Era que se delineia, e para a religiosidade como um todo. Não é "baixo espiritismo", e os nossos irmãos com deformações em seus corpos astrais, "soldados do mal", escravizados pelos magos negros, não são o que alguns, com ar de superioridade, costumeiramente denominam de EXUS.
(4) Vide a obra "Magia de Redenção", de Ramatís (Editora do Conhecimento), que elucida, clara e integralmente, o mecanismo do feitiço.
Muitas vezes, ao acordar, o médium se lembrará dos fatos; sentir-se-á cansado, exaurido de energia, com apetite aguçado. Essa situação ocorre em grande parte e em variada amplitude, conforme a quantidade doada e retirada de ectoplasma. É um acontecimento natural, facilmente resolvido com a ingestão de água, sucos, comestíveis ricos em carboidratos e glicose e, se possível, um repouso a contento, que nem sempre é viável, pois nosso obreiro, às vezes, tem a labuta do dia seguinte pela frente. Tentamos programar essas ações nas noites que antecedem a folga dos medianeiros nos seus trabalhos profanos, mas nem sempre é possível diante da urgência socorrista.
Os lamas tibetanos curam com a concentração mental, produzindo ondas de energia, fazendo com que os espíritos engendrem esta energia ao redor do emissor e a canalizem àqueles que são objeto da assistência. Na cura aos encarnados, utilizamo-nos dos recursos ectoplásmicos para a materialização e desmaterialização de tecidos humanos. As energias fluídicas manipuladas do ectoplasma do médium e da natureza são usadas em um processo de desintegração atômica das células doentes e a imediata reintegração de células sadias na área afetada. Com o magnetismo, afrouxamos os laços que mantêm coesa a estrutura molecular original das células doentes, como se essa massa compactada se expandisse e retomasse ao fluido cósmico universal, já que nada se perde no Cosmo, tudo se transmuta.
Esses enxertos ectoplásmicos, com novas células sadias, são verdadeiros trabalhos de magia curativa. Essas próteses ectoplásmicas têm que ser imantadas à mesma freqüência do campo magnético do enCarnado. Cria-se na aura do órgão substituído, enxertado parcial ou totalmente, uma força magnética de retenção. Como um molde colocado, a ordenar novo pedaço ou conjunto a ser constituído, normalizamos a disfunção vibratória perispirítica e favorecemos a força centrífuga
do modelo organizador biológico, que prepondera em todo e qualquer corpo astral,
especificamente no local da área desmaterializada, anteriormente doente. Evita-se a rejeição e favorece-se a reprodução de células sadias, construindo-se, definitivamente, um tecido recuperado saudável. Observamos os tipos histológicos e sangüíneos, o grau de temperatura e o padrão vibratório da peça a ser implantada. É tudo muito rápido para vós, questão de segundos. A extrema plasticidade do ectoplasma semimaterializado no interior do organismo permite que desmaterializemos o tecido doente e, concomitantemente, moldemos o novo tecido orgânico sadio. Neste tempo, o ectoplasma semimaterializado passa a materializado.
Esses procedimentos, ainda desconhecidos de vossa ciência médica, já dão sinal em alguns laboratórios terrícolas de pesquisa científica. A criação de pedaços ou até órgãos inteiros, dentro do corpo de uma pessoa doente, a partir do uso de próteses biodegradáveis, de uma cultura das mesmas células do órgão afetado pela moléstia, respeitando-se a Lei das Correspondências Vibracionais, que há entre os semelhantes, e evitando-se a rejeição, já é uma realidade. Com o auxílio de vossos computadores, os médicos terrenos já conseguem projetar essas próteses naturais, que são absorvidas pelo corpo do paciente quando da formação de novas células saudáveis, e, através de sua reprodução, acabam ocupando o espaço da própria prótese, que se biodegrada.
Nessas operações espirituais de cura, magia do magnetismo curador, também nos
utilizamos de aparelhos polarizadores para novas técnicas ainda desconhecidas das mesas mediúnicas, por onde jorram luzes de cores variadas. A luz branca alivia as dores, acalma e neutraliza os miasmas; a vermelha auxilia nas trocas magnéticas, do positivo para o negativo e vice-versa, reequilibrando as polaridades em vosso plano e anulando as células cancerosas; o verde, em seus diversos matizes, elimina os coágulos e evita as tromboses; o amarelo vibrante, tendendo ao alaranjado e dourado, higieniza o corpo astral e regulariza todas as cargas desequilibradas em suas polaridades, além de exterminar os miasmas e as imantações de feitiços. E, na transmutação de todos os fluidos manipulados, seja os do médium como os da natureza, alguns provenientes de outros orbes e de outras estrelas do Infinito cósmico, está o violeta. Nessas manipulações cromáticas de cura, as nuanças são infinitas, proporcionais às escalas do Cosmo. Em todas essas ações da magia do magnetismo de cura, está o imenso amor de Deus, a Divindade Suprema que nos guia a todos. E através do seu maior representante na aura terrícola, o Cristo-Jesus, temos os exemplos grandiosos de cura. É inesquecível a cura definitiva de um leproso: Jesus se deslocava para Jerusalém, quando dez leprosos vieram ao seu encontro e pediram compaixão ao Mestre. Jesus, ao vê-los, disse: "Ide apresentar-vos aos sacerdotes" e, no trajeto, os dez ficaram curados das chagas leprosas. Somente um, ao perceber que estava curado, voltou para agradecer a Jesus, e o Mestre lhe disse: "Levanta-te e vai, tua fé te curou".


Muita paz e muita luz!

Ramatís.