terça-feira, 12 de novembro de 2013

A necessidade das guerras



A necessidade das guerras

As guerras são necessárias? Devemos aceitas as guerras como algo normal ou que seja inevitável em determinadas situações?

No velho testamento Moisés conduz o povo de Israel do Egito até a terra prometida e, quando finalmente chega o momento de se assentarem naquelas regiões, Moisés lidera seu povo travando diversas guerras contra os povos que já habitavam a região os derrota um por um, tomando toda a palestina com o uso de muita violência.

Porque Deus, que se fazia representar a Moisés por meio do “anjo do SENHOR” (Êx 3:2), ordenaria que ele comandasse seu povo à guerra e provocasse tantos massacres?

Na verdade, Moisés também ordenou que fosse tentada a paz com as cidades das regiões onde o povo fugido do Egito iria habitar:
“Dt 20:10 Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás a paz. 
Dt 20:11 E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá. 
Dt 20:12 Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás. 
Dt 20:13 E o SENHOR teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.”

Mas esta desejada paz naqueles tempos era uma hipótese remota, a regra eram as invasões e os combates sem quaisquer chances de negociação pacifica. Eram povos violentos e acostumados a iniciar guerras por qualquer pretexto, num mundo onde não existiam grandes impérios e grandes forças militares organizadas e capazes de manter o controle sobre os povos, desde as pequenas tribos até líderes poderosos de grandes cidades viviam em estado constante guerra a mera aproximação de qualquer grupo grande de pessoas já significava uma declaração de guerra. 

Outro motivo que dificultava a paz era que os “anjos do senhor” que conduziram o povo que era oprimido no Egito, fizeram claramente um grande esforço para convencer aquele povo a adorar um Deus único, uma pratica completamente incomum naqueles tempos, os grandes esforços de ajuda a este povo através de eventos que eram enxergados por eles como milagrosos serviram para reforçar o poder deste “novo Deus” que deveria ser seguido com exclusividade. Outros povos da região, que não vivenciaram este poder deste novo Deus, não se convenceriam tão facilmente a adotar o novo sistema de um Deus único e é provável ainda que, ao se misturarem, a influência destes povos fizesse grande parte dos israelitas voltarem à adoração dos múltiplos deuses, motivo pelo qual os espíritos que guiavam o povo de Israel proibiram a mistura de culturas. Na mentalidade daqueles tempos isto só poderia significar que todos os outros povos e culturas deveriam ser destruídos.

Nestas e em outras situações, em que a paz entre homens rudes não é possível, Deus permite que os homens façam guerra entre si, da mesma maneira que dois adultos podem permitir que duas crianças briguem (sem violência é claro) dizendo coisas do tipo: “estou de mau” ou “não quero mais ser seu amigo”, os adultos deixam de intervir porque sabem que este tipo de comportamento faz parte do aprendizado e do amadurecimento. Ao invés de tentar evitar e proibir que as crianças briguem (até porque seria quase impossível evitar que elas, mesmo após repreendidas, fizessem caretas e ficassem sem conversar uma com a outra) os adultos permitem que elas se expressem e soltem estas falas tipicamente infantis, dando ao mesmo tempo conselhos maduros e explicando que elas não devem brigar e que inevitavelmente elas logo farão as pazes. O resultado é que tendo liberdade para brigar e se arrepender elas logo percebem o comportamento tolo e resolvem sozinhas terminarem com a desavença, enquanto que se fossem proibidas de falar e se expressar ficariam com um sentimento repreendido uma contra a outra e a birra infantil tenderia a demorar mais tempo para acabar.

Esta analogia serve para que possamos entender que Deus em certas situações chega a permitir que a guerra aconteça, porque simplesmente não existe outra alternativa melhor, os seres humanos ignorantes como crianças birrentas não conseguem se comportar de outra maneira, mas Deus, assim como os pais das crianças briguentas, não possui nenhum apreço pela guerra, nunca vê nenhum tipo de guerra com bons olhos e, como os pais das crianças briguentas, espera também que seus filhos parem o mais rapidamente possível com o comportamento irracional.

Passados vários milênios e mesmo após a ampla divulgação dos ensinamentos de Cristo, a humanidade ainda vive promovendo guerras como nos tempos do velho testamento. Existem nações que se encontram em estado permanente de guerra a mais de 200 anos, sempre começando um novo conflito antes de ter encerrado o conflito anterior. São invasões catastróficas, golpes militares seguidos de repressões violentas (como a que aconteceu no Brasil por exemplo), bombardeios “cirúrgicos” que matam dezenas de milhares de civis, sem contar o apoio a ditadores e o financiamento de grupos de guerrilheiros no mundo todo. Os líderes de países como os EUA e também em menor escala os da Inglaterra, França, Rússia entre outros, estão a séculos promovendo todo tipo de conflitos sangrentos, e quase sempre estes líderes agem sem o apoio da maior parte da população destes países, e seja um pequeno bombardeio ou seja uma guerra mundial com até uma centena de milhão de mortos e ainda outras centenas de milhões de feridos, os motivos ocultos destas guerras são sempre os interesses econômicos de homens gananciosos e enlouquecidos pela cobiça que comandam os bastidores da política nestes países.

Qual seria a opinião do espiritismo a respeito deste tipo de guerra moderna?


Podemos relembrar a resposta à pergunta nº 745 de O Livro dos Espíritos:

“745. Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para proveito seu?  R.: Grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição.”

Até mesmo o hoje quase pacífico Japão, chegou a adotar por um tempo a filosofia imperialista europeia e durante o seu auge na 2ª guerra mundial esteve prestes a invadir a Índia, nesta ocasião Gandhi aconselhou que o povo indiano deveria simplesmente abandonar as áreas que fossem ocupadas para evitar serem forçados a fabricar armas para o Japão e, ao mesmo tempo, adotar também contra o Japão a mesma técnica de resistência pacífica que já adotavam contra a Inglaterra. Este comportamento pregado pelo líder indiano está de pleno acordo com o ideal cristão, onde a guerra nunca é aceitável em hipótese alguma. Agir com violência física contra um inimigo que deseja tomar bens materiais vai contra tudo o que ensinou Jesus, que entre outras coisas disse “Meu reino não é deste mundo”.

Quando uma nação é invadida por uma força estrangeira, as alternativas disponíveis são a aceitação pacífica ou então, caso decidamos não dar “a Cesar o que é de Cesar” a resistência, que pode ser pacífica ou violenta. Seguindo Jesus aprendemos também que “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” e então, seguindo Jesus, as únicas opções que restam para o cristão são a aceitação pacífica ou a resistência pacífica. Lembrando que, como cristãos, esta resistência deve ter como base a vontade de ajudar ao próximo e não uma vontade apenas egoísta de ver melhorada a sua condição de vida, mas sim a vontade de ver diminuída a opressão sobre os nossos irmãos. 

Citando mais uma vez Gandhi, o líder indiano disse certa vez que o corajoso não é aquele que promove uma ataque violento contra uma força opressora e em seguida corre para fugir da punição, mas sim aquele que tem a coragem de desobedecer uma lei injusta mostrando sua cara e ficar para sofrer a punição. Além desta questão moral (entre a coragem e a covardia) e além também do fato de ser inaceitável para o cristão a prática de qualquer violência, a resistência violenta também possui um outro problema: a manipulação política. 

Os grandes poderes que arquitetam golpes e invasões sempre possuem ao seu lado, além do poder militar, também o poder econômico e o controle da mídia, por este motivo os grupos que tentam resistir de forma violenta a uma invasão injusta acabam sempre sendo rotulados de terroristas ou de insurgentes (quando na verdade deveriam ser chamados de resistentes) apesar de sabermos que, ao longo da história, quem quase sempre praticou o terrorismo em larga escala foi o poder estabelecido e opressor que usa sempre de violência brutal para amedrontar e desencorajar as revoltas populares. 

Sendo assim, não só a resistência violenta é o caminho do covarde segundo Gandhi e também inaceitável segundo os ensinamentos cristãos, como também serve de justificativa para que os grupos poderosos cometam suas atrocidades sob o pretexto de “defesa do estado” ou “defesa da nação”. Ao final, para cada gota de sangue derramada pela resistência em nome de uma causa aparentemente justa, dez vezes mais sangue acaba sendo derramado pela repressão violenta praticada pelo poder instituído. Neste círculo vicioso de violência, a carga de culpa pelos crimes cometidos deve pesar não somente sobre o poder repressor mas também sobre aqueles que decidiram partir para a resistência violenta sabendo das consequências deste tipo de resistência.

Seria muito perigoso anunciarmos para todo mundo que temos o costume de dormir com as portas abertas e não nos preocupamos com possíveis ladrões em nossa casa, assim como também é muito perigoso no mundo atual qualquer país não manter exércitos bem treinados e prontos para combater. Mas a resistência violenta é sempre a pior opção, seja ao surpreender um ladrão dentro de casa ou ao ter o país invadido por uma força estrangeira. 

Por outro lado, no mundo atual, onde a opinião pública exerce uma influência fundamental sobre as ações governamentais, seria extremamente embaraçoso para os governantes gananciosos destes países que planejam invasões e golpes se, ao invés de uma resistência violenta, a população inteira de uma nação invadida resolvesse abandonar o pais, deixando todo o objeto da cobiça à disposição do invasor, como nos ensinou Jesus “E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;” (Mateus 5:40), imaginem quanto tempo duraria a invasão e como seria embaraçoso se 100% da população do Iraque por exemplo tivesse abandonado o país e dito “podem ficar com este petróleo, não vamos brigar por ele” e a ocupação ocorresse sem nenhum tiro disparado e sem nenhuma resistência.

Oferecer a outra face é muito melhor do que resistir contra quem age com violência, mostrando que não possuímos nenhuma intenção de sujar as mãos de sangue para brigar por bens materiais a vergonha da guerra acaba recaindo toda sobre o agressor, o discurso do bom moço ou “o lado do bem” ou o suposto papel de “polícia do mundo” fica insustentável. 

Chegará o dia num futuro não muito distante, em que um os líderes de um país começarão a arquitetar uma invasão a um país mais fraco sob um pretexto qualquer e (como sempre acontece) estarão na verdade de “olhos grandes” em alguma riqueza material do país a ser invadido. A população deste país que será invadido, comandada por algum líder realmente cristão, dirá então: “Podem vir e levar tudo, nós nos recusamos a pegar em armas por causa de qualquer riqueza material”, cairá então a mascará do “lado do bem” e os líderes do país invasor então enfrentarão grande desaprovação interna, a população deste país invasor marchará nas ruas contra a guerra, muitos soldados desertarão e ficará muito difícil conseguir novos recrutas para a invasão. A pressão da opinião pública fará com que os interesses econômicos que financiariam a guerra decidam retirar o seu apoio e os planos de invasão serão então abandonados. E quando outros líderes de outros países também resolverem copiar esta atitude e disserem ao seu povo que “deixem levar” finalmente humanidade poderá deste dia em diante viver sem guerras.

Muito se especula sobre quando a humanidade poderá finalmente viver em paz e quando as guerras deixarão de existir, e procura-se então uma “formula mágica da paz”, sendo que a resposta mais natural que temos é que as guerras deixarão de existir quando acabar também a ganância humana. Mas Jesus nos ensinou há 2000 anos um caminho mais rápido, pois se conforme o ditado popular “quando um não quer, dois não brigam” então “Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E, se alguém quiser processá-lo e tirar de você a túnica, deixe que leve também a capa.” (Mateus 5:39-40)

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