quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Voto de Riqueza



Voto de Riqueza

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7:15-16)

Cristo nos avisou de que haveriam falsos profetas, ou seja, pessoas que apareceriam pregando em nome de Deus, mas que na verdade não possuem a divulgação do evangelho para promover o amor ao próximo e a felicidade das pessoas como interesse principal, mas, pelo contrário, interesses principalmente egoístas, como promover a si mesmo e tirar vantagem desta posição de destaque.

Todos conhecemos exemplos modernos dos que poderíamos chamar de falsos profetas, os líderes sensacionalistas que promovem milagres em massa transmitidos ao vivo pela televisão enquanto pedem doações sem parar e os religiosos que fizeram voto de pobreza e mesmo assim vivem cercados de luxo são alguns dos principais exemplos. 

A principal acusação que se faz a qualquer pessoa que resolva se dedicar a transmitir a palavra de Deus é mesmo a cobiça pessoal, seja ela uma pessoa bem ou mal intencionada, a principal acusação dos seus adversários será sempre o apego ao dinheiro e à vida de luxos, mesmo que a pessoa seja na verdade simples e humilde. Por isso a pessoa bem intencionada que resolva tentar transmitir o evangelho para um grande número de pessoas através dos meios de comunicação ou que possua uma posição de destaque numa organização religiosa deve tomar alguns cuidados para não causar uma impressão errada a pessoas menos informadas. Alguns destes cuidados podem até ser considerados difíceis de serem seguidos ou então parecerem mais uma auto punição, mas eles possuem o potencial de mostrar o verdadeiro desinteresse daquele que resolve assumir a posição divulgador da doutrina que prega o amor ao próximo e a humildade.

Poderia por exemplo o divulgador do evangelho obter renda de sua atividade religiosa para proveito pessoal?

Primeiro devemos lembrar que Alan Kardec, Chico Xavier e até mesmo Jesus trabalharam e mantiveram seu próprio sustendo quase que durante a vida toda, provando que cumprir uma grande missão e trabalhar duro para gerar seu próprio sustendo é perfeitamente possível. 

Utilizar qualquer renda proveniente de qualquer atividade ligada à divulgação do evangelho em proveito pessoal não é somente uma fonte imensa de desconfiança como também um perigo. Devemos sempre nos lembrar da nossa condição de espíritos imperfeitos e sujeitos sempre a errar e, no caso de não possuirmos uma fonte totalmente separada de sustendo próprio, a vontade natural de melhorar de vida pode em determinado momento acabar se misturando com a nossa vontade de trabalhar em atividades de ajuda ao próximo e divulgação da palavra de Deus. Com esta mistura de rendas e de interesses particulares com interesses altruístas o divulgador do evangelho corre o grave risco de se transformar em um comerciante ou negociador do evangelho e acabar, por exemplo, dando preferência, mesmo que inconscientemente,  pela divulgação dos seus trabalhos através dos meios que lhe trazem melhor retorno financeiro, ao invés de dar preferência aos veículos de divulgação que atinjam maior número de pessoas ou então naqueles em que exista garantia maior de que seus ensinamentos não serão distorcidos.

Alan Kardec em O Livro dos Médiuns  informa que: “O médium que, com um fim eminentemente sério e útil, se achasse impedido de empregar o seu tempo de outra maneira e, em conseqüência, se visse exonerado, não deve ser confundido com o médium especulador, com aquele que, premeditadamente, faça da sua mediunidade uma indústria. Conforme o motivo e o fim, podem, pois, os Espíritos condenar, absolver e, até, auxiliar. Eles julgam mais a intenção do que o fato material.” E também o espírito André Luiz no livro Conduta Espírita nos informa que o espírita deve: “Jamais prevalecer-se das possibilidades de que disponha no movimento espírita para favoritismos e vantagens na esfera profissional. Quem engana a própria fé, perde a si mesmo.” Podemos concluir então que a obtenção de qualquer renda ou benefício pessoal vinda de atividade religiosa deve ser evitada o máximo possível, demonstrando a capacidade de exercer dupla atividade (a profissional e também a religiosa da qual não obtém nenhum proveito) o obreiro do bem dá exemplo de desprendimento e dedicação.

O divulgador do evangelho, após assumir publicamente esta posição, pode continuar a progredir a expansão do seu patrimônio pessoal? 

A expansão do patrimônio pessoal de uma pessoa nesta posição será sempre fonte de desconfiança, tanto de seus seguidores como principalmente de seus adversários. Por melhor que sejam as intenções desta pessoa, a sua fortuna pessoal, ou até mesmo uma pequena melhoria no seu padrão de vida, será sempre uma inesgotável fonte de críticas e ataques pessoais. O divulgador da doutrina do amor e do desapego aos prazeres materiais deve sempre tentar enxergar a si mesmo pelos olhos das pessoas para as quais ele se expõe e tentar entender que, sob o ponto de vista de um irmão ignorante, qualquer melhoria no seu padrão de vida pode ser interpretada como charlatanismo. Ao demostrar possuir uma vida confortável, o divulgador do evangelho pode acabar afastando pessoas de bem, realmente interessadas em aprender os ensinamentos de cristo, mas que não conseguiram vencer a barreira da desconfiança; ao mesmo tempo em que pode acabar atraindo para perto de si pessoas que na verdade invejam o seu estilo de vida e suas conquistas materiais e erroneamente passam a enxergar na sua doutrina uma ferramenta de progresso material, ao invés de uma doutrina libertadora que visa apenas o progresso moral.

O simples apego às riquezas materiais também é uma fonte de perturbação que pode se colocar como um obstáculo aos trabalhos de evangelização, Jesus nos ensinou que não se pode “servir a Deus e a Mamom.”, lição esta explicada com detalhes no capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, esta afirmação que se pode fazer a respeito do apego ao dinheiro também poderíamos fazer em relação aos prazeres da comida ou do sexo, nenhuma destas coisas é essencialmente má, mas o apego a qualquer uma delas é uma fonte natural de perturbação.

E quanto ao divulgador do evangelho que já era relativamente rico no momento em que assumiu esta posição?

Vamos nos lembrar de que Alan Kardec renunciou ao prestigio e ao conforto da vida acadêmica, assim como Bezerra de Menezes renunciou à vida confortável de médico e São Francisco renunciou à nobreza entre muitos outros exemplos nobres, é claro que não podemos exigir o mesmo sacrifício de todos, mas estes sacrifícios com certeza têm o potencial de demonstrar superioridade moral e a fé verdadeira daquele que divulga o caminho para as riquezas do reino dos céus.

Na verdade qualquer minuto gasto em trabalhos em prol da divulgação do evangelho já representa uma renúncia de um tempo que poderia ser gasto em interesses pessoais, no mundo onde tempo é dinheiro, o tempo gasto visando o bem de nossos semelhantes significa que na verdade já estamos abrindo mão de algum tempo/dinheiro que poderíamos obter para nós mesmos.

Os espíritos que vêm à terra com uma missão de divulgação do evangelho frequentemente são beneficiados com bens materiais e acesso ao estudo e conhecimentos que nem sempre estão disponíveis para as classes mais pobres do nosso mundo injusto, estes empréstimos de Deus não são mais do que ferramentas para execução do trabalho, os espíritos sensatos se recusam a tirar proveito destas ferramentas e frequentemente gastam tudo o que possuem, além também de seu tempo e sua força de trabalho em atividades beneficentes por amor aos seus semelhantes mais humildes.

O divulgador do evangelho de cristo encontrará muitos adversários e por isso precisa estar sempre armado, armado de humildade e desprendimento, sempre pronto, por exemplo, a admitir estar errado sobre determinado assunto e aceitar uma nova ideia ou opinião divergente da sua, e também estar pronto para o sacrifício e a renúncia dos seus interesses pessoais. Uma vida de simplicidade é um escudo inviolável contra a maioria das acusações de que certamente será vítima, vale lembrar que Chico Xavier já foi até acusado de cobrar caro pelo “hot-dog” e pelo estacionamento próximo do local de seus trabalhos, mas a sua simplicidade gritava mais alto do que qualquer acusação.

Jesus e os apóstolos foram condenados à morte e também os cristãos dos primeiros tempos foram atirados aos leões no circo romano sem se desesperarem ou acharem que este era um sacrifício alto demais. Comparado a estes exemplos, o sacrifício de humildade imposto aos divulgadores do evangelho nos tempos modernos parece mesmo ser muito pequeno.

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