quinta-feira, 5 de junho de 2014

Umbral e a Transição Planetária


- Socorro, socorro… – soavam os gritos atrozes, aos quais se uniam os gemidos de verdadeira multidão tresloucada. Vamos fugir. Satanás está chegando com seus raios comburentes para nos queimar. Corramos rápido!
- Que nada, não temos o que fazer, aguentemos por mais tempo, que ele passa. Não adianta fugir… como estava escrito no Livro Sagrado, o inferno é um eterno queimar sem se consumir…
- Onde está o pastor que nos havia garantido que dormiríamos até o dia do Juízo?
- Acabei de vê-lo correndo com um grupo em busca de abrigo em alguma caverna, fugindo do calor insuportável.
Todos estes diálogos aconteciam entre os inumeráveis hóspedes daqueles sítios dantescos, transformados em área de reunião de entidades inferiores. Gritarias desesperantes, deslocamentos em massa, fugas em busca de sombra, sofrimentos multiplicados, seres desfigurados e sem comparativo na linguagem humana lá estavam, agoniados, clamando contra os elementos que os fustigavam, agitando-se contra as dores coletivas.
Entre seus membros, se encontravam aqueles que, na Terra, haviam sido responsáveis pelas quedas morais de muitos, os que haviam se locupletado com a dor e o sofrimento de seus semelhantes, as pessoas desonestas e interesseiras, indiferentes e cínicas, que nunca se deixaram tocar pelas noções espiritualizantes que melhorassem suas vidas através da prática do Bem.
Seres que ridicularizavam todos os conselhos sobre a modificação de comportamentos, a melhoria moral, o esquecimento dos males e o cultivo do perdão.
Os gastadores inveterados, cultivadores do luxo e dos modismos sem fim, dos esbanjadores das riquezas com os caprichos do mundo moderno, sem terem dado nenhum sentido de utilidade à própria vida lá estagiavam.
Também estavam cercados dos faladores da vida alheia, dos caluniadores, dos mentirosos, das almas belicosas e agressivas, dos malfeitores não arrependidos, dos governantes e autoridades corruptos, dos religiosos fanáticos e venais, dos infelizes viciados em todo o tipo de prazeres, fossem os químicos fossem os da conduta depravada.
Dos ricos debochados e dos pobres rebeldes, dos saudáveis gozadores e dos enfermos irreverentes e revoltados.
Os diversos comboios espirituais continuavam a trazer entidades recolhidas, as mais difíceis, endurecidas, sintonizadas com as malhas da ignorância, para as quais nunca fizera sentido a mais simples advertência a respeito de suas transformações morais.
Espíritos que carregavam neles as marcas dos próprios equívocos, e as características fluídicas daqueles que já não poderiam mais permanecer junto dos encarnados, nos processos de renovação da humanidade.
Por todas as maneiras e formas, caminhos e mídias, a palavra esclarecedora que convocava ao trabalho da última hora fora entoada e continuava a sê-lo. No entanto, mais do que entendê-la como algo sério, a maioria a ridicularizava, descrente das coisas elevadas do Espírito pelo entorpecimento de suas almas, acostumadas ao intenso gozo das coisas da matéria. Escutando as palavras de sacerdotes, pastores, monges, religiosos de todos os tipos, boa parte deles mais interessada nos bens materiais de seus fiéis, os diversos seguidores de religiões se deixavam afastar da essência dos conteúdos profundos encontrados nas palavras de Jesus, reduzindo a religião ao formalismo social e à prática interessada na solução de problemas materiais.
Sem maior profundidade de análise, a maioria descria simplesmente ou o praticavam de maneira superficial ou mística, buscando solução para problemas que eles próprios haviam engendrado.
As portas da Arca já estavam em adiantado estágio de fechamento, de maneira que muitos estariam impedidos de nela penetrar. E diferentemente do que falavam as antigas escrituras, já não se tratava mais de um navio de madeira. Agora, a verdadeira Arca era o próprio Planeta, e os que se candidatassem a nela permanecer, deveriam demonstrar a disposição através da mudança de suas vibrações pela alteração dos interesses imediatos e pela renovação de condutas.
Dores e dificuldades em avalanche aterradora surpreenderiam os gozadores e preguiçosos que, então, correriam a todas as igrejas com promessas de última hora e orações desesperadas, todas elas insinceras e motivadas, apenas, pelo temor.
Perceberiam, no entanto, que as portas da grande Arca Terrena já não mais estariam abertas para esse arrependimento improvisado, sem base na modificação sincera e na adesão do Espírito a novos valores.
Tragadas pelas circunstâncias, têm sido milhões de almas retiradas das zonas umbralinas e do seio dos próprios encarnados, aquelas sobre cuja fronte se encontra a marca da indiferença, do atraso, da inadequação para a nova ordem.
E era triste de se ver o oceano humano deslocando-se em massa de um lado para o outro, ora fugindo do calor ora do congelamento, suplicando um pouco de água ou se agarrando com o propósito de se aquecerem.
Nada disso, no entanto, alterava o estado mental de cada um, já que suas vibrações, hipnotizadas pela constante indiferença para com a elevação e a melhoria de sentimentos, fazia deles algozes uns dos outros. Verdadeiras feras que se mordiam, se violentavam, estabeleciam domínios pela agressividade com que defendiam seus limites, demonstrando que, não importava onde estivessem, seriam sempre os mesmos.
Nada de arrependimento, nenhum impulso de humilhação diante das próprias culpas. Somente revolta, blasfêmia e maldades espalhadas por todos os lados.
Livro Herdeiros do Novo Mundo, cap. 9, Espírito Lúcius – psicografia de André Luiz Ruiz.

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