quinta-feira, 20 de novembro de 2014

No Shopping Center

No Shopping Center

Homens e mulheres eram vistos em templos católicos fazendo promessas para, logo depois, ingressar em igrejas evangélicas ou templos espíritas para pedir as mesmas coisas. Boa parte deles solicitava de Deus favores que significariam a desgraça de outros, o atendimento de pedidos que visavam a prejudicar pessoas ou comunidades, o apadrinhamento de pretensões ilícitas ou o apoio para as apostas milionárias.

O panorama do mundo indicava, com raras exceções, que boa parte da humanidade não havia despertado para as realidades da evolução.
E se a rua demonstrava esse intercâmbio assustador entre vivos e mortos, a atmosfera dos grandes e bem ornamentados recintos comerciais da modernidade, os shoppings centers estilosos assustavam ainda mais.
Isso porque, se nas vias públicas se misturavam pessoas de todos os padrões sociais, boa parte das quais privadas de entendimento, de formação moral mais requintada ou mesmo de simples cultura escolar, os locais destinados ao caro comércio das tentações reuniam público bem mais apurado, favorecido pelos bens materiais e, de se supor, mais fino. Porém, os Espíritos que passeavam ao lado dos vivos do corpo eram mais grotescos que os das ruas.
De um lado, as belas vitrines com os arranjos sedutores, bens e ofertas provocadoras. Do outro, seres humanos invigilantes e distraídos, desatrelados de um pensamento nobre, emitindo as formas-pensamento grotescas, acoplados a companhia inferior e mais perigosa do que aquelas que eram vistas nas vias públicas. Lá fora, violência e agressividade uniam as duas humanidades. Aqui dentro, astúcia, malícia, cobiça e maldade refinada eram a marca das almas perturbadoras que se uniam aos sócios de carne, em laços que eram ainda mais profundos e intensos.
Observava-se uma simbiose perfeita em que ambos demonstravam a mesma vontade, e o encarnado não saberia afirmar se se conduzia por si mesmo ou pela influência inferior com quem se harmonizava.
Ao se avaliar as condições pessoais dos frequentadores de tais ambientes, o que se podia perceber, sem muito esforço e com poucas exceções, era que a ambição, a inveja, a dependência da matéria, a crueldade, o egoísmo e toda corte de vícios e defeitos morais eram mais graves e patentes do que naqueles que perambulavam nos caminhos públicos.
Tanto nas ruas quanto nos centros comerciais, havia pessoas que fugiam à regra, capacitadas pelo próprio equilíbrio a se manter protegidas por bons pensamentos, nascidos de sua vigilância e por sua opção interior na direção de valores nobres. Ao redor delas, uma atmosfera diferenciada indicava a melhor condição pessoal, como uma impressão digital psíquica reveladora da vibração interior no bem.
No entanto, na maioria, o tumulto mental era a marca preponderante, transformando aquele ambiente de belezas materiais num pântano pestilento, no qual serpentes invisíveis deslizavam acompanhando homens e mulheres bem vestidos, compartilhando da cobiça e da astúcia, do egoísmo e do orgulho.
Não importava se visíveis ou invisíveis. Neles, a peçonha era um traço comum que se enraizava na mente cobiçosa. Em nenhuma parte a preocupação com Deus.
Na verdade, era a grande igreja da modernidade. Nichos de todos os tipos para atrair gostos variados onde cada “deus material” prometia coisas, e a massa dos fiéis a perambular pelos corredores em busca do deus que lhes satisfaria as buscas imediatas.
Para uns, era o deus da beleza, outros, o deus do prazer, outros, ainda, o deus da sedução e cada loja um local de culto onde o interessado depositava a sua doação e saía com a bênção que almejava.
E, nos corredores, criaturas insatisfeitas, infelizes, sonhadoras e ególatras, tentando satisfazer suas ânsias através da cobiça da compra, da ilusão do ter, do velho deus Mamon ou Baal dos tempos pagãos.
A cena bem representava a realidade, bastando que se contasse o número de vezes que qualquer um dos encarnados ia ao shopping e se comparasse ao tempo que gastava no exercício da própria crença, onde se ligavam a Deus no exercício da fé.
Um quadro social dessa natureza demonstrava enfermidade coletiva que contaminara boa parte das pessoas.
Compondo o mosaico da coletividade, somente reduzido número de criaturas atentas e vigilantes praticava a profilaxia da alma nos moldes recomendados pelo Cristo, superando suas limitações, esquecendo seus interesses imediatos, recusando-se a participar da ciranda da alucinação que envolvia as multidões.
Para essa minoria, a atmosfera do mundo materialista era hostil porquanto, já não mais participando de seus objetivos nem vibrando segundo as pressões da maioria, tais pessoas viviam rodeadas por loucuras e futilidades que se tornavam agressivas e injustas.
Em verdade, esse era e é o verdadeiro teste.
Somente com o embate entre os conceitos nobres e os preconceitos do mundo é que uma pessoa poderá dar mostras de que conseguiu reformar-se.
Livro No Final da Última Hora, cap. 7, Espírito Lúcius – psicografia de André Luiz Ruiz.

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