domingo, 8 de dezembro de 2013

Jesus na sessão espírita do Tabor

   Jesus na sessão espírita do Tabor



O erro da crítica está no confundir o bom e o mau, o que muitas vezes sucede pela má-fé de alguns e pela ignorância do maior número. (Allan Kardec)

As religiões, quaisquer que sejam, jamais ganharam qualquer coisa por sustentar erros manifestos. (Ary Lex)

O episódio é denominado, pelos biblicistas, de Transfiguração; embora tenha sido citado pelos Evangelhos sinóticos, ele não consta do de João; eis o que é dito na narrativa de Mateus:

Mt 17:1-9: “Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou à parte, sobre uma alta montanha. E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias conversando com ele. Então Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: 'Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias'. Ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saída da nuvem, disse: 'Este é meu Filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o!' Os discípulos, ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão. Jesus chegou perto deles e, tocando-os, disse: 'Levantai-vos e não tenhais medo'. Erguendo os olhos, não viram ninguém: Jesus estava sozinho. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes: 'Não conteis a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos'”. (Bíblia de Jerusalém, 1987).

Primeiramente, queremos deixar registrado que há algumas divergências nos textos bíblicos. Uma delas é a de que Mateus e Marcos dizem que tal acontecimento se deu “seis dias” depois (Mt 17,1; Mc 9,2), enquanto, a de Lucas afirma ter sido “oito dias” (Lc 9,28). Mais gritante ainda é o fato de Mateus e Lucas afirmarem que o rosto de Jesus foi que resplandeceu, ao passo que Marcos já diz ter sido o seu manto. Já Lucas é o único que menciona o assunto da conversa de Jesus com os espíritos Moisés e Elias, qual seja: “falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9,31); o silêncio dos outros dois nos causa estranheza. Isso tudo só vem depor contra a tese da inerrância bíblica, comum aos que se recusam a ver que os textos bíblicos muito têm de “inspiração” humana e pouco de divina.

O que exatamente ocorreu no monte Tabor – Vejamos quais foram os três fenômenos mediúnicos acontecidos no relato. Se Lucas descreveu corretamente os fenômenos, quando disse que “Pedro e os companheiros estavam pesados de sono. Ao despertarem, viram sua glória e os dois homens que estavam com ele” (Lc 9,32), por esse “pesados de sono” podemos classificá-los como de efeitos físicos, tendo como doadores do ectoplasma os discípulos Pedro, Tiago e João. Esclareça-se que é comum, nos fenômenos de materialização, a produção de “uma nuvem luminosa” no momento em que o ectoplasma se exterioriza do médium que, na maioria das vezes, já se encontra em sono profundo, exatamente como essas duas particularidades estão relatadas no passo. Coincidentemente, esses três discípulos também estiveram com Jesus na cura da filha de Jairo, vista como se estivesse morta (Mc 5,21-24.35-43).

1º – Transfiguração:

Foi o que aconteceu com Jesus, quando seu perispírito envolveu seu corpo físico numa luz radiante, pondo em evidência sua elevada condição espiritual. É bem provável ter sido usado o ectoplasma de Pedro, Tiago e João para se produzir esse fenômeno.

2º – Materialização:

Os dois protagonistas do evento foram Moisés e Elias, ao se materializarem para conversar com Jesus, fenômeno esse que pôde ser visto pelos três discípulos que o acompanhavam.

3º - Voz direta:

A voz que saiu da nuvem, certamente, trata-se de um fenômeno de voz direta, no qual algum ser espiritual, utilizando-se do ectoplasma, que se apresentava na forma de nuvem, produziu uma garganta ectoplasmática para dar sua mensagem, identificando a Jesus como o enviado de Deus, a quem todos deveriam ouvir.

Nestes tipos de fenômenos todos os que estiverem no ambiente ou local do acontecimento irão vê-los ou percebê-los, exatamente, porque se tratam de fenômenos de efeitos físicos.

O rei Saul e seu contato com Samuel desencarnado – No texto vemos claramente que a pessoa a quem atribuem a informação de que a comunicação com os mortos “é abominável ao Senhor”, vem pessoalmente, depois de morto, participar de uma sessão espírita. Essa participação de Moisés e o fato de Jesus ter tomado parte nela já são o suficiente para nós não termos a vedação da comunicação com os mortos como uma proibição divina, mas, sim, do próprio Moisés, fora, pois, da estreita visão dogmática, que a coloca como promanada do Criador.

Vejamos o passo bíblico sobre isso, o qual dividiremos em dois trechos:

Dt 18,9-12: “Quando entrares na terra que Iahweh teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas é abominável a Iahweh, e é por causa dessas abominações que Iahweh teu Deus as desalojará em teu favor.”

Dt 18,13-14: “Tu serás íntegro para com Iahweh teu Deus. Eis que as nações que vais conquistar ouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, isso não te é permitido por Iahweh teu Deus.”

A razão de o dividirmos se deve ao fato de que ninguém que usa tais determinações contra o Espiritismo é ético o suficiente para colocar os versículos 13 e 14, pelo simples motivo de que são eles que resumem tudo quanto Moisés estava querendo proibir seu povo de fazer; qualquer criança de maternal entende isso. Assim, fica claro que ele jamais condenou indiscriminadamente a comunicação com os mortos, como querem fazer crer os fanáticos, mas apenas aquelas que tinham por objetivo a adivinhação ou prognóstico de coisas futuras, de cunho meramente material. Um bom exemplo desse tipo de comunicação pode ser visto em 1Sm 28,3-25, quando Saul, primeiro rei de Israel, vai a Endor para, através da necromante, consultar-se com o espírito Samuel, sobre o que lhe aconteceria na guerra contra os filisteus, próxima a acontecer. Necromante é a pessoa que consulta os mortos para fins de adivinhação, exatamente o que havia sido proibido pelo legislador hebreu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário