PROLUSÃO
Tendo em vista o grave problema da obsessão, que aflige multidões e asinfelicita, o grupo que se afeiçoe a esse ministério de socorro a obsidiados e obsessores deve observar, pelo menos, os seguintes requisitos mínimos:
1) A equipe de trabalho:
Toda e qualquer tarefa, especialmente a que se destina ao socorro, exige equipe hábil, adredemente preparada para o ministério a que se dedica. O operário siderúrgico, a fim de poder executar o trabalho junto às
fornalhas de alta temperatura, resguardase, objetivando a sobrevivência, e adestra se, a benefício de resultados vantajosos. O tecelão preserva o aparelho respiratório com máscaras próprias e articula habilidades que desdobra, de modo a atender aos caprichos de padronagem, cor e confecção com os fios que lhe são entregues. O agricultor apreende os cuidados especiais de que necessitam o solo, a semente, a planta, a floração e o fruto, com o fito de recolher lucros no labor que enceta. O mestre, o cirurgião, o artista, o engenheiro, o expositor, o escrevente,
todos os que exercem atividades, modestas ou não, se dedicam com carinho e especializamse, adquirindo competência e distinção com o que se capacitam às compensações disso decorrentes. No que tange às tarefas da desobsessão, não menos relevantes são os valores e qualidades especiais exigíveis, para que se logre êxitos. Nos primeiros casos, necessitase de fatores materiais, intelectivos e artísticos, inerentes a cada indivíduo que se dedica ao mister, seguindo a linha vocacional que lhe é própria ou estimulado pelas vantagens imediatas, através das quais espera rendas e estipêndios materiais. No último caso, devese examinar a transcendência do material em uso — sutil, impalpável, incorpóreo — a começar desde a organização mediúnica até as expressões de caráter moral das Entidades comunicantes.
A equipe que se dedica à desobsessão — e tal ministério somente é credor de fé, possuidor de valor, quando realizado em equipe, — que a seu turno se submete à orientação das Equipes Espirituais Superiores — deve estribarse numa série incontroversa de itens, de cuja observância decorrem os resultados da tarefa a desenvolver. O “milagre” tão amplamente desejado é interpretação caótica e absurda de
fatos coerentes, cuja mecânica escapa ao observador apressado. Não ocorre, portanto, uma vez que tudo transcorre sob a determinação de leis de superior contextura e de sábia execução. Assim, fazse imprescindível, na desobsessão, quando se pretende laborar em equipe:
a) harmonia de conjunto, que se consegue pelo exercício da cordialidade entre os diversos membros que se conhecem e se ajudam na esfera do quotidiano;
b) elevação de propósitos, sob cujo programa cada um se entrega, em regime de abnegação, às finalidades superiores da prática medianímica, do que decorrem os resultados de natureza espiritual, moral e física dos encarnados e dos desencarnados em socorro;
c) conhecimento doutrinário, que capacita os médiuns e os doutrinadores, assistentes e participantes do grupo a uma perfeita identificação, mediante a qual se podem resolver os problemas e dificuldades que surgem, a cada
instante, no exercício das tarefas desobsessivas;
d) concentração, por meio de cujo comportamento se dilatam os registros dos
instrumentos mediúnicos, facultando sintonia com os comunicantes, adredemente trazidos aos recintos próprios para a assistência espiritual;
e) conduta moral sadia, em cujas bases estejam insculpidas as instruções evangélicas, de forma que as emanações psíquicas, sem miasmas infelizes, possam constituir plasma de sustentação daqueles que, em intercâmbio, necessitam dos valiosos recursos de vitalização para o êxito do tentame;
f) equilíbrio interior dos médiuns e doutrinadores, uma vez que, somente aqueles que se encontram com a saúde equilibrada estão capacitados para o
trabalho em equipe. Pessoas nervosas, versáteis, susceptíveis, bem se depreende, são carecentes de auxílio, não se encontrando habilitadas para mais altas realizações, quais as que exigem recolhimento, paciência, afetividade, clima de prece, em esfera de lucidez mental. Não raro, em pleno serviço de socorro aos desencarnados, soam alarmes solicitando atendimento aos membros da esfera física, que se desequilibram facilmente, deixandose anestesiar pelos tóxicos do sono fisiológico ou pelas
interferências da hipnose espiritual inferior, quando não derrapam pelos desvios mentais das conjecturas perniciosas a que se aclimataram e em que se comprazem.
Alegam muitos colaboradores que experimentam dificuldades quando se dispõem à concentração. No entanto, fixamse com facilidade surpreendente nos pensamentos depressivos, lascivos, vulgares, graças a uma natural acomodação a que se condicionam, como hábito irreversível e predisposição favorável.
Parecenos que, em tais casos, a dificuldade em concentrarse se
refere às idéias superiores, aos pensamentos nobres, cujo tempo mental para estes reservado, é constituído de pequenos períodos, em que não conseguem criar um clima de adaptação e continuidade, suficientes para a elaboração de um estado natural de elevação espiritual;
g) confiança, disposição física e moral, que são decorrentes da certeza de que os Espíritos, não obstante, invisíveis para alguns, se encontram presentes, atuantes, a eles se vinculando, mentalmente, cm intercâmbio psíquico eficiente, de cujos diálogos conseguem haurir estímulos e encorajamento para o trabalho em execução. Outrossim, as disposições físicas, mediante uma máquina orgânica sem sobrepeso de repastos de digestão difícil,
relativamente repousada, pois não é possível manterse uma equipe de
trabalho dessa natureza, utilizandose companheiros desgastados, sobrecarregados, em agitação;
h) circunspeção, que não expressa catadura, mas responsabilidade, conscientização de labor, embora a face desanuviada, descontraída, cordial;
i) médiuns adestrados, atenciosos, que não se facultem perturbar nem perturbem os demais membros do conjunto, o que significa adicionar, serem disciplinados, a fim de que a erupção de esgares, pancadas, gritarias não transforme o intercâmbio santificante em algaravia desconcertante e embaraçosa. Ter em mente que a psicofonia é sempre de ordem psíquica, mediante a concessão consciente 2 do médium, através do seu perispírito, pelo qual o agente do alémtúmulo consegue comunicarse, o que oferece ao sensitivo possibilidade de frenar todo e qualquer abuso do paciente que o utiliza, especialmente quando este é portador de alucinações, desequilíbrios e descontroles de vária ordem, que devem, de logo, ser corrigidos ou pelo menos diminuídos, aplicandose a terapêutica de
reeducação;
j) lucidez do preposto para os diálogos, cujo campo mental harmonizado deve oferecer possibilidades de fácil comunicação com os Instrutores Desencarnados, a fim de cooperar eficazmente com o programa em pauta, evitando discussão infrutífera, controvérsia irrelevante, debate dispensável ou informação precipitada e maléfica ao atormentado que ignora o transe grave de que é vítima, em cujas teias dormita semihebetado, apesar da
ferocidade que demonstre ou da agressividade •de que se revista;
k) pontualidade, a fim de que todos os membros possam ler e comentar em esfera de conversação edificante, com que se desencharcam dos tóxicos
físicos e psíquicos que carregam, em conseqüência das atividades normais; e procurarem todos, como leciona Allan Kardec, ser cada dia melhor do
que no anterior, e de cujo esforço se credenciam a maior campo de sintonia elevada, com méritos para si próprios e para o trabalho no qual se empenham... Claro está que não exaramos aqui todas as cláusulas exigíveis a uma tarefa superior de desobsessão, todavia, a sincera e honesta observância destas darão qualidade ao esforço envidado, numa tentativa de cooperação com o Plano Espiritual interessado na libertação do homem, que ainda se demora atado às rédeas da retaguarda, em lento processo de
renovação. 3
2) O obsessor:
O Espírito perseguidor, genericamente denominado obsessor, em verdade é alguém colhido pela própria aflição. Extranseunte do veículo somático, experimentou injunções que o tornaram revel, fazendo que guardasse nos recessos da alma as aflições acumuladas, de que não se conseguiu liberar sequer após o decesso celular. Sem dúvida, vítima de si mesmo, da própria incúria e invigilância,
transferiu a responsabilidade do seu insucesso a outra pessoa que, por circunstância qualquer, interferiu decerto negativamente na mecânica dos seus malogros, por ser mais fácil encontrar razões de desdita em mãos de algozes imaginários, a reconhecer a pesada canga da responsabilidade que deve repousar sobre os ombros pessoais, como conseqüência das atitudes infelizes a que cada um se faz solidário. Perdendo a
indumentária fisiológica mas, não o uso da razão — embora normalmente deambulando na névoa da inconsciência, com os centros do discernimento superior anestesiados pelos vapores das dissipações e loucuras a que se entregou — imanta se por processo de sintonia psíquica ao aparente verdugo, conservando no íntimo as matrizes da culpa, que constituem verdadeiros “plugs” para a sincronização perfeita entre a mente de quem se crê dilapidado e a consciência dilapidadora, gerando, então, os pródromos do que mais tarde se transformará em psicopatia obsessiva, a crescer na direção infamante de conjugação irreversível. Ocorrências há, de agressão violenta, pertinaz, dominadora, pela mesma mecânica psíquica, em que o enfermo tomba inerme sob a dominação mental e física do subjugador. Pacientemente atendidos, nos abençoados trabalhos de desobsessão, nos quais se lhes desperta a lucidez perturbada, concitandoos ao avanço no rumo da
felicidade que supõem perdida, facultaselhes entender os desígnios sublimes da Criação, convidandoos a entregarem os que se lhes fizeram razão de sofrimento à Consciência Universal, de que ninguém se evade, e tratando de reabilitarse, eles mesmos, ante as oportunidades ditosas que fluem e refluem através do tempo, esse grandioso companheiro de todos. Em outros casos, — quando a fixação da idéia venenosa produziu dilacerações nos tecidos muito sutis do perispírito, comprometendo o reequilíbrio que se faria necessário para a libertação voluntária do processo obsessivo, o que ocorre com freqüência, — os Instrutores Espirituais, durante o transe psicofônico, operam nos centros correspondentes da Entidade, produzindo estados de demorada hibernação pela sonoterapia ou utilizandose de outros processos não menos eficientes, para ensejarem a recomposição dos centros lesados, após o que despertam para as cogitações enobrecedoras. Na maioria dos labores de elucidação, podemse aplicar as técnicas de
regressão da memória no paciente espiritual, fazendose que reveja os fatos a que se vincula, mostrandolhe a legítima responsabilidade dele mesmo, nos acontecimentos de que se diz molesto, após o que percebe o erro em que moureja, complicando a atualidade espiritual que deve ser aproveitada para reparo e ascensão, jamais para
repetições de sandices, pretextos de desídia, ensejos de desgraças... Obsessores, sim, os há, transitoriamente, que se entregam à fascinação da maldade, de que se fazem cultores, enceguecidos e alucinados pelos tormentosos desesperos a que se permitiram, detendose nos eitos de demorada loucura, em que a consciência açulada pelos propósitos infelizes desvia o rumo das cogitações para
reterse, apenas, na angulação defeituosa do sicário — verdugo impiedoso de si mesmo — pois todo o mal sempre termina por infelicitar aquele que lhe presta culto de subserviência. Tais Entidades — que oportunamente são colhidas pelas sutis
injunções da Lei Divina — governam redutos de sombra e viciação, com sede nas Regiões Tenebrosas da Erraticidade Inferior, donde se espraiam na direção de muitos antros de sofrimento e perturbação na Terra, atingindo, também, vezes muitas, as mentes ociosas, os espíritos calcetas, os renitentes, revoltados, cômodos e
inúteis, por cujo comércio dão início a processos muito graves de obsessão de longo curso, que se estende em conúbio estreito, cada vez mais coercitivo, inclusive após a morte física dos tecidos orgânicos, quando o comensal terreno desencarna. Reunidos em magotes, momentaneamente ferozes, se disputam primazia como sói acontecer entre os homens de instintos primitivos da Terra, nos combates de extermínio, em que os próprios comparsas se encarregam de autodestruirse, estimulados por ambições que culminam na vanglória da ilusão que se acaba, estando sempre atormentados pelas lucubrações de domínio impossível, face à carência de forças para se dominarem a si mesmos. Exibindo multiface de horror, com que aparvalham aqueles com os quais se homiziam moral e espiritualmente, acreditamse, por vezes, tal a aberração a que se entregam, pequenos deuses em competição de força para assumirem o lugar de Deus. Trazendo no substrato da consciência as velhas lendas religiosas do Inferno eterno, das personificações demoníacas e diabólicas, crêemse tais deidades
irremediavelmente caídas, estertorando, em teimosa crueldade, por assumirlhes os
lugares... Expressivo número deles, esses irmãos marginalizados por si mesmos do caminho redentor — que são, todavia, inconscientes instrumentos da Justiça Divina que ignoram e pensam desrespeitar — obsidiam outros desencarnados que se
convertem em obsessores, a seu turno, dos viajantes terrenos, em processo muito complexo de convivência e exploração fisiopsíquica. Todos, porém, todos eles, nossos irmãos da retaguarda espiritual, — onde possivelmente já estivemos também, — são necessitados de compaixão e misericórdia, de intercessão pela prece e oferenda dos pensamentos salutares de todos os que se encontram nas lídimas colméias espiritistas de socorro desobsessivo, ofertandolhes o pábulo da renovação e a rota luminescente para a nova marcha, como claro sol de discernimento íntimo para a libertação dos gravames sob os quais expungem os erros em que incidiram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário